Cultuar os valores históricos e culturais deixados pelos heróis que nos antecederam e, ao mesmo tempo, enaltecer a Artilharia brasileira em seu passado e presente. Esses foram os objetivos da Festa Nacional da Artilharia (FENART), realizada em 9 de junho, no 3º Grupo de Artilharia de Campanha Autopropulsado, “Regimento Mallet”.
A comemoração do 217º aniversário do Patrono da Artilharia, o insigne Marechal Emílio Luiz Mallet, “Barão de Itapevi”, trouxe ao público uma encenação da Batalha de Tuiuti, a maior batalha campal da América Latina e de fundamental importância para os propósitos dos países aliados durante a Guerra da Tríplice Aliança.
A encenação contou com aproximadamente 180 militares, 30 cavalos, 13 obuseiros e 30 fuzis. A cerimônia foi presidida pelo Comandante Militar do Sul, General de Exército Geraldo Antonio Miotto, e contou com a participação de mais de 20 oficiais-generais; do Prefeito de Santa Maria, Sr Jorge Cladistone Pozzobom; de autoridades civis e militares; e de artilheiros de diversos locais do País.
Além disso, grande público lotou as arquibancadas. No início, uma fração representativa do Regimento de Artilharia a Cavalo (1º RACav) de 1851, sob o Comando do então Capitão Mallet, com uniformes e armamentos históricos, deslocou-se, com passo lento, no pátio de formaturas, representando fato da campanha contra Oribe e Rosas, ocorrida nas planícies pantanosas do Uruguai, quando os soldados atolavam até o joelho na lama, ficando com passo tardo, semelhante aos bois que tracionavam as peças de artilharia.
Por esse fato, os integrantes do 1º RACav ficaram conhecidos como “os bois de botas”. A seguir, relembrando fato que ocorreu em 1864, quando o Tenente-Coronel Mallet conduziu sua Unidade para a campanha contra Aguirre em solo uruguaio, o Comandante Mallet, com seu Estado-Maior, passou pela réplica do pórtico histórico do 1º RACav.
A encenação da Batalha de Tuiuti, remontou feitos que se deram em maio de 1866, quando o Tenente-Coronel Mallet, demonstrando grande visão de líder e conhecedor da arte da guerra, escolheu a posição da artilharia em local de descortino da zona de ação, determinou que durante a noite fosse aberto, em toda frente, largo e profundo fosso e que as terras que resultassem da escavação deveriam ser espalhadas de modo a não formarem parapeito que desse a perceber ao inimigo que estavam fortificados, finalizou a ordem a seus Capitães, dizendo: “e eles que venham!!!”.
Foi destacado, também, na demonstração, a noite de 23 para 24 de maio, quando todos os Corpos de Tropa prepararam-se para orar, dentre eles, o 1º RACav, que possuía a Nossa Senhora da Conceição como Padroeira, estampada em um dos lados do seu estandarte imperial de batalha.
Ao toque de “ajoelhar corpos”, foi rezada a velha oração do Soldado Brasileiro. E, eis que, ao amanhecer de 24 de maio de 1866, prenúncio de um dia histórico, árduo e de grandes embates, o inimigo lançou-se impetuoso contra as posições aliadas, e Mallet exclamou: “os primeiros são para o fosso, que tanto trabalho nos deu!”. Assim aconteceu.
Quando começou a fuga do inimigo, Mallet, em tom de quem fala com grande convicção, exclamou: “por aqui não entram!!!”. Seus atos consagraram-no como o oficial do Exército Brasileiro que prestou mais assinalados serviços na Campanha da Tríplice Aliança.
Após a encenação, todos os presentes foram convidados a dar continuidade a uma das mais caras tradições da Arma da Artilharia: “o brinde do copo d`água”, relembrando o gesto que Mallet realizava com o objetivo de unir sua tropa e sempre que possuía visitantes ilustres, pois, durante a Campanha do Paraguai, a água era de difícil obtenção, em virtude dos campos pantanosos e do cólera.
Para tentar resolver o problema, o Exército Imperial importava água do Brasil, utilizando charretes e carroças que eram tracionadas por bois e cavalos. No prosseguimento da solenidade, a espada de gala que outrora pertenceu ao Patrono da Artilharia e agora integra o acervo do Museu do “Regimento Mallet”, denominação atual do 1º RACav, foi depositada junto ao Mausoléu que abriga, desde 1995, os restos mortais do Marechal Mallet e sua esposa.
O General Miotto, acompanhado do General de Exército Luiz Seldon da Silva Muniz e de descendentes do Marechal, depositou uma corbelha de flores junto ao busto do Patrono da Arma. Representando a Artilharia de ontem, de hoje e de amanhã, os artilheiros da ativa e da reserva, os alunos do Curso de Artilharia do Centro de Preparação de Oficiais da Reserva de Porto Alegre e os alunos do Grêmio da Artilharia dos Colégios Militares de Santa Maria e de Porto Alegre desfilaram em homenagem a seu Patrono.
Dois obuses 105 milímetros autopropulsados M108 foram posicionados em frente ao palanque das autoridades para a realização de tiro de salva, marcando sua última participação na FENART, uma vez que serão substituídos pelas novas viaturas M109 A5 PLUS Br. Os Generais de Exército José Carlos de Nardi e Antônio Hamilton Martins Mourão mobiliaram as peças, e o comando de fogo foi dado pelo General Muniz, oficial-general da turma mais antiga presente no evento.
“Se das bocas de fogo entre os clarões, Deus não te crês dos raios e trovões, Digo-te então: Erraste a vocação. Para trás, inditoso companheiro! Não poderás nunca ser um artilheiro!”. Assim é escrito os versos finais do tradicional poema da Artilharia Brasileira, intitulado “Se”, que foi conduzido pelo Tenente Mallet, descendente de sétima geração do Marechal Mallet, e entoado por todos os artilheiros presentes, antecedendo o encerramento da cerimônia, que ocorreu com o canto da Canção da Artilharia.
Fotos: Luciano Souza e Sd Marques / 3ª DE e 3º GAC AP – CMS/EB