Luis Kawaguti
O caça sueco escolhido pelo Brasil para renovar a frota de sua Força Aérea é mais barato e versátil que as opções americana e francesa. Porém, carrega menos armas e terá que ser adaptado para cobrir as grandes distâncias de um país continental, segundo especialistas ouvidos pela BBC Brasil.
O Gripen, da fabricante Saab, é um avião menor que seus concorrentes F-18, da Boeing americana, e o Rafale, da Dassault francesa.
Enquanto o F-18 e o Rafale decolam carregando de 29 e 24,5 toneladas, o Gripen levanta voo com apenas 14 toneladas. Na prática isso significa que os primeiros conseguem levar mais mísseis e bombas, além de mais combustível, garantindo maior autonomia de voo.
Segundo o editor do site especializado Defesanet, Nelson During, o F-18 e o Rafale são de uma categoria diferente e têm propósitos diversos em relação ao Gripen.
"Algo que pesou para o governo é que o Gripen é um projeto no qual podemos entrar e participar. O F-18 e o Rafale são projetos acabados", afirmou.
De acordo com informações do governo brasileiro, o país participará do desenvolvimento dos aviões e haverá repasse de tecnologia – o que no futuro pode ajudar o país a desenvolver caças de última geração. Cerca de 40% da aeronave deve ser fabricada em território nacional.
Pelo acordo fechado com a Saab, a partir de 2018 o Brasil começará a receber uma nova versão do avião, o Gripen-Nova Geração, que será um modelo com adaptações à realidade brasileira.
O objetivo inicial do projeto Gripen foi desenvolver um caça muito ágil, porém sem grande automonia de voo – características adequadas para a defesa de um país com as dimensões da Suécia.
Um oficial da FAB (Força Aérea Brasileira) que participou dos projetos F-X, que tratam da compra dos caças pelo Brasil, disse à BBC Brasil que uma das principais vantagens observadas pela entidade ao defender a compra do Gripen foi a questão econômica.
Segundo During, a hora de voo do Gripen que será desenvolvido custará cerca de um terço do valor da hora do F-18. Além disso, o caça tem apenas um motor (o F-18 e o Rafale têm dois), o que diminui a quantidade de manutenção requerida pelo avião – embora também diminua, em tese, sua segurança, isso porque, se um motor falhar, o avião pode continuar voando com o outro.
Outra desvantagem é que diferente do F-18 e do Rafale, o Gripen ainda não foi testado em combates reais.
A ideia trabalhada pela FAB é a de que não seria necessário manter armas tão poderosas quanto o F-18 e o Rafale dentro do atual contexto geopolítico do continente sul-americano.
Estratégia de defesa
O Gripen foi desenvolvido na Suécia com uma característica marcante: ser capaz de pousar e decolar em pequenas pistas – em alguns casos até em uma avenida ou pista de pouso precária.
Essa capacidade faz com que ele não dependa de grandes bases aéreas para operar. No Brasil, poderia em tese pousar nos pequenos pelotões de fronteira do Exército na Amazônia, para reabastecer e se rearmar.
Segundo analistas, o Gripen começou a ser planejado no final da década de 1970 para integrar a defesa do país contra um eventual ataque da União Soviética, entre outras ameaças.
A ideia seria espalhar muitos aviões pelo país criando uma rede de resistência ao invés de concentrá-los em grandes bases aéreas – que poderiam ser atacadas facilmente por uma potência militar maior.
O Brasil hoje não enfrenta ameaças dessa natureza, mas a estratégia de defesa nacional prevê sim eventuais ataques de nações mais poderosas militarmente.
Contudo, segundo analistas, quando a FAB cogitou pela primeira vez comprar o Gripen, previu a aquisição de pelo menos 100 unidades e não apenas 36. A ideia era espalhar os aviões por todo o país para superar sua desvantagem técnica de menor autonomia de vôo.
Porta-aviões
A escolha do Gripen faz com que os caças adquiridos pela FAB não possam ser usado inicialmente no porta-aviões São Paulo, da Marinha brasileira.
O F-18 foi projetado para operar em porta-aviões (embora não do tipo que o Brasil tem, por isso adaptações seriam necessárias) e o Rafale já foi aprovado em testes nesse tipo de embarcação.
Já o Gripen é um avião projetado para operar a partir de bases terrestres. Por causa disso, no futuro, a Marinha terá que adquirir seus próprios caças para substituir os modelos usados no São Paulo.
Outra hipótese é que a Saab desenvolva um modelo marítimo do Gripen – o que segundo especialistas já está sendo estudado pela empresa. Esse projeto terá de usar materiais mais resistentes à ação da maresia, por exemplo, e terá de prever estruturas resistentes ao pouso em navios, considerado mais desgastante para as aeronaves que o pouso em bases aéreas.