As companhias americanas que esperam usar drones para entregar pequenos pacotes estão enfrentando dificuldades técnicas, como a duração da bateria dos aparelhos e condições adversas do tempo, que são tão incômodas quanto as limitações regulatórias impostas pelo governo.

Empresas de varejo e de transporte como Amazon.com Inc., Alibaba Group Holding Ltd. e Deutsche Post DHL AG estão entre as maiores entusiastas dos drones, apostando que as pequenas aeronaves não tripuladas podem transformar seus negócios. Mas problemas como a breve duração das baterias e sistemas imprecisos de localização indicam que pode levar anos até que exércitos de drones substituam os caminhões de entregas da FedEx e da UPS.

Drones para a entrega de encomendas “são absolutamente viáveis, mas há muitos obstáculos técnicos que precisam ser superados”, diz Nicholas Roy, professor de robótica do Instituto de Tecnologia de Massachusetts, o MIT, e ex-chefe do projeto de drones do Google Inc. “Estamos bastante na fase de protótipo.”

A FedEx Corp. e a United Parcel Service Inc.,  as duas maiores empresas de entregas expressas dos Estados Unidos, afirmam que a tecnologia está longe do estágio comercial. “Ainda há várias razões por que os drones não são uma tecnologia viável no momento”, afirmou a UPS em fevereiro.

Segundo especialistas, o maior desafio é a duração da bateria. Assim como fabricantes de laptops, smartphones e carros elétricos, os de drones estão tentando concentrar mais energia em baterias menores. A questão é especialmente complicada no caso dos drones: quanto maior o pacote a ser entregue, mais energia é necessária para fazê-lo voar.

A Amazon quer que seus drones carreguem até 5 libras (cerca de 2,3 quilos) em um trajeto de até 20 milhas ida e volta (32 quilômetros). Isso hoje é impossível com o protótipo de oito rotores exibido pela Amazon no fim de 2013, diz Raffaello D’Andrea, professor de robótica da universidade de engenharia ETH Zurich, na Suíça, e um dos inventores dos robôs usados pela Amazon nos seus centros de distribuição.

Uma alternativa é a abordagem que o Google apresentou em agosto — um drone híbrido com propulsores e asas que decola como um helicóptero e plana como um avião, ampliando seu alcance. Mas por ora esse design não é tão resistente ao vento e é menos ágil e confiável que o drone do tipo helicóptero. O Google afirmou recentemente que descartou esse design porque era muito difícil controlar o aparelho.

 

Na semana passada, a Amazon recebeu aprovação da Administração Federal de Aviação dos EUA (FAA, na sigla em inglês) para testar seus drones em espaços abertos. A empresa desenvolveu mais de dez aeronaves no seu projeto chamado Prime Air.

“Não vamos lançar o Prime Air até que sejamos capazes de demonstrar a segurança da operação.”, disse Gur Kimchi, vice-presidente do Amazon Prime Air, por meio de um comunicado.

Especialistas dizem que um grande desafio é garantir que os drones façam entregas sem incidentes em praticamente 100% das vezes. Para serem comercialmente viáveis, esses drones precisam ser baratos, dizem desenvolvedores, e excepcionalmente confiáveis para obterem a aprovação dos reguladores e do público.

E há a questão de como entregar os pacotes. Algumas empresas têm testado deixá-los na porta dos consumidores e outras têm tentado baixá-los num cabo. Mas os dados de sistemas globais de posicionamento podem ser imprecisos, a ponto de levar o drone para a casa errada.

Uma pessoa a par dos planos da Amazon diz que, para simplificar a entrega, os drones da empresa poderiam deixar os pacotes em depósitos trancados, onde os consumidores poderiam retirá-los por meio de códigos enviados pela empresa.

Cada drone também teria que voar de forma autônoma, o que exige sensores e software capazes de mapear o ambiente em três dimensões e dirigir o aparelho durante o voo. Essa tecnologia ainda não está disponível, mas empresas como Intel Corp.  e Qualcomm Inc.  afirmam que estão perto de resolver a questão.

Os reguladores não devem permitir o uso de drones para entregas enquanto essas limitações técnicas não forem superadas. Em fevereiro, a FAA propôs regras que exigem um piloto para monitorar cada drone, limitam os voos a uma área sob o alcance da vista do operador e proíbem os aparelhos de voar sobre pessoas. As regras devem ser concluídas em 2016 e não permitirão que os drones carreguem “carga externa”.

A FAA afirmou que deve permitir o voo de drones além do campo de visão dos operadores se as empresas provarem que possuem tecnologia confiável para evitar colisões. Não está claro se a agência consideraria o uso de operações em larga escala de drones autônomos supervisionados por poucas pessoas, como as empresas hoje vislumbram.

Apesar disso, as empresas estão seguindo em frente. A Amazon e o Google vêm trabalhando em drones que poderiam entregar pequenos pacotes em até 30 minutos. Um drone da DHL entregou remédios no Mar do Norte e o Alibaba, gigante chinês do comércio eletrônico, entregou chá usando drones em fevereiro.

“A tecnologia é desafiadora, mas totalmente factível”, disse Jeff Bezos, diretor-presidente da Amazon, no ano passado.

D’Andrea, o especialista em robótica, estima que levaria cinco anos para desenvolver a tecnologia para uso de drones em larga escala. “As pessoas subestimam as dificuldades técnicas”, diz.