Tenente-Coronel Marcelo Carvalho Ribeiro
I. INTRODUÇÃO
Os conflitos ocorridos durante o primeiro quartil do século XXI demontraram que as forças blindadas continuam sendo a espinha dorsal dos exércitos mais poderosos do mundo. Do Mali ao Iraque, da Chchênia ao Afeganistão, os exércitos não deixaram de utilizar pesados meios blindados que, após imporem ao oponente uma derrota militar, passaram a empregar forças leves e médias, dotadas de blindados sobre rodas, contra grupos de insurgentes. Isso sem prescindir de reserva blindada, em menor ou maior escala, dependendo da situação, que estivesse pronta para intervir em caso de necessidade.
O Exército Brasileiro(EB), ao pensar o seu "como organizar", vive um dilema com relação às suas forças mecanizadas, em particular quanto ao número e natureza das forças que constituirão as Brigadas de Cavalaria Mecanizadas (Bda C Mec). Estas foram originalmente pensadas para um cenário estratégico completamente distinto do atual. Em função destas mudanças, suas missöes estão sendo revistas. Surge, portanto, o questionamento: como equipá-la? E, como centro destas discussöes, uma pergunta gera divergências de opiniöes entre os profissionais militares: a brigada deve ser equipada com blindados sobre lagartas ou sobre rodas?
Por ser a única unidade dotada de blindados sobre lagartas nas Bda C Mec, os Regimentos de Cavalaria Blindados (RCB) acabam sendo o pivô destas discussöes. A Bda C Mec possui atualmente, como peças de manobra, dois regimentos de cavalaria mecanizados (blindados sobre rodas) e um RCB cada. Este é composto por duas subunidades de carros de combates e duas subunidades de fuzileiros e seus apoios (blindados sobre lagartas).
Os RCB deixaram de receber os Carros de Combate Leopard1A5 adquiridos pelo Exército Brasileiro em 2009. O Comando do Exército optou, em 2011, por dotar os RCB das Bda C Mec do Comando Militar do Sul com os antigos Leopard1A1 belgas e o 20º RCB, do Comando Militar do Oeste, com os antigos M60 americanos, dando um claro sinal de que estudaria o destino dos RCB e das Bda C Mec com mais cautela. O momento de uma decisão se aproxima, e as discussöes em torno do tema vão crescendo de importância. O fato é que o como equipar os RCB leva a uma reflexão sobre a essência do problema: a estrutura da Bda C Mec é atual? Ou deve ser modificada em função dos novos horizontes estratégicos? É o que pretende abordar o presente artigo.
II. DESENVOLVIMENTO
a. Reestruturação das Forças Blindadas: uma realidade mundial
O término da Guerra Fria levou os exércitos do mindo a repensar suas Forças Blindadas. Estas, tradicionalmente divididas em leve, média e pesada, fizeram uma transição nas duas últimas décadas, com expressiva redução de seu número. Em prol de maior mobilidade estratégica, e visando a redução de custos logísticos para sua manutenção e transporte, tem-se optado, em geral, por forças aptas as missões de todo o espectro dos conflitos: das ações desencadeadas em missões de paz estável até as operações militares desencadeadas em situação de guerra, passando pelas etapas intermediárias da escalada da crise, as chamadas “Operações no Amplo Espectro”.
Com isso, os exércitos verificaram a necessidade da organização de forças de combate flexíveis nos níveis táticos (Bda, Btl/Rgt, SU) que atendessem à demanda de operações em amplo espectro. Assim, surgiram tropas que, primordialmente, irão atuar com composição mista ou seja, tropas blindadas sobre lagartas e sobre rodas em conjunto.
Um breve estudo das opções adotadas pelos exércitos mais próximos do estado da arte na atualidade permite concluir que os armamentos buscados para equipar suas tropas seguem alguns critérios essenciais, a saber:
– Modularidade: capacidade para prover os exércitos dos meios necessários no mais curto prazo, de acordo com as necessidades da operação em curso;
– Mobilidade: envolve a capacidade de atingir determinados parâmetros em termos de deslocamento estratégico e mobilidade em operações;
– Flexibilidade: implica possuir versatilidade, de modo a permitir a atuação fluida nos distintos tipos de operações, em distintos cenários e
– Interoperabilidade: capacidade de interagir com distintos tipos de forças, organizações e materiais que as equipam.
Dada a necessidade das operações no amplo espectro, tem-se buscado, de maneira geral, constituir forças de natureza MISTA,ou seja, tropas blindadas sobre lagartas e sobre rodas em conjunto, até o escalão mais elementar. Em suma, os exércitos vem buscando organizar forças de combate flexíveis nos níveis táticos (Bda, Btl/Rgt, SU) que atendam a demanda de operações em amplo espectro, buscando um EQUILÍBRIO entre forças blindadas pesadas, médias e leves. Estas tendências podem ser observadas nos exemplos abaixo:
1) Exército do Reino da Espanha
O exército espanhol adota em sua formação básica, no nível brigada e inferiores, a composição mista de meios blindados (lagarta e roda) facilitando o adestramento e a integração da tropa. Desta forma busca adequar-se as demandas que surgirão no combate moderno podendo responder de maneira mais rápida e oferecendo flexibilidade ao planejamento.
(Imagem: Quadro 1)
2) Exército da República Francesa
O exército francês possui 4 brigadas mistas e 2 brigadas blindadas. Suas composições flexíveis adaptam-se às várias possibilidades de emprego e podem contar com pelotões de carros de combate dotados de carros de combate Leclerc 2, apoiados por viaturas blindadas leves (VBL), bem como de pelotões de infantaria blindados dotados de Viaturas Blindadas de Combate de Infantaria (VBCI) Renault VAB 6×6.
(Imagem: Quadro 2)
3) Exército do Canadá
Uma força-tarefa canadense é definida e estrutura como uma força tática baseada em uma companhia de infantaria mecanizada ou um esquadrão de carros de combate com no mínimo um pelotão ou tropa de apoio conforme as necessidades.
Apesar da formação básica ser sobre lagarta ou sobre rodas, sempre que os regimentos de carros atuam são empregados juntamente com a infantaria embarcada em viatura blindada sobre rodas (LAV III).
(Imagem: Quadro 3)
b. Precisamos de blindados sobre lagartas?
A questão da opção por blindados sobre rodas ou sobre lagartas está intimamente ligada à trafegabilidade do solo onde se vislumbra operar. Obviamente, em terrenos urbanos ou estradas, trafegar com blindados sobre rodas é muito menos custoso, logisticamente falando. É preciso considerar, contudo, que nosso pais, afora nossas matas, na sua maioria impeditivas para o emprego de blindados, possui um elevado índice de terras agricultáveis. Trafegar por elas requer veículos de baixa pressão sobre o solo, sob pena de não operarmos por ele, como nos explica o Coronel Fabio Benvennutti de Castro, em trabalho realizado em 2003, no EME:
[…]As características de menor pressão sobre o solo e melhor mobilidade tática e de maior blindagem e armamento de maior alcance, são requisitos conflitantes, a medida em que maior proteção blindada e canhão de alta pressão significam maior peso e, em conseqüência, maior pressão unitária e menor mobilidade através campo.
Estes requisitos são melhor atendidos por Vtr Bld sobre lagartas, que com um peso de 18 Ton apresentam uma pressão unitária de aproximadamente 0,6 Kg/cm2 enquanto que uma Vtr sobre 8 rodas (8×8), de mesmo peso, tem uma pressão unitária em torno de 2,4 Kg/cm2, seis vezes maior. As Vtr Bld sobre rodas, à medida que são aperfeiçoadas para que apresentem um desempenho em QT próximo das sobre lagartas, se tornam maiscomplexas e sua manutenção mais difícil, não atendendo ao requisito de facilidade de manutenção e elevando o custo operacional.
É inegável que o emprego conjunto de Vtr Bld SR e SL eleva as possibilidades operacionais, particularmente em combates que almejam realizar ações em profundidades. O Exército Brasileiro em função da variedade de cenários em que poderá atuar não pode abrir mão de possuir ambas as plataformas, que são complementares em termos táticos-operacionais. CASTRO(2003).(grifo nosso)
Abrir mão do uso de blindados sobre lagartas em uma grande unidade operacional, portanto, é reconhecer que a mesma não será empregada em um contexto de guerra convencional, ao menos em solo brasileiro, ou então admitir que esta seria reforçada por meios de uma outra brigada blindada para fazê-lo, diminuindo,com isso, o poder de combate das forças disponíveis para um contra-ataque, empregando-se prematuramente estas forças. Fica a pergunta: a que país interessa perder a capacidade de operar em seu próprio território?
Ressalta-se que, historicamente, o Brasil adota uma estratégia defensiva. A não ser que nossa estratégia mude seu foco, não poderemos prescindir de possuir blindados sobre-lagartas, em número adequado para causar um efeito minimamente dissuasivo. A incipiente quantidade de blindados deste tipo que nosso país possui, como demonstrado, apontaria justamente para o lado oposto ao da redução.
A necessidade de se realizar operações de amplo espectro traz a possibilidade, em algum momento, em se atuar decisivamente no ponto de decisão. Adotando-se critérios de FLEXIBILIDADE e de MOBILIDADE, o mix roda-lagarta, em função dos argumentos expressos pelo Cel CASTRO na citação acima, tornam-se determinantes.
Com relação à suposta diferença dos custos de manutenção entre uma viatura sobre rodas e outra sobre lagartas, o quadro vem se alterando. Atualmente, os veículos vem agregando tecnologias mais sofisticadas, refletindo em um aumento de custo de manutenção e de peso. O resultado é que a vantagem das viaturas sobre rodas, no quesito custeio, diminuiu muito, e o aumento de peso aumenta a pressão sobre o solo, reduzindo sua mobilidade tática. Assim sendo, é irrefutável que a mobilidade tática que as viaturas sobre lagarta proporcionam é muito superior ao das viaturas sobre rodas, o que dá mais flexibilidade às operações e possibilita o emprego fora do eixo.
Cabe ressaltar que os CRITÉRIOS adotados para se classificar forças leves, médias e pesadas variam em cada país. Em geral, admite-se como critério para forças médias aquelas cujos subsistemas atinjam no máximo as 32 toneladas. Entretanto, para as Viaturas Blindadas de Combate, admite-se que blindados médios alcancem as 43 toneladas, o que significa dizer que, no EB, não dispomos de forças blindadas pesadas.
c. O Exército Brasileiro – Reestruturação de 2004 e tendências atuais
O Exército Brasileiro (EB) possuía, até o ano de 2004, quatro Brigadas Blindadas (Bda Bld) com sedes em Campinas, Ponta Grossa, Rio de Janeiro e Santa Maria (11º Bda Inf, 5º Bda Inf, 5º Bda Cav e 6ª Bda Inf respectivamente). As brigadas possuíam constituição ternária, ou seja, possuíam três unidades valor batalhão em cada uma. Da mesma maneira, as Organizações Militares (OM) valor batalhão, possuíam três subunidades de manobra.
A partir de então, a Força Terrestre passou por uma reestruturação de suas Bda Bld em acordo com o Plano Básico de estruturação do exército (PBEEX) conforme consta da Portaria nº 126 EME, de 07 DEZ 04 constante do Boletim do Exército (BE) nº 050 do mesmo ano.
“ a. Considerações Gerais referentes ao PBEEX:
1) O PBEEx, no tocante à reorganização e à rearticulação das forças blindadas, prevê as seguintes ações para as GU e Unidades a serem extintas, transferidas, transformadas ou reorganizadas:
a) 5a Bda C Bld será extinta.
b) 5a Bda Inf Bld, após a extinção da 5a Bda C Bld, será transformada, assumindo a
denominação de 5a Bda C Bld.
c) 11a Bda Inf Bld será transformada em 11a Bda Inf L-GLO, transferindo seu material blindado para a 5a Bda C Bld e para a 6a Bda Inf Bld.
d) 6a Bda Inf Bld será reorganizada, recebendo o Centro de Instrução de Blindados e o
1° RCC que serão transferidos para Santa Maria-RS…
…i) 4° BIB será extinto, transferindo suas Cia Fzo Bld da seguinte forma:
– uma para o 13° BIB;
– uma para o 20° BIB; e
– Uma, apenas o material blindado, para ser redistribuído à 5a Bda C Bld e à 6a Bda Inf Bld.
…j) 24° BIB será extinto, transferindo suas Cia Fzo Bld da seguinte forma:
– uma para o 7° BIB;
– uma para o 29° BIB; e
– uma, apenas o material blindado, para ser redistribuído à 5a Bda C Bld e à 6a Bda Inf Bld…
… m) 28° BIB será transformado em 28° BIL, tendo seu material redistribuído para a 5a Bda C Bld e a 6a Bda Inf Bld.
n) 2° RCC será transformado em 13° RCMec, passando seu material blindado para o 4° RCC, e recebendo 3 Esqd C Mec, um do 11° Esqd C Mec( um do 12° RCMec e um do 19° RCMec).
o) 3° RCC será reativado em Ponta Grossa, recebendo os Esqd CC (material blindado) do 2° RCC.”
A partir desta transformação, observa-se que o poder de combate do EB foi reduzido devido a extinção de unidades blindadas. O fato das Bda atuais possuírem estrutura quaternária, em regra, não modificou estas perdas.
Atualmente, discute-se a transformação dos RCB em unidades leves ou médias, dotadas de viaturas sobre rodas. Adotando-se a hipótese de transformação dos RCB em unidades leves, o EB reduziria perigosamente seus meios blindados médios, indo contra uma tendência mundial, conforme demonstrado no quadro 04 (imagem acima):
A redução de forças blindadas médias vai de encontro a todos os critérios adotados pelos países mais modernos. Em geral, a MODULARIDADE, a MOBILIDADE e a FLEXIBILIDADE seriam os critérios mais atingidos. O quadro acima deixa de expor que o EB, comparado a outras forças armadas do mundo, POSSUI POUQUÍSSIMOS MEIOS BLINDADOS. Como exemplo, as Forças Armadas da Alemanha, com efetivo de 80.000 homens, possui quase o dobro de blindados que o EB.
A redução dos RCB ocasionariam uma importante perda de recursos humanos tecnicamente preparados e aptos ao combate de forças blindadas. Ademais, a sua extinção implicaria na restrição do número de OM que quadros especializados poderiam atuar, impactando diretamente as possibilidades de mobilização, em caso de conflito. Neste sentido, a capacidade de oferecer COMBATE CONTINUADO ficaria comprometida, em função da diminuição do corpo técnico necessário para manter forças blindadas em operações.
Se comparamos os dados do EB com o de outros exércitos do mundo, percebemos que a redução do número de blindados no Brasil é indesejável. Basta, para exemplificar, uma simples comparação dos dados expostos no quadro 04 (imagem acima):
Em geral, para se justificar a necessidade de maior MOBILIDADE ESTRATÉGICA, tem-se ignorado a necessidade de MOBILIDADE OPERACIONAL. Neste critério, um blindado sobre lagartas aumenta a FLEXIBILIDADE do comandante tático, permitindo-o operar em ambiente urbano e em AOC com desenvoltura. Basta verificar as operações em ambiente Urbano no Oriente Médio, ou mesmo no Rio de Janeiro, para se concluir a importância do mix lagarta-rodas.
d. O papel dos RCB nas Brigadas de Cavalaria Mecanizadas
Segundo a Concepção estratégica do Exército (CEEx) – SIPLEX 4, as Grandes Unidades (GU) Mecanizadas estão articuladas em áreas estratégicas vocacionadas para a defesa externa e todas integram a Força de Cobertura Estratégica (F Cob Estrt), desde o tempo de paz, ao longo das fronteiras terrestres nos locais passíveis de serem mobiliadas direções estratégicas e táticas de atuação orientadas para dentro do território nacional.
Seu emprego mais característico é serem empregadas como elemento de reconhecimento, segurança e para obter-se, em planejamentos de operações de dimensões amplas, a economia de meios tendo em vista a Área Operacional do Continente (AOC). Para isso, são dotadas de meios que lhes permitem desdobrarem-se por longas frentes do campo de batalha.
Este fato, em especial, nos chama a atenção para que a referida dispersão não resulte em uma oportunidade para o inimigo a derrotar por partes. Estabelecendo-se uma analogia, pode-se observar que no Teatro de Operações Naval, a força naval deve permanecer reunida para concentrar seu poder de combate, sob pena de ser batida por partes por outra força, inclusive, menor, caso esteja dispersa, conforme nos explicita o General CASALES (1997):
“…é uma grande ilusão pensar-se que os famosos ‘caranguejos’ que representam uma Bda C Mec e sua área de responsabilidade, com 100, 200, 300 ou mais quilômetros de frente tenham qualquer possibilidade de êxito no cumprimento de u’a missão defensiva ou ofensiva.
Uma Brigada, qualquer que seja, em mais de 10 Km de frente, é facilmente destruída por outra com meios semelhantes, que atue concentrada, em frente normal, aplicando seu poder de combate no ponto de decisão.
O problema de uma Brigada em grandes espaços terrestres não difere muito de uma Força Tarefa Naval. Se a FTN dispersar seus navios tentando ocupar o mar, será destruída por partes por outra que atuar em conjunto. Se uma Brigada dispersar seus meios tentando ocupar uma frente maior que as de suas possibilidades, dispersando unidades, subunidades e frações, desprezando o apoio mútuo de suas armas combinadas, fatalmente será destruída por outra, até de menor valor, que atue concentrada, aplicando a massa no ponto de decisão.” (CASALES,1997)
Da mesma forma, as Bda C Mec necessitam concentrar poder de combate para serem empregadas no momento e ponto decisivo. A fração que cumpre este papel nas Bda C Mec é o RCB, cuja potência de fogo, ação de choque e, principalmente, por sua alta mobilidade através campo lhe proporciona as capacidades necessárias para apoiar a manobra dessas brigadas.
Assim, a segurança para planejar operações de reconhecimento e segurança em largas frentes e grandes profundidades só é possível graças a presença de uma Bda C Mec dotada de meios blindados, sobre lagarta, capazes de concentrar poder de combate. A falta do RCB, tal como é, implicará na impossibilidade das Bda C Mec cumprirem as suas missões.É provável que no contexto doutrinário que se visualiza, que as Bda Bld tenham seu emprego prematuro em apoio às Bda C Mec decisivamente engajadas.
É necessário que entendamos, na concepção atual, qual será a missão das Bda C Mec, segundo o Projeto de Força do Exército Brasileiro (PROFORÇA):
“As Ffron1são as tropas vocacionadas para emprego inicial na fronteira terrestre,tendo como missão principal a manutenção da inviolabilidade do território nacional. Estão articuladas para tal e integram o SISFRON. Entende-se por inviolabilidade a não-ocorrência de operações militares em território nacional, por forças hostis constituídas. As F Fron terão capacidade de monitoramento, controle e de pronta atuação.”
….
“g) Na Defesa da Pátria, a F Ter será empregada, mediante acionamento do Ministério da Defesa, em princípio, em operação conjunta com as demais Forças Singulares, da seguinte maneira:
(1) empregar, em princípio, as Ffron para manter a inviolabilidade territorial, podendo antecipar-se a uma agressãoe atuar fora do território nacional, ao mesmo tempo em que se realiza a concentração estratégica das FAE, para ampliar a dissuasão; e
(2) se necessário, neutralizar a ameaça.” (PROFORÇA, pag 17)
As Bda C Mec, em sua constituição atual, portanto, são as Brigadas do EB que mais se adequam à tendência atual do combate moderno. Ressalta-se, contudo, que o mix lagarta-roda precisa ser levado até os escalão unidade e, por que não dizer, até o nível subunidade. As dificuldades logísticas porventura levantadas para que isto ocorra não podem servir de escusa para a transformação, sob o risco de tornar o EB obsoleto. Dilema maior enfrentaram aqueles que transformaram as unidades a cavalo em unidades mecanizadas, em meados da década de 80. O fizeram, ressalta-se, tardiamente, pois a obsolescência foi constatada quando da invasão da Polônia pela Alemanha, em 1939 (46 anos antes).
III. CONCLUSÃO
Com a adoção do PBEEX 2004, o EB adotou medidas que reduziram significativamente a quantidade de organizações militares blindadas sobre lagartas. Em destaque, os fuzileiros blindados que tiveram diminuição de 17,2% em suas capacidades reduzindo de forma comprometedora o poder de combate da Força Terrestre. A transformação dos RCB em tropas leves reduziriam as forças blindadas sobre lagartas do EB, já consideradas diminutas em relação a outras potências, em cerca de 30%.
No cenário atual, verifica-se que ainda há necessidade do emprego de tropas blindadas sobre lagartas já que as mesmas, de forma única, proporcionam flexibilidade tática ao processo decisório e desempenham satisfatoriamente toda a gama de operações em amplo espectro. Neste sentido, atualmente as Bda C Mec são a organizações mais adaptadas às tendências modernas, pois possuem, ainda que no nível OM, o mix lagarta-rodas. Eliminar os RCB, ou transformá-los em unidades leves, seria caminhar num sentido contrário ao modelo adotado por outros exércitos mais modernos.
A mudança dos meios sobre lagarta para sobre rodas não implica em redução de custos de manutenção, nem tampouco em aumento na mobilidade tática. Os dados a respeito foram amplamente explorados ao longo do artigo.
Por fim, a extinção dos RCB comprometerá as missões das Bda C Mec, já que deixarão de contar com uma OM capaz de atuar com poder de combate adequado em um ponto decisivo, caso necessário. No cenário de defesa externa, em AOC, as Bda Bld teriam que ser utilizadas prematuramente, comprometendo o desempenho da Força Terrestre Componente.
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O autor: Tenente-Coronel Marcelo Carvalho Ribeiro de Cavalaria do Exército Brasileiro, da turma de 1990 da AMAN, e comanda o Centro de Instrução de Blindados (CI Bld).