Gordon Lubold
O Pentágono planeja aumentar drasticamente o número de voos com drones americanos nos próximos quatro anos, dando aos comandantes militares acesso a mais inteligência e mais poder de fogo para acompanhar o surgimento de múltiplos pontos de conflito ao redor do mundo, informou uma autoridade sênior de defesa.
O plano de aumentar em 50% o número de voos diários de drones ampliaria a vigilância e a coleta de dados pela inteligência em locais como Ucrânia, Iraque, Síria, o Mar do Sul da China e o Norte da África, disse a autoridade, que forneceu detalhes exclusivos sobro o plano ao The Wall Street Journal. Este será o primeiro aumento significativo do programa americano de drones desde 2011, refletindo a pressão sobre os esforços militares para solucionar uma série crescente de crises globais.
Ao expandir a vigilância, o Pentágono planeja também aumentar a capacidade de ataques aéreos letais, a parte mais controversa do programa americano de drones e de seu rápido crescimento no governo do presidente Barack Obama. Os ataques de aeronaves não tripuladas já mataram pelo menos 3 mil pessoas, segundo estimativas de grupos não partidários.
A Força Aérea agora realiza a maioria de voos de drones dos Estados Unidos, incluindo as missões secretas da Agência Central de Inteligência (CIA, na sigla em inglês) no Paquistão e Iêmen. Mas o novo plano contaria com o Exército, assim como com o Comando de Operações Especiais e fornecedores do governo.
A demanda por missões de inteligência e vigilância com aeronaves não tripuladas dos EUA tem crescido nos últimos dez anos. Em 2004, eram cerca de apenas cinco voos de drones diários.
O plano do Pentágono requer a expansão do atual número de voos diários — medido pelas chamadas patrulhas de combate aéreo — de 61 para até 90 em 2019.
Drones como o MQ-1 Predator e seu novo primo de longo alcance, o MQ-9 Reaper, fornecem vídeos em tempo real aos comandantes e analistas de inteligência que usam dados para rastrear e direcionar militantes e conduzir ações de vigilância.
Autoridades americanas afirmam que podem sempre usar mais inteligência, vigilância e dados de reconhecimento. O chefe do Comando Europeu dos EUA, o general Philip Breedlove, lamentou este ano que precisava de mais cobertura para monitorar adequadamente a região a ele atribuída, que inclui a região em conflito na Ucrânia.
“Indicações iniciais e alertas e a capacidade de melhor entender o pensamento de Moscou e suas intenções são absolutamente essenciais para evitar futuras surpresas e erros de cálculo para uma dissuasão eficaz e para preparar uma resposta se necessário”, disse ele ao Comitê de Serviços Armados do Senado em abril.
O Pentágono prevê um esforço conjunto que vai somar, até 2019, os atuais 60 voos diários de drones da Força Aérea aos 16 voos do Exército e outros quatro do Comando de Forças Especiais. Os fornecedores do governo seriam contratados para operar velhos drones Predator em cerca de 10 voos diários, mas não em missões de ataque.
O plano será realizado em etapas. Até 2017, o Exército realizaria até oito voos e os fornecedores do governo fariam cerca de seis voos, além dos 60 que são realizados agora pela Força Aérea.
“Os comandantes de combate e o Departamento de Defesa precisam ter uma abordagem realmente conjunta para entregar os tipos de recursos que aeronaves pilotadas remotamente podem fornecer”, diz David Deptula, general de três estrelas aposentando da Força Aérea que dirigiu as missões de inteligência, vigilância e reconhecimento da Força Aérea até 2010.
“Estou feliz em saber que eles farão abordagens mais conjuntas”, diz Deptula. “Será uma grande ajuda.”
O plano também requer um novo foco em maximizar a capacidade existente de drones alterando a rota de voos cancelados por mau tempo para outras localidades. Se um drone não puder voar em uma região do Iraque, por exemplo, ele pode ser enviado para outro lugar do Oriente Médio, segundo a autoridade de defesa.
As autoridades do Pentágono não têm no momento um custo estimado para o plano, que é baseado em orçamentos sujeitos à aprovação do Congresso americano.
Até o momento, a Força Aérea tem conduzido quase exclusivamente as operações de drones dos EUA, que têm sobrecarregado pilotos e tripulação, de acordo com autoridades, o que levou o comando da Força Aérea a pedir um adiamento ao Pentágono.
No início do ano, o secretário de Defesa, Ash Carter, concordou em deixar a Força Aérea reduzir seus voos diários de drones de 65 para 60 até outubro. Autoridades de defesa disseram que Carter aceitou sob a condição de os planejadores militares obterem mais capacidade para os drones usando outros recursos.
“Sempre haverá uma forte demanda” para trabalho com drones militares, considerando ameaças crescentes e eventos mundiais, diz o tenente-coronel Chris Karns, porta-voz da Força Aérea.
Um dos problemas enfrentados pelo Departamento de Defesa é que ele tem que dividir as fontes de inteligência: Os militares contribuem com até 22 de seus 61 voos diários para a CIA. A agência direciona os voos utilizando pessoal militar, então usa as fontes de inteligência para seus próprios propósitos.
Embora a inteligência usada pela CIA contribua para a habilidade dos EUA de realizar vigilância e ataques aéreos contra militantes, o acordo deixa menos drones à disposição dos comandantes militares.
Alguns analistas acreditam que o Pentágono deveria pensar mais amplamente em outras medidas de inteligência que os drones fornecem e não apenas no número de voos realizados.
Uma tecnologia que emprega mais câmeras dentro de um pequeno casulo de vidro instalado na barriga dos drones — como no modelo Reaper — expande em até dez vezes a quantidade de fontes de vigilância que os comandantes militares podem usar, segundo Deptula.
É uma forma mais barata de maximizar a capacidade existente do que apenas elevar o número de voos. Na verdade, empregar esses casulos é parte do plano do Pentágono, disseram autoridades de defesa.
“É muito mais fácil aumentar a capacidade do número de Reapers que nós temos do que o número de voos que eles realizam”, diz Deptula.