Saulo Freire Landgraf – Cap
6º RCB
(Alegrete-RS)
Fonte: AÇÃO DE CHOQUE
A FORJA DA TROPA BLINDADA DO BRASIL
CIBld – Seção de Doutrina
ATUAÇÃO DO CAPITÃO PLÍNIO PITALUGA, COMANDANTE DO1º ESQUADRÃO DE RECONHECIMENTO MECANIZADO DURANTE A II GUERRA MUNDIAL, POR OCASIÃO DOS COMBATES EM COLLECCHIO-FORNOVO E OS ENSINAMENTOS COLHIDOS PARA LIDERANÇA MILITAR
(título original)
A liderança militar é um dos principais componentes para a eficiência de um Exército em campanha e a Segunda Guerra Mundial foi o último grande conflito que o Exército Brasileiro participou.
Nesta campanha se destaca o nome de um dos comandantes de subunidade mais eficientes de toda tropa brasileira, o então capitão Plínio Pitaluga, comandante do 1º Esquadrão de Reconhecimento Mecanizado.
Este trabalho buscou obter e integrar os conceitos básicos relativos às partes do tema em estudo com o objetivo de responder se a atuação do Cap Plínio Pitaluga, durante as ações em Collecchio-Fornovo, pode ser considerada um exemplo de liderança aplicável no estudo da doutrina da liderança militar nos dias atuais.
O trabalho baseou-se em uma pesquisa bibliográfica fundamentada em autores reconhecidos no meio acadêmico, delimitada ao estudo deste militar naquela ocasião. Os dados obtidos no trabalho indicam que o exercício da liderança pelo militar estudado durante a campanha da Força Expedicionária Brasileira na Segunda Guerra Mundial influenciou de maneira significativa o resultado das operações militares desenvolvidas pela tropa sob seu comando do referido militar.
1. INTRODUÇÃO
Em 20 de setembro de 1944, do 1º Esquadrão de Reconhecimento Mecanizado, exceto o 2º Pelotão, parte, junto ao 2º Escalão da Força Expedicionária Brasileira (FEB), para uma terra para eles desconhecida. O perigo iniciava-se a partir do desatracamento do navio de transporte americano “Gen MANN” por águas infestadas de submarinos inimigos, com destino à península Itálica, onde a Guerra os aguardava.
Entre os passageiros encontrava-se o 1º Tenente de Cavalaria Plínio Pitaluga em companhia de outros oficiais e praças que fizeram a história da FEB. Apesar de uma história rica de sacrifícios e acontecimentos, no estudo da “Liderança Militar” poucas são as referências atribuídas aos “febianos”. Os motivos para isso são diversos, mas injustificáveis.
O presente trabalho procurou trazer a lume aspectos relativos à liderança do Capitão Pitaluga no comando do 1º Esquadrão de Reconhecimento Mecanizado durante a II Guerra Mundial, por ocasião dos combates em Collecchio-Fornovo, e os ensinamentos colhidos para a liderança militar.
General Plínio Pitaluga – Arquivo EB
2. DESENVOLVIMENTO
2. 1 Metodologia
O presente estudo foi realizado dentro de um processo científico e procedimentos metodológicos. Assim, iniciou-se com a realização de pesquisas documentais e bibliográficas, onde, primeiramente, foram analisados textos referentes à atuação do Cap Pitaluga em Collecchio-Fornovo, bem como a história do 1º Esquadrão de Reconhecimento Mecanizado (1º Esqd Rec Mec), foram buscados nessa fase fatos relativos à atuação do Cap Pitaluga.
Em seguida, visando a relacionar esses fatos com a doutrina de Liderança Militar Brasileira, foi realizada uma revisão teórica do assunto, por meio da consulta bibliográfica a manuais doutrinários, documentos e trabalhos científicos (artigos, trabalhos de conclusão de curso e dissertações), a qual prosseguiu até a fase de análise dos dados coletados neste processo (discussão de resultados).
Por fim, foi analisada a documentação obtida relativa à atuação do Cap Plínio Pitaluga, sendo submetida a uma comparação com o manual C 20-10 Liderança Militar, em seu capítulo 5, Competências do Líder Militar, e apreciada a fim de se obter a resposta à questão: A atuação do Cap Plínio Pitaluga no comando do 1º Esquadrão de Reconhecimento Mecanizado da FEB, durante as ações em Collecchio-Fornovo, pode ser considerada um exemplo de liderança aplicável ao estudo da doutrina da liderança militar nos dias atuais?
2.2 Resultados e Discussão
A pesquisa bibliográfica possibilitou:
•Relatar a história do 1º Esqd Rec Mec no contexto da 2ª Guerra Mundial, em particular nas ações de Collecchio-Fornovo.
•Descrever os fundamentos da doutrina Liderança Militar Brasileira, buscados no manual C 20-10, LIDERANÇA MILITAR, bem como na Apostila de Liderança Militar da Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais (EsAO).
•Identificar na atuação do Cap Pitaluga evidências de Liderança Militar.
•Analisar se a atuação do Cap Pitaluga em Collecchio-Fornovo coaduna os fundamentos da Liderança Militar.
•Ajuizar se a atuação do Cap Pitaluga pode ser considerada um exemplo aplicável da doutrina de Liderança Militar nos dias atuais.
Sobre tudo o que foi exposto, em particular nas ações em Collecchio-Fornovo, podemos observar que o estilo de comando de Pitaluga estava mais ligado ao estilo de comando participativo, em que pese nessa análise as características das missões de cavalaria que facilitam essa maneira de agir,quando é natural que as ordens sejam centralizadas e as execuções descentralizadas.
Segundo relato do próprio Gen Mascarenhas de Moraes, sobre as ações em Collecchio, o Esquadrão, sob o comando do Cap Pitaluga, ao entrar em contato com a vanguarda da 148ª Divisão alemã, age com “incrível rapidez” e se atira “audaciosamente” sobre dois Batalhões da 90ª Panzer Div que faziam a vanguarda da 148ª Div Alemã. “Contava para isso, exclusivamente, com os seus três Pelotões de Reconhecimento, com um efetivo da ordem de 120 homens apenas”.
Assim, ao analisar esta passagem, podemos avaliar que as ações na abordagem de Collecchio são exemplos de coragem (superação do medo ao dano físico no cumprimento do dever) e iniciativa (competência para agir face a situações inesperadas, sem depender de ordem ou decisão superior).
Ainda sobre essas virtudes, demostradas em Collecchio, concorda Branco, 1960, p. 449: “Uma vez diante das resistências de Collecchio, procurou o Cmt do Esqd Rec reconhecê-las, mediante uma ação em força, demonstrando, a par de muita iniciativa, alto espírito ofensivo, próprio de cavalarianos da sua estirpe.”
No ataque à Collecchio podemos, ainda, observar exemplos de persistência, definida como, competência para executar uma tarefa e vencer as dificuldades encontradas até a concluí-la. Depende de uma grande determinação e força de vontade.
É a perseverança para alcançar um objetivo, mesmo quando os obstáculos são aparentemente insuperáveis. Os subordinados somente terão persistência se o líder mostrar, com o seu exemplo, como devem ser enfrentadas as dificuldades. Conforme relatos do próprio Cap Pitaluga: “Eu cheguei em Collecchio ao meio-dia e estive sozinho até às 18 horas. Eu já tinha ocupado metade da cidade quando a infantaria chegou.”
Sobre esse relato, Branco, 1960, aponta: “Não agisse, entretanto, com rapidez e determinação poderia perder a presa, deixando-a cair nas malhas da 34ª DI, e o que seria mais grave, ver desperdiçar-se uma preciosa fonte de informações.” Contribui para tal conclusão o fato da viatura do Cap Pitaluga quase ter sido arrebatada por um tiro de arma anticarro, na praça principal de Collecchio, e mesmo assim ter prosseguido na missão, mostrando, com seu exemplo, como devem ser enfrentadas as dificuldades.
Após as ações em Collecchio, o Esqd foi lançado em outro eixo: Noceto – Medesano – Felegara – Fornovo, para impedir que o inimigo atingisse a Estrada nº 9. Após cumprida essa missão, o inimigo foi fixado em Felegara (ocasião em que o Esqd perde uma de suas viaturas) continuando o Esquadrão a ameaçar a direção de Fornovo.
Esse conjunto de ações contribuiu nas preliminares da rendição da 148ª Div Alemã. Nas palavras do próprio Gen Mascarenhas: “cabe ao valoroso Esquadrão e, em particular, ao seu Cmt, Cap PITALUGA, todo o significado desta citação pelos relevantes serviços prestados.”
Assim, com relação à sua competência cognitiva, psicomotora e afetiva, constata-se que Pitaluga possuía diversas virtudes demonstradas em Collecchio-Fornovo, nas quais pode-se ressaltar a coragem, decisão, equilíbrio emocional, iniciativa, organização e persistência.
3. CONCLUSÃO
Este trabalho se propôs a responder um problema: A atuação do Cap Plínio Pitaluga no comando do 1º Esquadrão de Reconhecimento Mecanizado da FEB, durante as ações em Collecchio-Fornovo, pode ser considerada um exemplo de liderança aplicável no estudo da doutrina da liderança militar nos dias atuais?
Após uma avaliação sistematizada e acadêmica, a questão é respondida de forma afirmativa: o exemplo do Cap Pitaluga é uma amostra de liderança aplicável no estudo da doutrina da Liderança Militar nos dias atuais. Porém uma outra questão pode suscitar na mente dos mais leigos: por que Pitaluga? Tal pergunta será respondida a título de conclusão.
O legado do General Pitaluga é até os dias de hoje lembrado por ocasião das formaturas em diversas Unidades de Cavalaria do Brasil, no momento em que as tropas adentram o pátio de formatura cantando “Cavalaria Mecanizada”, de sua autoria.
É da mesma maneira notória a quantidade de salas, auditórios, pátios, praças, entre outros que levam seu nome, incluindo a sala dos instrutores da Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais, sendo por estes motivos mais do que justificável a curiosidade que levou a escolhê-lo para explorar seus feitos e verificar se, como tantos outros líderes militares, e em particular da “Arma de Heróis”, figuraria como um exemplo a ser seguido.
O fenômeno da liderança militar segue por caminhos por vezes insondáveis e pouco perceptíveis, porém alguns comandantes, que marcaram na história a trilha da vitória, podem indicar, por meio de seus exemplos, a tão perseguida senda para liderança.
Neste contexto, alguns heróis brasileiros, em particular da Segunda Guerra Mundial, ainda têm seus feitos pouco explorados, o que, aliado ao tempo, aumenta esse hiato em busca de respostas.
Assim, esse trabalho conclui que entre os diversos exemplos de liderança militar da história e a atuação do Cap Plínio Pitaluga, no comando do 1° Esquadrão de Reconhecimento Mecanizado em Collecchio-Fornovo, possuem pontos convergentes e podemos afiançar, respondendo ao problema proposto, que sua trajetória no comando daquela subunidade é um exemplo de liderança, aplicável ao estudo da doutrina da liderança militar nos dias atuais.
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Adendo Defesanet
O comandante da Força Expedicionária Brasileira, Marechal Mascarenhas de Moraes assim se expressou a respeito desse acontecimento:
“A manobra de Collecchio/Fornovo, com o aprisionamento da vanguarda e cerco do grosso adversário, resultou do esforço obstinado dos brasileiros, eficazmente aproveitado pela grande velocidade de marcha proporcionada pelo transporte motorizado da Infantaria realizado pelas viaturas da Artilharia.
O inimigo dispunha de copiosos meios em pessoal, armamento e munição. A tropa era de escol¹: quase todos os chefes de maior graduação e inúmeros oficiais traziam no punho esquerdo o distintivo do Afrika Korps, comandado pelo célebre Von Rommel em território africano. Possuíam disciplina e preparo técnico.
Apesar disso, capitularam, porque a Divisão brasileira não lhes deixou outra alternativa. O Exército Brasileiro mostrou-se digno do seu passado e à altura, concorrendo brilhantemente para que à nossa Pátria fosse reservado um lugar na reconstrução do mundo”.
Batalha de Collecchio
Após a Batalha de Montese, várias tropas alemãs se retiraram dos montes Apeninos, porém havia sobrado algumas que estavam ocupando as cidades de Colleccchio e Fornovo di Taro e a FEB ficou com o objetivo de “limpar” as cidades começando por Collecchio.
Os ataques foram feitos no dia 26 de abril contra a 148º Divisão de Infantaria alemã pelo sudeste e depois pelo nordeste, apesar do inimigo dar sinais de derrota, esse momento viria a marcar a única ação entre carros blindados da história da FEB. Durante a noite, quando choveu torrencialmente os ataques foram suspensos e, ao serem reiniciados, na manhã do dia 27, a 1ª Divisão Expedicionária que estava em Collecchio havia se juntado com mais duas companhias.
Às 8 horas da manhã, a maior parte da cidade estava em poder dos pracinhas. Algum tempo depois, o grupo alemão que resistia foi dominado. Num castelo perto da estação rodoviária, os brasileiros comemoravam a vitória da qual não houve nenhuma interferência de estadunidenses, como nas em Monte Castello, Castelnuovo e Montese.
A Batalha de Collecchio ajudou a romper mais uma parte da Linha Gótica. Os soldados brasileiros aprisionaram mais de 400 alemães, porém sofreram 17 baixas, sendo 16 feridos e um morto, partindo assim para Fornovo di Taro.
M-8 Greyhound
Este veículo de fabricação norte-americana foi originalmente concebido como um antitanque. Mas, quando foi aprovado, em 1942, já estava claro que o calibre de seu canhão não penetrava mais na blindagem dos novos carros germânicos.
Assim, ele foi repensado para atuar como veículo de reconhecimento, graças a seu sistema de tração 6×6, bom para off-road, e sua alta velocidade.
A primeira vez que o M-8 entrou em ação foi na Itália, em 1943. Na FEB, o Greyhound foi empregado no 1º Esquadrão de Reconhecimento Mecanizado.
O Greyhound foi um veículo muito importante para o desenvolvimento militar brasileiro, pois deu ao nosso exército a primeira experiência prática na utilização de viaturas blindadas em combate além de também contribuir para o desenvolvimento da indústria bélica nacional.
Pois as experiências com a manutenção do veículo foi passada posteriormente a Engesa, que tomando o M8 Greyhound como base, desenvolveu as primeiras viaturas blindadas com tecnologia nacional. O carro de combate EE-9 Cascavel e a viatura blindada EE-11 Urutu.
Após a guerra, permaneceu em serviço até o início dos anos 70.
- Peso: 7,8 t
- Altura: 2,64 m
- Largura: 2,54 m
- Comprimento: 5 m
- Tripulação: 4
- Arma principal: canhão 37 mm M6
- Armas secundárias: 2 metralhadoras .30", 1 metralhadora .50"
- Blindagem: 19 mm (máximo)
- Velocidade máxima: 90 km/h (estrada) / 48 km/h (campo)
- Motor: Hercules JXD, 6 cilindros a gasolina, de 110 HP
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REFERÊNCIAS
PITALUGA, Plínio. Relatório do 1º Esquadrão de Reconhecimento/1ª Divisão de Infantaria da F.E.B. [s.l.]. S.G.M.G. Gabinete Fotocartográfico, 1947.
BRASIL. Escola de Aperfeiçoamento de oficiais. História Militar I. 1ª Edição, Rio de Janeiro, 2004.
________________. Escola de Aperfeiçoamento de oficiais. Liderança Militar. 1ª Edição, Rio de Janeiro, 2004.
BRASIL. Estado-Maior do Exército. C 20 – 10: Liderança Militar 1ª Ed. Brasília: EGGCF, 2011.
BRANCO, Manuel Thomaz Castello. O Brasil na Segunda Grande Guerra. 2ª edição. Rio de Janeiro: Biblioteca do Exército, 1960.
¹ Nata. O que é de melhor. Elite