O Departamento de Controle do Espaço Aéreo (DECEA) e a Administração Federal de Aviação dos Estados Unidos (FAA – Federal Aviation Administration) realizaram novo encontro de coordenação do Projeto de Cooperação Técnica para pesquisas na ionosfera – a parte superior da atmosfera terrestre. As reuniões ocorreram de 19 a 23 de março, na sede do DECEA, no Rio de Janeiro.
Participaram representantes da Universidade de Stanford, da fabricante da Estação GBAS (do inglês, Ground Based Augmented System) Honeywell, do Instituto de Controle do Espaço Aéreo (ICEA) – responsável pela certificação do equipamento, além de pesquisadores do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) e da Boeing.
Os especialistas em navegação por satélites, certificação, análise de fenômenos ionosféricos e análise de risco buscaram estabelecer parâmetros de operação e certificação para a aplicação, no Brasil, da tecnologia GBAS, um sistema de aproximação de precisão. A ideia é que a tecnologia permita operações similares ao do Sistema de Pouso por Instrumento – ILS Categoria I, cuja altura de decisão mínima é de 60 metros e visibilidade entre 800 e 550 metros.
Assim como o ILS, o GBAS torna possível a aproximação – ou descida para pouso de aeronave – em condições meteorológicas adversas. A proposta é melhorar a exatidão, a continuidade e a disponibilidade da informação dos dados enviados para as aeronaves pelos Sistemas Globais de Navegação por Satélite (GNSS, do inglês, Global Navigation Satellite Systems).
O acordo de cooperação prevê o monitoramento do comportamento da ionosfera, que traz impactos ao funcionamento do sistema e difere do desempenho do equipamento em países situados no hemisfério norte. De acordo com o membro da Divisão de Certificação do ICEA, Capitão Engenheiro Leonardo Marini Pereira, o processo tem trazido amadurecimento ao Instituto. "Essa tem sido uma oportunidade única de trabalhar diretamente com alguns dos melhores especialistas em certificação da FAA", aponta.
O militar também ressalta a importância do projeto para a área de pesquisa do ICEA. "O impacto da ionosfera nos sistemas GNSS embarcados é um assunto de enorme relevância, sobretudo nas regiões de baixas latitudes. Isso motivou o DECEA, em parceria com as principais instituições de pesquisa do mundo, como a Universidade de Stanford e de Boston, nos Estados Unidos, e o INPE, a dedicar esforços para pesquisar o assunto", complementou.
Fenômenos da natureza
Os estudos são necessários para analisar as particularidades da ionosfera em baixa latitude, localizada entre 60 km e 500 km de altitude, região caracterizada pela presença de cargas de íons e elétrons. O principal distúrbio que pode interferir nos sinais é conhecido como irregularidade equatorial ou bolhas de plasma, o deslocamento das chamadas ´bolhas´ de baixa ionização. A existência deste fenômeno pode provocar atrasos no sinal do satélite, gerando erro no cálculo da posição GPS.
A ionosfera apresenta comportamentos distintos em diferentes latitudes. A análise é pioneira, já que outras regiões onde o GBAS foi instalado são países de média latitude, ou seja, com características diferentes da América do Sul.
Cooperação técnica
Em julho de 2011, o DECEA fez a aquisição do primeiro equipamento do gênero no Brasil, com a finalidade de estudar os impactos do pico do ciclo solar sobre a estação. Foi definido um modelo que já estivesse em operação pelo mundo, em aeroportos da Europa, Estados Unidos e Austrália, a Estação SLS-4000 Smart Path GBAS. Desenvolvido e comercializado pela empresa Honeywell, a estação GBAS foi instalada no Aeroporto Internacional do Galeão, no Rio de Janeiro (RJ). Desde então, vem sendo realizados testes utilizando as aeronaves-laboratório do Grupo Especial de Inspeção em Voo (GEIV).
Em 2015, foi assinado um memorando de cooperação entre DECEA e FAA para realização de pesquisas e análise de dados dos distúrbios ionosféricos e seu efeito no desempenho do GBAS. No ano passado, foi assinado um anexo a este memorando de cooperação técnica, que estabeleceu encontros entre especialistas da FAA e do Brasil para coleta, análise de dados ionosféricos, teste, avaliação e validação de dados com o objetivo de buscar a operacionalização da estação GBAS até 2021.
Fotos: Fábio Maciel