LUIZ GUILHERME GERBELLI
Uma prévia do que a Boeing quer oferecer ao governo brasileiro está à mostra hoje na Escola Politécnica, da Universidade de São Paulo (USP). A fabricante de aviões americana vai colocar em uso um simulador do caça F-18 Super Hornet, modelo que deseja vender para o Brasil no processo de renovação da frota da Força Aérea Brasileira (FAB).
O simulador é mais uma iniciativa da Boeing de estreitar os laços com o Brasil. A Boeing disputa com a francesa Dassault e a sueca Saab o direito de comercializar 36 caças para a FAB. A troca dos caças foi anunciada pelo ex-presidente Lula em 2007, mas se arrasta desde então – a presidente Dilma Rousseff já sinalizou que deve definir a escolha ainda no primeiro semestre.
Recentemente, a empresa também anunciou a criação de um centro de pesquisa em São Paulo. Segundo a companhia, o Boeing Research & Technology-Brasil vai trabalhar com pesquisadores e cientistas do País no desenvolvimento de tecnologias aeroespaciais. A pesquisa deve abranger biocombustíveis sustentáveis, gestão do tráfego aéreo, entre outros assuntos do setor.
"A Boeing enxerga o Brasil como um mercado muito promissor e por isso tem firmado essas parcerias", afirmou Rob Figge, diretor de Desenvolvimento de Negócios da Boeing. "O objetivo dessa ação é mostrar para os futuros engenheiros toda a nossa tecnologia."
O aceno para a importância do mercado brasileiro é tanto que a presidente da empresa, Donna Hrinak, estará amanhã na Escola Politécnica para participar do lançamento do simulador de seis toneladas. A escolha de Donna para comandar o escritório da Boeing no País no fim do ano passado não foi despretensiosa. Ela é apontada como uma especialista em Brasil, já que foi embaixadora dos Estados Unidos no País entre 2002 e 2004. O caça F-18 Super Hornet já é usado pelo governo australiano e pela marinha dos Estados Unidos.
O equipamento exibido na Poli tem aproximadamente 60% de toda a tecnologia que é embarcada em um caça real. O preço para a construção de um simulador do porte da Boeing varia entre US$ 1 milhão e US$ 3 milhões – alguns simuladores chegam a ter o mesmo preço de um avião real.
"Esses simuladores são portadores de uma tecnologia muito grande. Ter essa exclusividade é muito importante, é algo raro de a gente ter", afirmou o professor Marcelo Zuffo, do Laboratório de Sistemas Integráveis da Escola Politécnica. De acordo ele, a indústria de aviação americana é responsável pelo desenvolvimento de muitas tecnologias, como as que são utilizadas nas câmeras digitais. "A experiência é única porque normalmente você tem um acesso muito restrito a esse tipo tecnologia."
Indústria. Para Zuffo, com o crescimento econômico do País e o estrangulamento do setor aéreo brasileiro, é possível usar todo esse conhecimento para induzir uma indústria de simulação e melhorar a segurança do setor. "Na área de simulação de treinamento, o Brasil esta muito defasado. Sob qualquer ponto de visto o uso do simulador paga qualquer custo que você tem", diz Zuffo. Segundo ele, o Brasil ainda tem uma quantidade bastante inferior a dos Estados Unidos no número de simuladores.
O professor disse que a indústria de simulação é altamente empregadora e promove o uso da tecnologia de ponta. "Essa tecnologia tem implicação em várias setores da economia desde o entretenimento até a segurança nos nosso sistema aéreo e naval." Ontem, o simulador do F-18 Super Hornet levou quatro horas para ser montado. Ele ficará em uso só até hoje.