GAZETA DE TAUBATÉ (SP)
Após receber a missão do Coter (Comando de Operações Terrestres), órgão vinculado ao Comando do Exército, em 2013, de combater ameaças terroristas nas Olimpíadas, o Cavex (Comando de Aviação do Exército) iniciou a jornada de treinamento rumo aos jogos.
Desde então, militares e helicópteros de Taubaté e soldados da região participam de inúmeras operações para refinar os procedimentos e se preparar para as piores situações, sem esquecer o imponderável.
“Não sou pago pela minha própria nação para acreditar que isso [terrorismo] possa não acontecer em meu país”, afirma o General de Brigada Achilles Furlan Neto, comandante do Cavex.
“Muito pelo contrário. Todo soldado tem a missão de pensar nisso o tempo todo. Tenho que trabalhar com o pior cenário possível.”
Um dos grandes trunfos do Cavex é o equipamento chamado de “Olho de Águia”. Trata-se de potente câmera acoplada embaixo de um helicóptero. A aeronave sobrevoará área envolvida em crise ou tumulto e enviará imagens, em tempo real, para o comando geral das Olimpíadas, gabinete que reunirá representantes de todas as forças.
“Temos que pegar toda a capacidade que temos e focar o emprego para o Rio de Janeiro”, afirma o comandante.
A seguir, os principais trechos de entrevista com o General Furlan Neto.
Que missão terá o Cavex no Rio de Janeiro?
O Comando de Operações Terrestres deu a missão para a aviação do Exército, que inclui as ações contra terror, transporte de tropa, escolta de comboios e comitivas e atualização da situação situacional, com o sistema Olho da Águia. Estamos preparados para todas essas coisas.
O helicóptero será fundamental na segurança?
R: Trata-se de uma máquina versátil, uma máquina de guerra sensacional. Temos que pegar todas as nossas capacidades e focar o emprego para o Rio de Janeiro, no evento olímpico. É uma operação interagência clássica e recebemos o nosso papel. Essa é a nossa preparação. Qualquer aeronave voando hoje pode estar em contexto de treinamento para as olimpíadas.
Que desafios o Rio traz?
R: Tem um problema militar, de organização da cidade, e a questão olímpica. É como uma equação que tem constantes e variáveis. Algumas das coisas que encontraremos são constantes. Quando se domina isso, sobra mais energia para atuar no que será variável e inédito. Por ser o Rio, já voamos bastante lá e conhecemos a área. Consideramos constantes alguns dados, como a cidade, trânsito, tráfego aéreo, coordenação das agências e até os morros. A preparação para isso está praticamente pronta. Vai sobrar o que é variável ou inédito, e é aí que entra a genialidade da solução para o problema militar, que pode ser muito simples ou complexo, mas é muito difícil definir com exatidão tudo o que vai fazer.
Terrorismo?
R: Essa é a principal variável. O terrorismo é um fenômeno que não é novo. Mudou de jeito e seu rosto várias vezes ao longo da História. Mas uma coisa que tem marcante é a necessidade de escandalizar, aparecer na mídia, chocar, como em Paris. Esse é o combustível do terrorismo. Busca locais com muita gente, cobertura de mídia e impacto. Quando ataca 120 pessoas numa casa de espetáculo, aquilo aparece na mídia mundial. O espectador quer saber e a mídia tem a sagrada missão de informar. Olha só que dilema. Olimpíadas são evento mundial com cobertura de mídia espetacular, e é o combustível principal.
Rio é um alvo?
R: As Olimpíadas são um alvo para o terrorismo. Só não poderia dizer isso se fosse muito inocente e despreparado, e a nação não quer nenhum soldado inocente e despreparado. No contexto nacional, das forças armadas, do Exército, e respondo pela aviação, temos que nos preparar para isso. É um problema militar e dentro dele a variável é terrível, o terrorismo. Não posso achar que nada vai ocorrer.
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Militares do Vale estão na linha de frente do combate ao terror
Militares da RMVale entraram este mês na reta final dos preparativos para o combate a ataques terroristas durante as Olimpíadas do Rio de Janeiro, que será realizada entre 3 e 21 de agosto.
A ameaça de atentados no país aumentou depois que a Abin (Agência Brasileira de Inteligência) admitiu oficialmente que o Estado Islâmico promete ataques no Brasil.
Tropas do Vale estão escaladas para atuar na linha de frente da segurança do evento. São centenas de militares lotados no Cavex (Comando de Aviação do Exército), de Taubaté, e também no 5º BIL (Batalhão de Infantaria Leve), com sede em Lorena.
A principal força de combate da região será o Cavex — serão cerca de 400 militares e 48 aeronaves operando em função dos jogos. Todos estão preparados para combater as piores situações possíveis, incluindo atentados.
No final de março e início de abril, militares da região e helicópteros do Cavex participaram da Operação Pão de Açúcar, treinamento de combate militar realizado na zona oeste do Rio de Janeiro.
Foram praticados desembarques de emergência para atuação das forças especiais nos jogos. A operação buscou reconhecer pontos estratégicos, ambientar os militares e simular as medidas que podem ser adotadas, caso haja ameaças terroristas.
O exercício teve a participação de 14 helicópteros do Cavex e de aproximadamente 160 militares de Taubaté, além de tropas especiais de outras unidades do Exército de outras áreas do país.
Radicais
A ameaça do Estado Islâmico foi postada por um terrorista em novembro, por meio do Twitter. “Brasil, vocês são nosso próximo alvo”, postou o francês Maxime Hauchard, logo após os atentados que deixaram 129 mortos na França, em 13 de novembro de 2015.
O Estado Islâmico reivindicou a autoria dos ataques.
Conhecido pelo apelido ‘o carrasco’, o francês é suspeito de ser um dos terroristas que aparecem em vídeos que exibem a decapitação de pessoas sequestradas ou feitas prisioneiras pelo grupo.
Em palestra em São Paulo, em 13 de abril, Luiz Alberto Sallaberry, diretor do Departamento de Contraterrorismo da Abin, confirmou a informação.
Tocha
A preocupação não é só com os jogos e com o Rio, mas com os 300 municípios brasileiros por onde a tocha olímpica passará a partir de 3 de maio, sendo seis deles na RMVale: São José, Taubaté, Jacareí, Ilhabela, São Luiz do Paraitinga e Ubatuba.
A tocha percorrerá o país durante 90 dias — serão 20 mil quilômetros. A extensão do trajeto e a quantidade de pessoas que o revezamento atrairá trazem desafios extras para a segurança, segundo a Abin.
A agência preparou um relatório que aponta o potencial de ameaça terrorista durante a passagem da tocha. Cada cidade recebeu uma classificação de sensibilidade ao risco terrorista em três categorias: alto, médio e baixo. A classificação não foi divulgada.