Pela segunda vez em menos de 30 dias, um aeroporto internacional em Londres foi temporariamente fechado por causa de drones vistos nas redondezas. Na quarta-feira (9), o aeroporto de Heathrow teve voos cancelados por cerca de uma hora em razão dos drones. Isso aconteceu poucos dias depois de o aeroporto de Gatwick ter sido fechado duas vezes em dezembro pelo mesmo problema, em uma delas por 36 horas, afetando mais de 100 mil pessoas.
Mas como um simples drone consegue atrapalhar o funcionamento de um grande aeroporto internacional? E quais são os riscos desses dispositivos voadores?
O que é um drone?
Para algumas pessoas, o termo "drone" traz à mente imagens de ataque aéreos – mas os sofisticados veículos aéreos não tripulados usados no campo de batalha são muito diferentes daqueles que levaram à paralisação dos aeroportos.
A maioria dos aparelhos voadores é, na verdade, composta por pequenos mini-cópteros manejados por controle remoto e muito usados por fotógrafos e aeromodelistas.
Esses pequenos aparelhos hoje se tornaram muito comuns e caíram no gosto do público, podendo ser comprados em qualquer loja de eletrônicos. Em geral, os preços podem ir de R$ 400 a mais de R$ 50 mil.
Drones também têm sido cada vez mais usados pela indústria, a exemplo dos segmentos de construção e de varejo.
Qual é o dano que um drone pode causar a um avião?
Em outubro de 2017, um drone colidiu com uma aeronave comercial no Canadá, atingindo uma das asas. Apesar do pequeno dano, o avião pousou em segurança.
Pesquisas sobre danos de drones a aviões ainda são restritas, mas diversas instituições testaram uma variedade de cenários e cada um parecia ter uma conclusão diferente.
Testes conduzidos na Universidade de Dayton, nos Estados Unidos, simularam uma colisão no ar entre um drone de 1kg e uma aeronave comercial viajando a 383 km/h e o resultado parecia não ser grave: a nave sofreria poucos danos.
Outra pesquisa da Aliança para Segurança de Sistemas Não-Tripulados com a Autoridade Federal de Aviação dos EUA sugeriu que drones poderiam infligir mais dano que uma eventual colisão da aeronave com pássaros. Além disso, as baterias de lítio que são usadas nos drones podem não ser destruídas com o impacto e acabar grudadas na superfície do avião, gerando um risco potencial de fogo.
O especialista em robótica Ravi Vaidyanathan, do Imperial College em Londres, disse à BBC que a ameaça de drones a aeronaves é pequena, mas não pode ser ignorada.
"A probabilidade de uma colisão é pequena, mas um drone poderia ser dragado por uma turbina [como é conhecido popularmente o motor]", afirma. "Um drone de mais de 2kg poderia quebrar o vidro da cabine para alguns tipos de aeronaves."
"Um drone parece frágil, mas a bateria é forte, e se você comparar um drone e um pássaro, o primeiro pode ser mais perigoso se passar pela turbina ou atingir a fuselagem", afirma Martin Lanni, presidente da empresa de segurança aérea Quantum Aviation.
De acordo com as autoridades britânicas de aviação, houve 92 episódios de aviões e drones quase colidindo em 2017.
No Brasil, segundo a FAB (Força Aérea Brasileira), o número de avistamentos – quando um avião detecta um drone e avisa a torre para garantir a segurança – foi de 15 em 2017, 18 em 2018 e um em 2019.
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Como os aeroportos podem se proteger?
No Brasil, as regras da Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) determinam que drones não podem chegar a menos de 5,4 km de um aeroporto, se estiverem voando a uma altura de até 30 metros.
Para voos mais altos, os drones precisam manter uma distância de pelo menos 9 km.
No Reino Unido, o limite é menor: é ilegal voar com um drone a menos de 1 km do aeroporto. Também é proibido voar acima de 120 metros de altura.
Especialistas afirmam que essa legislação pode ser pouco efetiva, pois aeronaves em procedimento de pouso podem voar abaixo de 120 metros.
E, claro, pessoas mal intencionadas podem simplesmente não respeitar a legislação – e podem ser responsabilizadas judicialmente por causa disso tanto, no Reino Unido quanto no Brasil.
Alguns sistemas são capazes de bloquear os sinais de rádio usados pelo controle remoto dos drones e já foram testados em algumas prisões, onde drones já foram usados para entregar contrabandos.
Também existem algumas opções mais sofisticadas – e caras – que usam radares, detectores de radio-frequência e câmeras para detectar drones próximos e descobrir de onde eles vêm (ou de onde são controlados).
Esse tipo de sistema é capaz de fazer uma interferência para um drone "pifar", mas isso pode ser arriscado.
Em teoria, os drones deveriam ter um sistema capaz de fazer com que voltassem para onde vieram ou pousassem com segurança – mas isso nao é garantido.
"O que não queremos é um monte de drones caindo do céu", diz Lanni.
Alguns softwares de controle de drones têm informações sobre localização de aeroportos e impedem que os aparelhos funcionem próximo a esses locais.
A DJI, uma das principais produtoras de drones do mundo, introduziu em 2013 um sistema de "geo-cerca" que impede que eles voem em zonas restritas em todos os seus produtos.
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Como pegar um drone?
Se interferência ou "geo-cercas" não funcionarem, há algumas opções mais radicais para derrubar os aparelhos.
As autoridades francesas já fizeram uma demonstração de como é possível usar um drone equipado com uma rede para capturar outro drone.
Lasers também são uma opção. Tanto os EUA quanto a China já fizeram testes com lasers antidrone, que conseguem atirar em um aparelho poucos segundos depois de localizá-lo.
As autoridades britânicas estão investigando os dois casos de drones que atrapalharam o funcionamento dos aeroportos de Gatwick e de Heathrow.
Para Iain Gray, diretor de estudos aeroespaciais da Universidade de Cranfield, qualquer que seja o resultado das investigações, a partir de agora os aeroportos serão forçados a levar mais a sério o potencial risco de segurança e funcionamento oferecido pelos drones.
"Os aeroportos estão cientes do problema e querem trabalhar próximo à academia para ajudar a criar a tecnologia necessária (para lidar com essa questão) no futuro", disse ele à BBC News.
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