Kaiser Konrad
Reportagem, fotos e vídeos
Enviado especial a Florianópolis
Dois anos após o início da Segunda Guerra Mundial a ameaça do Eixo se fazia presente sob as águas do Atlântico Sul. Submarinos alemães e italianos operando na região realizaram uma série de torpedeamentos de navios mercantes brasileiros, obrigando o presidente Getúlio Vargas a declarar guerra à Alemanha e à Itália em 22 de agosto de 1942. Quatro dias depois, um avião Vultee V-11 da então Base Aérea de Gravataí (hoje Canoas) atacou um submarino a 50 milhas de Araranguá, na costa catarinense. A Aviação de Patrulha, que já tinha dado a recém criada Força Aérea Brasileira seu Batismo de Fogo três meses antes, protagonizava no litoral de Santa Catarina a primeira ação militar brasileira dentro do maior conflito do século XX.
Mais de 60 anos se passaram desde o término da Segunda Guerra Mundial e na mesma região, a qualquer hora e sob a rigidez das condições meteorológicas que ali imperam, sempre há uma aeronave de patrulha marítima em prontidão permanente para manter a soberania do Brasil em seu mar territorial. Sediado na Base Aérea de Florianópolis está o 2º Esquadrão do 7º Grupo de Aviação. O Esquadrão Phoenix é a única unidade da Aviação de Patrulha da FAB baseada no Sul do país. Ele está equipado com aeronaves P-95B Bandeirulha, a versão de patrulha do EMB-110. Com capacidade de voo estendida a mais de 7 horas, graças à incorporação de tanques de combustível nas asas, os Bandeirulhas têm uma área de responsabilidade de 3,5 milhões de km² de mar territorial, e que em breve será estendia em mais 950 mil km², a chamada Amazônia Azul.
No momento que o governo anuncia a descoberta e a exploração de importantes jazidas de petróleo no pré-sal, cresce também a cobiça internacional por estas áreas, principalmente por elas estarem situadas nas proximidades do limite da Zona Econômica Exclusiva, 200 milhas além da costa. Por outro lado, mais de 90% do comércio brasileiro é transportado por nossas águas. Proteger as rotas marítimas e as nossas riquezas submersas são fatores que fazem crescer a cada dia a importância da Aviação de Patrulha.
As aeronaves P-95B Bandeirulha tiveram seu Batismo de Fogo em 1982, quando o Brasil forneceu emergencialmente na condição de leasing duas aeronaves a pedido da Argentina para dissuadir a ameaça da esquadra inglesa sobre as Ilhas Malvinas. Neste conflito elas operaram na Esquadrilha de Exploração e Reconhecimento entre maio e junho de 1982. Estas aeronaves podem ser armadas com foguetes SBAT-70 colocados em quatro pylons instalados em pontos fixos sob as asas. Devido à sua baixa performance, em caso de guerra os Bandeirulhas não se engajariam num combate direto contra alvos militares, podendo somente efetuar lançamentos de foguetes contra embarcações mercantes de bandeira inimiga, ou, como aeronave de guerra eletrônica. Sua principal tarefa consiste na interdição e apoio ao combate.
Como Posto Diretor Aerotático no Ar, os P-95B através do seu potente radar de busca APS-128 Super Searcher instalado no nariz pode detectar, localizar, identificar e vetorar o ataque da aviação de caça a alvos na superfície. Com o apoio dos sistemas embarcados de espionagem de sinais de segurança, ataque, guerra e espionagem eletrônicas, ele pode ser utilizado em operações de combate no mar como aeronave centro de comunicações e controle. Seu sistema MAGE, da francesa Thales, incorpora modernos sistemas de detecção, identificação e armazenamento de sinais de radar provenientes de emissores situados na superfície.
A maior deficiência do Bandeirulha é sua incapacidade de cumprir missões anti-submarino, pois não está preparado para o lançamento de sonobóias nem cargas de profundidade. Sua capacidade de atacar um submarino existe somente quando surpreendido na superfície, seja avariado ou para ser reabastecido, num cenário operacional improvável nos dias de hoje. Com a chegada no próximo ano dos primeiros P-3 AM, a FAB terá novamente a capacidade ASW e também de realizar patrulhas de longo-alcance haja vista sua autonomia de mais de 16 horas.
Patrulhas Marítimas
A 2ª Força Aérea é responsável pela aviação de asas rotativas e pelos quatros esquadrões de Patrulha existentes na FAB (Orungan, de Salvador-BA, Netuno, de Belém-PA, Cardeal, de Santa Cruz-RJ e Phoenix, de Florianópolis-SC). Ela trabalha de forma conjunta com a Marinha do Brasil e seus Distritos Navais, planejando e repassando as missões através de um meio eletrônico criptografado aos esquadrões de patrulha. Na Base Aérea de Florianópolis, os patrulheiros do 2º/7° GAv acordam cedo para cumprir suas missões. O dia nem nasceu e as aeronaves já estão no pátio sendo preparadas para a decolagem. As tripulações utilizam trajes especiais que incluem coletes salva-vidas, oxigênio individual e um kit especial para o caso de emergência. No briefing de pré-voo são avaliadas as condições da aeronave, meteorologia, existência de navios militares estrangeiros na região; a tripulação acerta a ordem e o procedimento de abandono da aeronave em caso de pouso na água, estando ela na superfície ou submersa.
Após a decolagem, o radar em modo passivo começa a receber as emissões dos navios mercantes. Estes sinais são colocados num banco de dados de emissões radar. Imediatamente o coordenador tático do voo plota o navio mercante mais próximo da área da patrulha para em caso de emergência ele seja prontamente acionado para auxiliá-los. Uma ordem de embarcações é plotada para averiguação. Ao se aproximar de uma embarcação mercante o comandante da aeronave inicia pelo rádio o interrogatório em inglês com o capitão do navio: “Este é um avião de patrulha marítima da Força Aérea Brasileira. Solicitamos sua identificação, número internacional de chamada, carga transportada, porto de origem e porto de destino”. Uma passagem lateral e outra à popa do navio são feitas para que o observador possa fazer fotografias que o identifiquem. Posição e horário são gravados. Todos estes dados são posteriormente repassados à Marinha. Essas missões duram em média quatros horas, identificando dezenas de embarcações numa área de centenas de km².
Missões S.A.R
Outra missão realizada com bastante freqüência pelo Phoenix e os demais esquadrões de patrulha são as missões SAR (Search and Rescue). Com as mudanças bruscas da meteorologia na região Sul do Brasil, frequentemente assolada por ciclones extratropicais, eventualmente barcos de pesca ficam avariados ou naufragam nestas águas. Com uma tripulação completa de sobreaviso e uma aeronave permanentemente em alerta, em horário de expediente os aviadores do Phoenix podem decolar para cumprir uma missão de busca em apenas 45 minutos.
As missões de busca são extremamente difíceis e complexas. Pela doutrina da FAB existem dois padrões de busca; o de rotas paralelas (pente), quando a aeronave não tem informação precisa sobre a área onde pode estar o objetivo, e o quadrado crescente, quando se tem a localização da área de busca e é feito o bloqueio do ponto e a partir dele são realizadas aberturas iguais de dentro para fora. Durante o voo o coordenador tático plota o navio mercante mais próximo da zona de busca para no caso da localização dos náufragos ele seja deslocado para o resgate, pois segundo a legislação marítima internacional, toda embarcação é obrigada a integrar uma operação SAR após acionada. Dentro do avião além da tripulação padrão, seguem quatro Observadores SAR, que revezam-se a cada 20 minutos na posição. Após a localização dos náufragos são lançados sinalizadores fumígenos e o ponto é imediatamente plotado.
Estas missões ganharam evidência neste ano com a trágica queda no mar do Airbus A-330 da Air France. Pelos acordos internacionais, a Região de Busca e Salvamento (SRR) Marítimo sob a responsabilidade do Brasil, compreende uma extensa área do Oceano Atlântico que abrange toda a costa brasileira e se estende na direção leste até o meridiano de 10ºW, quase na costa africana.
A BASE AÉREA de FLORIANÓPOLIS