Cap Felipe Soares Amaral – Instrutor do CI Bld
Cel Ádamo Luiz Colombo da Silveira – Comandante do CI Bld
A criação da função Master Gunner (Instrutor Avançado de Tiro – IAT) surgiu na década de 70, no exército norte-americano, baseada nas lições aprendidas após o maior conflito de blindados desde a Segunda Guerra Mundial, a Guerra de Outubro (Guerra do Yom Kippur).
Esse conflito ressaltou a necessidade do aumento da proficiência das guarnições em todos os escalões, não cabendo apenas ao uso do melhor equipamento ou do maior número de meios.
Além da mentalidade do “quem atira primeiro, com eficiência, sobrevive”, a volta do emprego combinado das armas, o correto uso do terreno, entre outros aspectos relacionados às ações durante o combate, fomentaram a concepção de um novo curso, o Master Gunner Course.
Baseado nas capacidades potencializadas pela nova função e com a finalidade de constituir uma comunidade internacional, a Conferência Internacional de Master Gunner tem desenvolvido, desde 1999, um ambiente de intercâmbio de conhecimentos entre os especialistas de países integrantes ou não da OTAN, no treinamento de guarnições de blindados.
Originalmente baseada na plataforma de combate Leopard, recentemente a conferência abriu espaço para outros países com o intuito de reconhecer as similaridades no treinamento, no desenvolvimento de técnicas e nas formas de operação, independente do sistema de armas utilizado.
Assim sendo, o principal objetivo da Conferência é a troca de experiências, acompanhada da atualização do nível de desenvolvimento dos blindados utilizados, consistindo basicamente em apresentações sobre a filosofia de emprego, formas de execução e de avaliação do treinamento da guarnição.
A intenção é a de permitir a integração de diferentes países em um universo tolerante, informal e, ao mesmo tempo, profissional. A décima nona edição da IMGC foi realizada no Brasil, no Centro de Instrução de Blindados, sediado em Santa Maria – RS, no período de 09 a 13 de outubro.
Fizeram-se presentes as delegações da Alemanha, Chile, Dinamarca, Espanha, Finlândia, Noruega, Polônia e Suécia, além da brasileira. No primeiro dia da conferência foram realizadas exposições sobre a atualização da frota, em especial de carros de combate, de cada país.
Dentre as apresentações, identificou-se a constante preocupação na realização de projetos de modernização de meia-vida para as viaturas, principalmente no sistema de controle de tiro, tendo por finalidade a manutenção da eficiência operacional e o contínuo emprego de equipamentos com alta tecnologia agregada.
No segundo dia, foram realizadas apresentações acerca da capacitação individual e das guarnições, buscando identificar os cursos previstos e os níveis operacionais a serem atingidos.
Além deste tema, abordou-se a realização de certificações periódicas na tropa blindada, com o intuito de verificar a capacidade de operar o meio blindado após um período de inatividade.
Para o terceiro dia, foi abordado o tópico sobre exercício de tiro real, tema principal da conferência deste ano. Aspectos como o planejamento, a preparação, a condução e a avaliação do exercício balizaram as apresentações dos participantes.
Constatou-se a diferença entre cada país em relação às estruturas e aos equipamentos disponíveis para a observação do tiro. Além disso, boa parte das atividades e dos procedimentos são, aparentemente, similares aos executados no Brasil.
Nesse dia foi realizada uma visitação às instalações do Centro de Adestramento – Sul (CASul) e do Centro de Instrução de Blindados (CIBld), onde os participantes puderam constatar o alto grau tecnológico dos equipamentos e das estruturas de treinamento que a tropa blindada brasileira possui.
Ao término da visita no CIBld, foi realizado um pequeno exercício de duelo nos Treinadores Sintéticos Blindados do Leopard 1A5 BR, com o objetivo de permitir às delegações o contato com nossos meios de simulação virtual.
No quarto dia, foram apresentadas as competições nacionais realizadas por cada país, enfatizando a busca pela máxima fidelidade de situações encontradas em combate e o emprego de técnicas voltadas à operação do meio blindado.
Também foram expostos métodos de identificação de blindados e de procedimentos para verificação de panes na viatura. Finalizando o dia, como usualmente ocorre, abriu-se espaço para a apresentação de situações em que houve acidentes durante as atividades com blindados.
No último dia, as delegações foram questionadas sobre a sede do próximo evento no ano de 2018, sendo voluntária a nação sueca.
Após isso, cada país levantou temas que gostaria de apresentar na próxima conferência. Encerrando o evento, o último tempo foi utilizado para a análise sobre a organização e sobre os temas discutidos nesta conferência, onde cada conferencista expôs a sua impressão e a possível aplicabilidade para a sua unidade, ficando evidente a satisfação individual dos participantes.
Para a tropa blindada brasileira, ademais da verificação do elevado nível de profissionalismo, essa atividade permitiu a absorção de novas experiências que possibilitarão a aplicação de novos conceitos relacionados ao emprego de nosso material, contribuindo para a constante evolução da doutrina de emprego dos blindados no Brasil.
AÇO, BOINA PRETA, BRASIL!