Júlio Ottoboni
Especial para DefesaNet
Organizados, pragmáticos e com um mercado gigantesco, os Estados Unidos avança sobre o Brasil e sua desorganização, a falta de ação e o mercado cada vez mais agravado pela crise. Especialistas do Brasil e dos Estados Unidos se reuniram em Brasília no debate “ Parceria Brasil-Estados Unidos sobre Aviação”.
Esse projeto é considerado uma nova etapa do acordo entre os dois países, que inclui workshops no Brasil e missões técnicas nos Estados Unidos. O objetivo do evento organizado pela Secretaria de Aviação (Aviação) e Agência dos Estados Unidos para Comércio e Desenvolvimento (USTDA) – com apoio da Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC) e Administração Federal da Aviação (FAA) – é a transferência mútua de conhecimento de novas tecnologias e formatos de gestão em relação a variados temas da aviação civil.
O foco agora foi Aviation Design. O debate abordou os desafios da indústria aeroportuária e das autoridades de aviação civil para assegurar um maior acesso ao transporte aéreo para os cidadãos de todo o país. O processo incluirá melhorias na construção de aeroportos com design moderno e funcional e com capacidade para receber novas aeronaves e tecnologias, ao mesmo tempo em que garante conforto aos passageiros, para aprimoramento do transporte aéreo brasileiro.
Os debates incluíram a apresentação da parceria entre os dois países e uma visão geral do seminário; panorama da indústria norte-americana especialista em design de aeroportos; plano diretor dos aeroportos; o impacto das aeronaves no design de aeroportos; e planejamento do espaço aéreo.
A diretora do Departamento de Regulação e Concorrência da Secretaria de Aviação da SAC, Martha Seillier, falou sobre a mudança de paradigma no setor aeroportuário brasileiro, com a introdução da parceria privada nos investimentos na gestão desses aeroportos. “Com as concessões temos um tipo diferenciado de percepção de aeroporto, de desenvolvimento de sítio aeroportuário, exploração maior de espaços comerciais de aeroportos e a percepção de que passageiro em fila é má ideia. Passageiro dentro da área de embarque, após as filas de inspeção com agilidade, tem facilidade de descansar, fazer um lanche, consumir dentro do aeroporto”.
Segundo ela, apesar do design aeroportuário estar muito pautado em regras de segurança, que dizem respeito à segurança e transporte aéreo, a mudança de gestão dos aeroportos trouxe, também, uma mudança na percepção do usuário, em relação à qualidade do serviço. Ela disse que a FAA tem muito a colaborar com o Brasil em termos de aprendizado. E que é importante apresentar um design bonito, com aeroportos mais confortáveis, com mais lojas, tempos de filas menores, banheiros mais limpos e internet mais rápida, por exemplo.
“Chegar mais cedo ao aeroporto passa a ser uma opção confortável. Posso resolver um problema, comprar um livro, me atualizar de alguma informação, comer num bom restaurante. Mudou muito a percepção dos passageiros e das companhias aéreas em relação aos nossos aeroportos. E você trazer os Estados Unidos, país com uma aviação desenvolvida como a deles, agrega muito. Nós temos muito amadurecer, mas temos muito a agregar. Eles têm a aprender conosco, também”, afirma Martha Seillier.
O evento faz parte da parceria de aviação Brasil-Estados Unidos, que está em sua segunda fase. “Em novembro, por exemplo, estamos programando visitas aos Estados Unidos, para conhecer os programas e os equipamentos de combate a incêndio nos aeroportos. Do ponto de vista brasileiro, o intuito é aproveitar essa cooperação técnica para assimilar conhecimento em determinadas áreas. Do ponto de vista norte-americano, o interesse é promover serviços e equipamentos afins”, explica João Lanari Bo, assessor para Assuntos Internacional da Secretaria de Aviação.
Em abril de 2012 foi assinado um Memorando de Entendimento entre os Estados Unidos e o Brasil, oficializando a Parceria de Aviação Brasil-EUA. Os objetivos são fornecer um veículo coordenado e estruturado entre os setores da aviação brasileira e norte-americana, com o intuito de abordar as prioridades de investimento do setor da aviação, compartilhar experiências sobre as melhores práticas da indústria, melhorar a capacidade técnica e desenvolver soluções tecnológicas para os desafios do setor de aviação.
Uma série de visitas técnicas, workshops e conferências irão ocorrer no Brasil e nos Estados Unidos. Em 2015, por exemplo, equipes da SAC visitaram aeroportos regionais dos Estados Unidos para conhecer o trabalho das torres remotas no controle do espaço aéreo. Outra visita técnica foi feita no Rio de Janeiro para avaliar a questão da navegação aérea.
Os tópicos de discussão durante o workshop incluem: Planos-Diretores dos Aeroportos; Planos de Layout dos Aeroportos; Incorporação de GIS e Planos Eletrônicos de Layout dos Aeroportos; Comprimento de Pista e Análises de Capacidade Relacionadas à Expansão dos Aeroportos Brasileiros; Efeito dos Novos Tipos de Aeronaves no Desenho dos Aeroportos; Regulamentações do Setor Brasileiro de Aviação vs. FAA e OACI-ICAO; Planejamento da Capacidade Aeroportuária; Planejamento do Sistema de Cargas – Incluindo Práticas Recomendadas pela IATA/OACI-ICAO; Programação do Espaço nos Terminais com Base nas Recomendações do Nível de Serviços da IATA; e Planejamento e Roteamento do Espaço Aéreo.