CRISTIANE BONFANTI
A crise financeira vivida nos países desenvolvidos mudou as prioridades das grandes corporações. Se, antes, os olhos das companhias de aviação brilhavam por países como Alemanha e Japão, agora, essas empresas direcionam cada vez mais seus investimentos para as economias em desenvolvimento, especialmente para o Brasil. Elas querem tirar proveito, por exemplo, do crescimento do tráfego aéreo entre países da América do Sul, que avançará, em média, 7% ao ano até 2030.
De acordo com levantamento da Boeing, no caso dos voos entre a América do Norte e a do Sul, o crescimento será de 7,1% e, entre a América do Sul e a Europa, de 5,1% no mesmo período. Não à toa, a companhia norte-americana conta com a ajuda dos mercados emergentes para alcançar, até o fim de 2013, a meta de 30% do seu faturamento no setor de defesa fora dos Estados Unidos. Hoje, esse índice é de 24%. Há cinco anos, era de apenas 7%.
Segundo Dennis Muilenburg, presidente da área de defesa, espaço e segurança da Boeing, a estratégia busca minimizar o impacto da desaceleração da receita com as vendas para as Forças Armadas dos Estados Unidos, que têm reduzido o ritmo de aquisição de equipamentos. "Estamos acelerando os nossos negócios no mercado internacional. Isso reflete as mudanças na economia mundial", disse.
A seu ver, uma eventual derrota da Boeing na disputa para vender os 36 caças para a Força Aérea Brasileira (FAB) poderia até prejudicar algumas parcerias da norte-americana com o Brasil. No entanto, ele observou que a companhia desenvolve projetos mais amplos no país. "Vemos o Brasil como um relacionamento de longa duração", explicou.
Além dos Estados Unidos, a Suécia e a França estão investindo pesado para não apenas ganhar o contrato de R$ 10 bilhões para a venda dos caças, mas também para participar do que pode ser a maior fase de crescimento do setor de aviação nas últimas três décadas. A sueca Saab, que concorre no F-X2 com o caça Gripen NG, inaugurou, no ano passado, o Centro de Pesquisa e Inovação Sueco-Brasileiro (CIBS), em São Bernardo do Campo (SP). Em março deste ano, na tentativa de conquistar apoio, o presidente da empresa, Håkan Buskhe, acompanhou o presidente do Parlamento sueco, Per Westerberg, em visita ao Brasil. Na ocasião, ele garantiu que enviaria os códigos-fonte dos sistemas dos aviões e que o Brasil seria responsável por 40% do desenvolvimento das aeronaves e por 80% da fabricação das estruturas.
A Dassault, que entrou no páreo para vender para o Brasil os caças Rafale F3, tem adotado estratégia parecida. Além de prometer transferir tecnologia de forma irrestrita, ela iniciou trabalhos conjuntos com instituições de ensino, como a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), para desenvolver pesquisas nos setores de educação e ciências espaciais. (CB)
* A repórter viajou a convite da Boeing