Quatro horas da manhã. Dispara o alarme do sistema de defesa aérea na Base de Santa Cruz (BASC), na Zona Oeste da cidade do Rio de Janeiro. O sinal é senha de uma possível ameaça ao espaço aéreo brasileiro. Minutos depois, militares do Primeiro Grupo de Aviação de Caça (1º GAVCA) já estão a postos para decolar com caças F-5 e interceptar o intruso. A invasão do espaço aéreo brasileiro, no entanto, foi só uma simulação para treinar a prontidão daqueles que zelam 24 horas pela segurança do território brasileiro.
Os acionamentos são imprevisíveis e fazem parte da rotina de treinamentos dos militares. Tudo isso para manter a operacionalidade da unidade responsável pela defesa aérea do polo industrial do Sudeste, região que concentra 58% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro. Na área de atuação do 1º GAVCA estão o eixo Rio-São Paulo e infrastruturas estratégicas como usinas nucleares, indústrias de alta tecnologia e as duas cidades mais populosas do País.
Para que o esquadrão cumpra com efetividade a missão, é imprescindível ter a BASC como sede. Partindo da base, os caças chegam a qualquer ponto da cidade de São Paulo em exatos 20 minutos. Se o destino for Angra dos Reis, apenas cinco minutos. Já para Belo Horizonte, 35 minutos. Sobre o centro do Rio de Janeiro, são dezenas de segundos após a decolagem.
A posição geográfica também justifica a presença, na BASC, do Esquadrão Adelphi (1º/16º GAV), preparado para atacar em vários pontos do País. “O caça A-1M pode decolar de Santa Cruz e fazer incursões próximas ao eixo Rio-São Paulo e retornar para a base sem a necessidade de reabastecimento”, explica o comandante do Esquadrão, Tenente-Coronel Roberto Martire Pires. As missões de ataque também podem ocorrer sobre o mar, onde há campos petrolíferos, atividades pesqueiras e trânsito intenso de navios de carga.
Exercícios operacionais
Além do Primeiro Grupo de Aviação de Caça e do Esquadrão Adelphi, a infraestrutura da BASC também é utilizada para sediar treinamentos com a participação de outros esquadrões da FAB e até de outros países. O número de voos pode aumentar em 40% durante esses exercícios, se comparado com os dias normais.
Em novembro, a Base receberá o exercício operacional USABRA, que vai envolver os caças F-5 e A-1 da Força Aérea Brasileira e o porta-aviões USS George Washington (CVN-73) da Marinha dos Estados Unidos, com caças F-18. “O objetivo é verificar a prontidão da tripulação para o combate”, explica o comandante do 1º GAVCA, Tenente-Coronel Rubens Gonçalves.
O exercício será apenas mais um com sede na base. Em setembro, foi realizado a Orunganitas II, que contou, pela primeira vez, com o lançamento de bombas a partir da aeronave de patrulha marítima P-3AM Orion. Para o comandante do Esquadrão Orungan (1º/7º GAV), Tenente-Coronel Antônio Ferreira de Lima Junior, a BASC é ideal para realizar o treinamento. “Possui todos os equipamentos para armar a aeronave e é um aeródromo totalmente militar. Não teríamos como fazer em outra base”, afirma
Não só a FAB, mas Marinha e Exército também realizam missões em Santa Cruz. “Quando a Marinha treina no estande de tiros de Marambaia, ela reabastece as aeronaves e troca a tripulação na base. Já o Exército solicita apoio para as manobras de artilharia antiaérea”, conta o comandante da Base, Coronel Luiz Cláudio Macedo Santos.
De acordo com o Coronel, a BASC tem capacidade para absorver diversos treinamentos. Com 2.300 hectares de área e o entorno pouco habitado, torna-se seguro utilizar aeronaves armadas. Além disso, o tráfego aéreo não sofre interferências de aeronaves civis.
A proximidade do estante de tiro localizado na restinga de Marambaia, a apenas 18 quilômetros de distância, também contribui para a realização de treinamentos a partir da BASC. Com alvos mais próximos, as aeronaves gastam menos combustível em cada missão de treinamento.
Base Aérea é peça-chave para segurança nas Olimpíadas
Em agosto de 2016, os Jogos Olímpicos trarão para o Rio de Janeiro mais de dez mil atletas de 206 países, que irão disputar 306 medalhas em 17 dias de competição. Nos bastidores desse evento, muita movimentação e a montagem de uma estrutura especial para garantir que os holofotes captem somente o brilho dos competidores. Toda essa preparação também envolve a Base Aérea de Santa Cruz, que será uma das unidades militares responsáveis pela segurança do espaço aéreo durante o período.
Segundo o comandante da BASC, Coronel Luiz Cláudio Macedo Santos, a base receberá cerca de 250 militares de cinco esquadrões, que vão atuar em turnos, visando manter a soberania nacional e a segurança dos voos durante 24 horas. Aviões de caça, transporte, helicópteros e Aeronaves Remotamente Pilotadas serão diretamente empregados. “Os aviões e os militares começam a chegar dois meses antes do evento e permanecem até dez dias depois. Como os Jogos Paraolímpicos ocorrem na sequência, a estrutura operacional será mantida. Assim, o envolvimento da base deve durar, aproximadamente, quatro meses”, explica.
A BASC também teve a mesma atuação em outros grandes eventos, como a Copa das Confederações, a Rio+20, a Jornada Mundial da Juventude e a Copa do Mundo.
Ação social
O dia a dia da base, porém, não se resume à atuação dos caças. Santa Cruz forma por ano de 70 a 120 soldados, número que varia de acordo com as vagas disponibilizadas no Batalhão de Infantaria (BINFA) e, em funções auxiliares, nos dois esquadrões e nas outras duas unidades sediadas na BASC: o Primeiro Grupo de Comunicações e Controle (1º GCC) e o Destacamento de Controle do Espaço Aéreo de Santa Cruz (DTCEA-SC). Para muitos jovens, ingressar como soldado é a oportunidade de ter uma formação para o mercado de trabalho ou de seguir na carreira militar.
A comunidade também participa de eventos promovidos pela Base. As ações cívico-sociais promovem atendimento médico e odontológico, além de atividades educativas voltadas para a prevenção de doenças. Há ainda palestras sobre cidadania para a juventude, que ocorrem várias vezes por ano. “A base tem essa preocupação de estar junto da população. Esses eventos mostram nosso trabalho e podem atrair os jovens para a carreira militar”, explica o comandante da BASC.
História
Tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), o hangar de 274 metros de comprimento, 58 de altura e 58 de largura localizado ao lado da pista da BASC foi inaugurado em 26 de dezembro de 1936 para receber o dirigível Zeppelin. A operação civil durou pouco: já no ano seguinte a Alemanha encerrou os voos comerciais após a tragédia com o Hindenburg. Com a criação do Ministério da Aeronáutica, em 1941, Santa Cruz se tornou sede do 1º Regimento de Aviação.
Durante a Segunda Guerra, a Base recebeu dirigíveis da Marinha dos Estados Unidos utilizados em missões de patrulha marítima. Após o conflito, em 1945, a Base recebeu o 1° Grupo de Aviação de Caça, que combateu na Itália e até hoje está sediado na Base Aérea de Santa Cruz.