Andréa Barretto
Aproximadamente 1.000 militares do Exército do Brasil marcaram presença em toda a faixa de fronteira do estado de Roraima com a Venezuela e a Guiana, entre os dias 14 e 25 de outubro. O motivo foi a realização da sétima edição da Operação Curare nesse estado nortista.
Com o objetivo de combater ilícitos transfronteiriços e crimes ambientais, os militares se espalharam por cerca de 1.922 quilômetros de extensão, focados em atividades tanto de caráter repressivo quanto preventivo.
No balanço final da operação, foram cumpridas 4.243 vistorias de veículos nas estradas de Roraima e 382 revistas de pedestres e pessoas com bicicleta, além de oito patrulhas terrestres e nove patrulhas aéreas. Entre outros resultados, esses esforços culminaram com a apreensão de drogas, armas, um caminhão carregado com madeira e veículos. Um homem foi preso em atividade de garimpo ilícito e 21 imigrantes ilegais foram identificados e deportados do país.
Em relação às ações ambientais, destaca-se a atuação dentro dos limites da Terra Indígena Yanomami, onde foram destruídos 18 balsas, oito motores e seis geradores de energia usados no garimpo ilegal, além da apreensão de 123 gramas de ouro. Esta área indígena ocupa quase a totalidade da franja fronteiriça do estado de Roraima.
“Nossos objetivos foram plenamente atingidos na operação, não só pelos números, que demonstram uma diminuição de delitos na capital roraimense, mas também pelos resultados intangíveis de sensação de segurança em toda a região da fronteira”, avaliou o Major Rodrigo Luiz Soares Evangelista, Oficial de Comunicação Social da 1ª Brigada de Infantaria de Selva, também conhecida como Brigada Lobo D’Almada.
Operação Curare
A 1ª Brigada de Infantaria de Selva é a responsável pela coordenação da Operação Curare, que tem como característica a parceria com diversos órgãos governamentais e não governamentais. “Chamamos de operação interagências porque convocamos as agências que desejam participar da ação, colaborando dentro de suas especificidades ou até mesmo apresentando demandas para serem somadas à operação”, explicou o Maj Rodrigo Luiz.
Nesta sétima edição da Curare em Roraima, atuaram 20 organismos parceiros, a exemplo da Polícia Rodoviária Federal – responsável pela fiscalização das estradas – e do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis nas atividades de proteção ao meio ambiente. “O trabalho interagências é extremamente produtivo, pois os resultados são potencializados quando cada um realiza sua missão dentro de suas especificidades”, acrescentou o Maj Rodrigo Luiz.
Atenção à saúde e prestação de serviços sociais
Os homens que participaram da Operação Curare VII foram provenientes de todos os quartéis de Boa Vista, capital de Roraima, e do 1º Batalhão de Infantaria de Selva de Manaus, capital do estado do Amazonas. Para dar conta das atividades em uma extensão de terra tão grande, foram usados dois helicópteros e 10 embarcações, além de veículos de transporte terrestre.
Enquanto a maioria dos militares se dedicava às missões de defesa e segurança, outra parte estava empenhada nas ações cívico-sociais.
Durante a operação, houve a prestação de serviços de saúde a 16 comunidades indígenas da região. Ao final dos 12 dias da Curare, foram realizados 579 atendimentos médicos e 801 atendimentos odontológicos, além de 1.383 consultas de cunho preventivo, com esclarecimentos sobre cuidados básicos com a saúde. A população também recebeu 1.593 medicamentos.
“As principais queixas de saúde dessa população são ginecológicas, pediátricas e oftalmológicas”, contou o Tenente Coronel Alessandro Lima Marques, oficial de logística da Brigada Lobo D’Almada.
Os atendimentos foram realizados em parceria com os agentes de saúde do estado de Roraima, aproveitando a estrutura física de postos e hospitais, segundo detalhou o Ten Cel Alessandro. “As comunidades desses locais são carentes de muitos serviços. Naquelas de mais difícil acesso, onde não existe essa estrutura, montamos abrigo para poder tornar o atendimento possível”, acrescentou.
Além de atenção à saúde, os militares colaboraram com a construção e recuperação de pontes e estradas nas comunidades indígenas. O serviço foi feito por homens do 6º Batalhão de Engenharia de Construção.
1ª Brigada de Infantaria de Selva
De acordo com a sua própria página na Internet, a 1ª Brigada de Infantaria de Selva tem a missão de “proteger o Estado brasileiro, prioritariamente em Roraima, em destaque a área de fronteira, contribuindo para o desenvolvimento regional, conforme estabelecido em lei”.
Dentre as principais ações realizadas pela brigada com esse objetivo estão as operações Curare e Curaretinga, esta última de menor escala. Elas foram criadas logo após a promulgação da Lei complementar 136/2010, que alterou a lei complementar anterior, estabelecendo como atribuição subsidiária das Forças Armadas a atuação “por meio de ações preventivas e repressivas, na faixa de fronteira terrestre, no mar e nas águas interiores, independentemente da posse, da propriedade, da finalidade ou de qualquer gravame que sobre ela recaia, contra delitos transfronteiriços e ambientais, isoladamente ou em coordenação com outros órgãos do Poder Executivo”
São considerados ilícitos transfronteiriços aqueles que ultrapassam os limites territoriais de um único país. Atento à importância do enfrentamento desse problema, o governo brasileiro lançou em 2010 o Plano Estratégico de Fronteiras, que reúne ações destinadas ao fortalecimento da prevenção, controle, fiscalização e repressão dos delitos transfronteiriços, por meio da atuação integrada dos órgãos de segurança pública, da Secretaria da Receita Federal e das Forças Armadas. A Operação Ágata, a mais abrangente entre as ações de fronteira realizadas pelas Forças Armadas, é um dos principais frutos do Plano Estratégico de Fronteiras, e a Operação Curare segue o padrão desse tipo de ação.