Jorge Vasconcelos
Até o fim deste semestre, 750 militares brasileiros deverão integrar, a convite da ONU, a Missão de Paz das Nações Unidas na República Centro Africana, onde confrontos entre grupos paramilitares já causaram milhares de mortes e obrigaram cerca de 700 mil pessoas a abandonar seus lares.
Dez militares da Marinha, do Exército e da Aeronáutica viajaram ao país africano, na semana passada, para uma operação prévia de reconhecimento. A informação foi passada com exclusividade ao Correio pelo general Ajax Porto Pinheiro, adjunto do gabinete do Comando do Exército e último comandante da missão de paz encerrada, no ano passado, no Haiti.
Segundo ele, faltam apenas uma discussão sobre custos operacionais e a autorização do Palácio do Planalto para que o envio da tropa seja formalizado. “A tendência é mesmo no sentido de o Brasil participar dessa missão de paz. Militares do Ministério da Defesa estão na República Centro Africana em operação de reconhecimento do terreno, onde o norte é subsaariano, com deserto; o centro é de savanas e o sul tem florestas e rios caudalosos”, afirmou o general.
“Sou favorável ao envio da tropa, porque o Brasil é um país de peso e não pode se furtar a agir em zonas conflagradas. A participação em uma missão de paz confere significativa projeção internacional ao país, além de favorecer que a tropa seja melhor treinada”, acrescentou.
A Missão Multidimensional Integrada das Nações Unidas para a Estabilização da República Centro Africana (Minusca) conta com cerca de 10 mil militares de diferentes países. As operações começaram no início de 2014, em meio a confrontos deflagrados com a deposição do presidente François Bozizé, agravados por uma disputa de cunho étnico e religioso entre cristãos e muçulmanos.
O convite oficial para a participação brasileira na missão foi feito pela ONU, em 22 de novembro do ano passado. Segundo o general Ajax, os militares brasileiros deverão enfrentar desafios muito maiores que no Haiti. “O grau de periculosidade na República Centro Africana é muito maior se comparado ao Haiti, pois são 10 grupos armados que combatem em um confronto entre muçulmanos e cristãos.
Também disputam poder e o acesso às riquezas minerais, principalmente o diamante, que é muito disputado naquele país”, disse o militar, acrescentando que, atualmente, as missões de paz da ONU de maior de risco estão na República Centro Africana, no Congo, no Sudão do Sul e no Mali. Neste último, as tropas enfrentam inimigos como militantes da rede terrorista Al-Qaeda.
Haiti multiplicado
O oficial destacou também que a República Centro Africana, um dos países mais pobres do mundo, tem um território vinte vezes maior que o Haiti — 600 mil km² contra 27 mil km² —, o que exige outro tipo de preparação para os militares brasileiros. “O Haiti tem um território equivalente à metade da Ilha de Marajó, e lá a nossa tropa praticamente ficava concentrada na zona urbana.
Já a situação na República Centro Africana é bem diferente. São três ecossistemas diversos e há a ocorrência de emboscadas contra as tropas da ONU”, disse o general. No ano passado, 21 militares dessas tropas morreram em ataques.
10 mil
Total aproximado de efetivos da Missão Multidimensional Integrada das Nações Unidas para Estabilização da República Centro Africana (Minusca).
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Leia aqui o relatório do Gen Santos Cruz. [Link – arquivo em PDF] |