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Boicotar fabricante israelense de veículo militar seria um erro

Diplomacia guiada por inclinações de assessor de Lula prejudica os interesses do Exército brasileiro

Editorial O Globo (06/09/2024)

Não tem cabimento a gestão do assessor para Assuntos Internacionais da Presidência, Celso Amorim, para convencer o presidente Luiz Inácio Lula da Silva a não assinar contrato com a empresa israelense Elbit Systems, vencedora de uma licitação de R$ 1 bilhão em abril para fornecer veículos de combate ao Exército brasileiro.

O Ministério da Defesa argumenta, com razão, que não faz sentido desclassificar, sem nenhuma justificativa técnica, a primeira colocada num leilão realizado de forma transparente, segundo a lei. Apenas por cautela, encomendou parecer ao Tribunal de Contas da União (TCU) sobre a possibilidade de declarar vencedora a segunda colocada no caso de haver conflito armado no país da vencedora, como o hoje em curso em Israel e na Faixa de Gaza.

Mas o Estatuto das Licitações e Contratos, citado pelo ministério, não impede a compra de bens de governos ou empresas de países em situação de guerra. “Não haveria, em princípio, embasamento lógico ou jurídico, salvo nos casos de decretação de embargo comercial, ruptura de relações diplomáticas ou comerciais ou deliberação de Corte internacional, para efetuar eventual rescisão de contrato já assinado”, afirma o próprio Ministério.

A Elbit, vencedora da licitação, não tem participação acionária do governo israelense e mantém duas subsidiárias no Brasil, uma em Porto Alegre, outra em Duque de Caxias (RJ). A compra dos veículos israelenses contribuiria para a indústria de defesa nacional: a montagem final poderia ser realizada em solo brasileiro e haveria incentivo à produção de munição no Brasil.

Nada disso, porém, comove a diplomacia que defende o boicote movida pelas inclinações de Amorim. Para convencer Lula a cancelar o contrato — que deveria ter sido assinado em maio, mas ainda não foi —, ele alega que o Brasil não deveria comprar da empresa de um país que, na visão dele, ofendeu Lula e o governo brasileiro. Em fevereiro, Lula foi declarado persona non grata em Israel depois do discurso na Etiópia em que comparou as ações israelenses em Gaza às de Adolf Hitler contra os judeus. Em reação, o chanceler israelense convocou o então embaixador brasileiro Frederico Meyer para ser repreendido publicamente no Museu do Holocausto em Jerusalém. O Brasil convocou-o de volta e, desde então, não tem embaixador lá.

É verdade que a atitude de Israel ao passar um pito público em Meyer foi além do razoável. Mas havia motivo. O paralelo de Lula entre a ofensiva militar israelense — por mais cruel que ela seja — e o genocídio cometido pelos nazistas é historicamente absurdo e de um antissemitismo flagrante. Lula ofendeu todos os judeus e demais vítimas do Holocausto, seus descendentes — entre eles dezenas de milhares de brasileiros — e as consciências justas do mundo todo. E, até agora, não se dignou a pedir desculpas. Não deveria piorar ainda mais a situação prejudicando os negócios do Exército brasileiro.

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