Pela primeira vez, o Brasil conta com Veículos Aéreos Não Tripulados (VANT) na vigilância da fronteira com a Bolívia. Durante a Operação Ágata 6, a Força Aérea Brasileira levou duas aeronaves desse tipo para Cáceres (MT), a 70 km da divisa entre os países, de onde podem cumprir missões em prol das Forças Armadas, dos órgãos de segurança pública e organizações como Ibama e Receita Federal. Com os VANT é possível fiscalizar, por exemplo, áreas onde há suspeitas de crimes ambientais, narcotráfico e garimpo ilegal.
Em um treinamento realizado com a Polícia Rodoviária Federal nesta quarta-feira (17/10), uma equipe da FAB e da PRF interceptaram um veículo suspeito que tentava fugir de um posto de controle montado pelo Exército em uma rodovia. Toda ação foi coordenada à distância, a partir das imagens captadas pelo VANT. O agente Magno Fernandes, da PRF, disse ter ficado satisfeito com a capacidade demonstrada. "É praticamente impossível monitorar todas essas estradas. Então eu acredito que essa aeronave possa ajudar nesse monitoramento", afirmou.
Designados RQ-450, os VANT que estão em Cáceres podem permanecer no ar por até 16 horas para fazer filmagens em alta resolução tanto de dia quanto de noite, e transmitir tudo ao vivo. "Por ser uma plataforma que leva um sensor que produz dados, essa informação pode ser distribuída a quem for necessário. Entre Ministérios, há um uma coordenação, e essa informação pode fluir", explica o Tenente-Coronel Donald Gramkow, Comandante do Esquadrão Hórus, primeira unidade militar do Brasil a utilizar esse tipo de aeronave.
"Podemos visualizar e tomar decisões ao mesmo tempo", complementa o Brigadeiro Maximo Ballatore Holland, que comanda as Ações da FAB durante a Ágata 6. No caso do voo de treinamento com a PRF, o veículo suspeito foi acompanhado antes, durante e depois da chegada de um helicóptero com os policiais e os militares.
Ver sem ser visto
Os RQ-450 da FAB são equipados com uma câmera colorida de alta resolução que envia os dados ao vivo por meio de um sistema de enlace de dados. Também é possível obter imagens em preto e branco com o uso de um modo infravermelho que permite identificar pessoas à noite ou sob as copas das árvores, por exemplo.
Por outro lado, quem está no solo tem dificuldades para enxergar o RQ-450 em voo. Com 10,5 metros de distância entre as pontas das asas e 6,1m de comprimento, a aeronave é pintada em cores claras e pode voar em altitudes de até 5.500 metros. Com um motor pequeno, seu ruído também é bastante difícil de se ouvir do chão. Como cada voo pode durar até 16 horas, se necessário, a dupla de VANT pode manter a vigilância de uma determinada área de interesse de forma ininterrupta.
Doutrina
Essas duas primeiras unidades recebidas pela FAB estão alocadas no Esquadrão Hórus, da Base Aérea de Santa Maria, no interior do Rio Grande do Sul. Criada em 2011, a unidade já voou mais de 600 horas com seus RQ-450, em treinamentos que têm como objetivo não apenas dominar a máquina, mas fazer o que os militares chamam de "desenvolvimento de doutrina". Isto é: não basta ter a aeronave no ar, é preciso saber como executar os voos. O Brigadeiro Ballatore lembra ainda que a análise dos dados é outro desafio. "Também é necessário ter a capacidade de processamento das informações, o que não é simples",diz.
Uma das medidas já adotadas no Esquadrão Hórus foi a definição de que somente aviadores podem ter o controle dessas aeronaves. Apesar de não levar tripulantes a bordo, o RQ-450 é comandado por uma dupla de militares que permanecem em uma cabine de controle no solo. Por este motivo, a Força Aérea designa o avião-robô como uma Aeronave Remotamente Pilotada (ARP). De fato, um mouse substitui o manche, mas o controle permanece nas mãos de oficiais com experiência de voo, conhecimento das áreas de operação e familiaridade com as regras de controle do espaço aéreo. É estreita a coordenação da unidade aérea operadora dos ARP com os órgãos de controle, subordinados ao Departamento de Controle do Espaço Aéreo (DECEA), o que garante a segurança dos voos.
Investimento de 48 milhões
O contrato de aquisição assinado com a empresa Aeroeletrônica, subsidiária da israelense Elbit, chegou a R$ 48.174.836,00. Assinado em 2010, incluiu os dois RQ-450, uma estação de solo, sensores e a logística inicial associada. De acordo com a Comissão Coordenadora do Programa Aeronave de Combate (COPAC), o projeto inclui ainda importante nacionalização de itens, além das desejadas transferência de tecnologia e compensações comerciais (offset).
O planejamento da COPAC, no entanto, vai além dessa primeira dupla de VANT. Considerados de pequeno porte frente aos modelos já desenvolvidos em outros países, a ideia é utilizá-los para o desenvolvimento de doutrina e daí partir para iniciativas mais audaciosas, como um VANT projetado no Brasil. No horizonte dos planos da Força Aérea está o emprego de armas em aviões deste porte e a transmissão de dados dos VANT para qualquer ponto do país por meio de satélites de fabricação nacional.
"VANT na Operação Ágata produz um resultado extraordinário"
O Vice-Presidente Michel Temer conheceu hoje como a Força Aérea Brasileira opera os Veículos Aéreos Não-Tripulados (VANT) na Operação Ágata 6. Para Temer, o VANT "tem uma função extraordinária e vai ser muito importante para todas as operações que a Força Aérea, juntamente com as demais Forças, fizerem na Ágata ou nas Ágatas seguintes".
Ao lado do Ministro da Defesa, o Vice-Presidente conheceu a aeronave, o centro de comando no solo e acompanhou, ao vivo, uma operação que acontecia na região de fronteira com a Bolívia. "É de uma eficiência extraordinária", avaliou Temer. Toda a missão foi filmada pelo VANT e as imagens reproduzidas em tempo real em um monitor.
O Ministro Celso Amorim também conheceu a estrutura montada pela Força Aérea no aeroporto de Cáceres. Ele visitou as barracas, a estrutura de saúde e almoçou no refeitório montado onde os militares fazem suas refeições. "Eu tive ano passado em Vilhena e vi algo parecido. Mas aqui agora está muito melhor. Cresceu muito", disse, em referência à Base montada em Vilhena em novembro durante a Ágata 3.