André Almeida do Nascimento
Cap Instrutor do CI Bld
Carlos Alexandre Geovanini dos Santos
Ten Cel Comandante do CI Bld
Entre os dias 23 e 29 de setembro de 2017, foi realizado, pelo Exército do Canadá, o exercício Worthington Challenge, que reuniu membros das quatro divisões canadenses, bem como participantes e observadores internacionais.
O evento vem sendo realizado anualmente e consiste de uma competição de guarnições blindadas. Possui o modelo atual desde 2014 e seu objetivo maior é voltar o foco do treinamento das frações para o combate convencional, haja vista o constante emprego em operações de contra insurgência. Isso se dá em função do entendimento de que a contra insurgência deve ser tratada como uma situação específica e não como regra no combate moderno.
O exercício foi batizado em homenagem ao Major-General Frederic Franklin Worthington, considerado o pai da tropa blindada canadense. Foi devido à influência deste oficial que o Canadá adquiriu seus primeiros carros de combate, 12 Vickers britânicos. Seu papel na inserção dos carros blindados no exército do seu país em muito se assemelha ao que foi desempenhado pelo Marechal José Pessoa, no Exército Brasileiro.
O Exército Canadense possui 4 divisões, cada equipe canadense era oriunda de uma de suas divisões e constituída por oito guarnições, sendo duas de Viaturas Blindadas de Combate Carros de Combate (VBCCC), Leopard 2 A4; duas de Viaturas Blindadas de Combate de Fuzileiros (VBC-Fuz), Light Armored Vehicle (LAV) III ou VI (dependendo da divisão); duas de Viaturas Blindadas de Reconhecimento (VBR), Coyote; e duas patrulhas de Reservistas, empregando Light Utility Vehicle Wheeled (LUVW). As duas guarnições de mesma natureza de cada equipe formavam uma seção e foi nesse escalão que a maior parte das atividades do exercício foi executada.
Por não ser um Exército de conscrição, o Exército Canadense nomeia como reservistas os militares que, após seu treinamento básico, não firmam contratos de longo prazo com o exército, mas prestam seu serviço militar, voluntariamente, em períodos pré-determinados.
As equipes internacionais eram oriundas dos seguintes países: Chile, Dinamarca, Estados Unidos e Polônia. Sua constituição, no entanto, era muito menor do que as equipes canadenses, resumindo-se, na maioria, apenas à seção de VBCCC.
A única exceção era a equipe norte-americana, que, além da seção VBCCC, trouxe, também, uma seção de VBC-Fuz. Houve, ainda, a participação de observadores internacionais, oriundos da Noruega, Austrália e Brasil, esse último com dois oficiais do Exército, sendo um do Comando de Operações Terrestres e outro do Centro de Instrução de Blindados General Walter Pires.
Dos competidores internacionais apenas os EUA utilizam VBCCC que não integram a família Leopard 2. Sendo assim, todas as Seções dessa natureza executaram as atividades com as VBC Leopard 2 A4 do Canadá. Somente por ocasião do tiro real embarcado a equipe norte-americana utilizou suas próprias VBCCC M1A2 Abrams e VBC-Fuz M2 Bradley. Apesar de possuírem sistemas de armas diferentes, as viaturas norte-americanas possuem canhões 120mm e 25mm, respectivamente, mesmos calibres utilizados pelas outras equipes.
A competição foi dividida em quatro grandes oficinas. Cada equipe canadense, juntamente com uma equipe internacional, executou uma oficina por dia, em forma de rodízio. Cada oficina, por sua vez, foi dividida em suboficinas ou fases. No terceiro dia, a competição foi interrompida para possibilitar a manutenção das viaturas empregadas nas atividades e realizar os ajustes necessários. Essas grandes oficinas foram divididas da seguinte maneira:
Habilidades Técnicas:
– Pista de Obstáculos com Transporte de Ferido;
– Simulação de Tiro Embarcado;
– Condução de Tiro Indireto por Combatente de Qualquer Arma;
Tiro Real Embarcado:
– Tiro Diurno;
– Tiro Noturno;
Orientação Embarcada:
– Primeiros Socorros em Combate;
– Ocupação de Posto de Observação e Identificação de Blindados e
Aeronaves;
– Manobra de Força;
– Campo Minado;
– Busca e Captura de Veículo Aéreo Não Tripulado Inimigo;
Marcha e Tiro:
– Orientação a Pé;
– Habilidades Militares;
– Investimento em Área Edificada;
– Exfiltração a Pé.
A forma de condução de todas as oficinas do evento evidenciou imenso profissionalismo. Tanto os competidores quanto os militares da organização demonstraram vasto conhecimento técnico e tático.
A origem desse profissionalismo foi percebida no foco que foi dado para as atividades desenvolvidas durante a semana. Em nenhum momento a competição foi vista como objetivo maior do evento, tanto pela organização e arbitragem como pelos competidores.
A prioridade principal de todos os envolvidos era claramente a troca de experiências, análise dos pontos fortes e oportunidades de melhoria da sua doutrina e do treinamento executado. A arbitragem atuou de forma a reforçar, ainda mais, essa mentalidade. Ao final de cada suboficina ou fase, os árbitros realizavam, junto à fração, uma Análise Pós-Ação (APA) parcial.
A própria mentalidade dos exércitos participantes é alinhada com a filosofia de que o foco do treinamento deve ser para o combate convencional. O evento, bem como outras competições ao redor do mundo, mede a eficiência daquele, comparado-o ao que se executa em outras nações. Nesse sentido, todos os participantes foram unânimes ao afirmar que não realizaram nenhum treinamento específico para a competição, além do já previsto em seus programas de adestramento.
Também era sentimento geral, entre competidores, observadores e organização, o valor de se realizar competições desse tipo, ainda mais quando conta com militares de outras forças ou países, possibilitando a troca de experiências.
Ao final do exercício, sagrou-se campeã, na modalidade Canhão 120mm, a equipe dinamarquesa; na modalidade Canhão 25mm, a 2ª Divisão; e, na modalidade Reservistas, a 5ª Divisão. No ranking geral entre as divisões, a 2ª Divisão conquistou o troféu. Mas graças às lições aprendidas e às trocas de experiência, pode-se dizer que todos os participantes sentiram-se vitoriosos ao término de mais uma edição do Worthington Challenge.
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