Eliane Cantanhede
BRASÍLIA – Depois de tantas idas e vindas, o governo está finalmente para bater o martelo a favor dos caças Rafale, da Dassault francesa, para renovar a frota da FAB. O anúncio deve ser ainda no primeiro semestre, mas só depois de 6 de maio, data do segundo turno da eleição presidencial na França.
O empurrão final foi a decisão da Índia de comprar 126 Rafale, tirando a Dassault do sufoco. É a primeira encomenda internacional do seu jato, restrito até hoje à própria Força Aérea francesa. Com escala de produção, o preço dos aviões tende a cair também no negócio com o Brasil, esvaziando uma das maiores restrições a eles: o custo do produto e, sobretudo, da manutenção.
Em seguida ao anúncio do negócio dos franceses com os indianos, Celso Amorim (Defesa) foi coincidentemente à Índia, citando em nota a vitória da Dassault e destacando que 108 dos 126 caças "serão construídos no próprio país [a Índia], com transferência tecnológica". A expressão "transferência tecnológica" é um mantra do arrastado programa FX-2, de compra dos aviões.
Lula esteve com a caneta na mão duas vezes para assinar o contrato com os franceses. Na primeira, recuou depois do vexame de anunciar a opção antes de concluído o relatório técnico da FAB. Na segunda, quando a Folha divulgou o resultado desse relatório, com o Gripen sueco em primeiro lugar, o F-18 dos EUA em segundo e o Rafale em terceiro e último.
Ao assumir, Dilma usou o bom argumento do corte de Orçamento para estudar o negócio. A vitória do Gripen na FAB passou a ser considerada e o F-18 voltou à roda. Mas, durante um ano, cristalizaram-se duas certezas no governo:
1) o Gripen é só um projeto e a Suécia tem peso político zero;
2) é impossível confiar na promessa de transferência de tecnologia dos EUA, sujeita aos humores do Congresso e à alternância de poder.
Tudo indica que os Rafale vêm aí.
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