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A Sistematização das Relações Institucionais: pilar da Comunicação Estratégica

Cel Alexandre Gueiros Teixeira

As relações institucionais ocupam papel destacado na consecução dos objetivos estratégicos das organizações. Em um cenário cada vez mais complexo, marcado pelo dinamismo e incertezas, redes e conexões fortes compõem, com a comunicação tradicional e as mídias digitais, o amálgama da comunicação estratégica, sendo capazes de potencializar ações e catalisar resultados.

A despeito da atualidade do tema, as relações interpessoais evidenciam sua importância desde os primórdios da humanidade. Em sua obra Sapiens, o historiador Yuval Harari, ao analisar a evolução da espécie humana, assevera que o fator primordial do sucesso e da primazia do Homo Sapiens foi sua capacidade de formar redes de cooperação.

O autor reforça que foi a comunicação e a construção de crenças e narrativas comuns que fortaleceram ainda mais essa colaboração, levando a espécie a prevalecer sobre as demais, ainda que mais fortes. A troca de informações e o conhecimento mútuo facilitaram a consecução de objetivos comuns, como a obtenção de alimentos, a dominação de rivais ou a própria proteção.

Avançando até a antiguidade clássica, a questão vem à tona, mais uma vez, nas considerações de Aristóteles sobre a Philia. Em Ética a Nicômaco, o filósofo afirma que a convivência entre indivíduos e grupos era essencial à vida e à sobrevivência da pólis, sendo, portanto, uma virtude política por natureza.

Isso porque, quem possuía laços de amizade e convivência (philia) seria mais capaz de enfrentar crises, pois obteria dos parceiros aquilo que lhes faltava per se. Cabe relembrar que, para os gregos, o conceito de virtude diferia do sentido tradicional do cristianismo, conformando-se como uma capacidade que levava ao bom desempenho de uma função ou tarefa; ou seja, conduzia à excelência. Assim, conviver e cooperar levavam à excelência política, passo fundamental para o atingimento dos objetivos das cidades-estado.

Da mitologia também se extraem ensinamentos importantes acerca do valor da confiança mútua e parceria, particularmente, da lenda de Damão e Pítias, discípulos de Pitágoras. Em viagem a Siracusa, Pítias foi preso e acusado de traição por Dionísio, sendo condenado à pena capital.

No momento da sentença, solicitou que lhe fosse permitido, antes da execução, voltar a Atenas para despedir-se de sua família e resolver assuntos pendentes. Dionísio aceitou o pedido sob a condição de que Damão ocupasse o lugar do amigo, e, caso este não retornasse, seria executado em seu lugar.

Conforme Dionísio previra, o condenado não retornou e Damão seguiu para cumprir a sentença. No momento final, porém, para a surpresa de todos, Pítias adentra o local pedindo perdão pelo atraso, que atribuiu a um naufrágio e ataque de corsários que sofrera durante o regresso a Siracusa. Surpreso com a lealdade e a confiança dos amigos gregos, Dionísio resolve, então, cancelar a pena mediante um pedido: que ele também fosse incluído naquele círculo de amizade.

Simples análise dos exemplos acima aponta algumas observações relevantes. Nota-se que as relações institucionais promovem a complementariedade, ampliando capacidades por meio da cooperação e do intercâmbio entre os agentes. Isto nos leva a um segundo ponto, qual seja, a percepção de que indivíduos, grupos e instituições potencializam suas ações ao relacionarem-se, encontrando soluções e alcançando objetivos e metas mais facilmente. Como na mecânica, quanto maior o número de polias, menor a força para levantar o peso.

Percebe-se, ainda, que a colaboração se funda e se fortalece na confiança, que, por sua vez, se estabelece por meio da comunicação. Foram as crenças e as narrativas comuns, por exemplo, que levaram o Homo Sapiens a cooperar entre si, o que só ocorreu por intermédio da comunicação.

Ao final, há um ciclo virtuoso, pelo qual a comunicação e as relações institucionais se fortalecem mutualmente, constituindo-se em firme alicerce à construção de uma comunicação estratégica sólida, perene e efetiva.

No mito de Damão e Pítias, a integração entre as duas parcelas (relacionamento e comunicação) foi tão forte que foi capaz de alcançar o objetivo dos filósofos, de evitar a morte, e, ainda, cooptar o Rei. Imperioso destacar que foram os princípios e valores da sólida amizade que impactaram Dionísio, alterando o status quo favoravelmente. Ou seja, uma comunicação sólida, estruturada em princípios éticos e morais imutáveis, favorece as relações internas e externas, e é capaz de proporcionar narrativas de impacto positivo.

Cônscio da importância dessa temática, o Exército Brasileiro vem empreendendo ações no sentido de fortalecer suas relações institucionais. Com uma comunicação social fortemente estruturada, e possuindo números expressivos nas mídias digitais, o fortalecimento e a sistematização das relações institucionais é o derradeiro desafio rumo à consolidação de uma comunicação estratégica de excelência. Portarias recentes vêm estruturando o sistema, que tem por órgão central o Alto Comando do Exército; por órgão normativo o Estado-Maior do Exército; e por órgão técnico-consultivo, o Centro de Comunicação Social do Exército.

O resultado prático dessas ações é notório. Nas ações de enfrentamento à COVID-19, por exemplo, o aprimoramento das relações institucionais do Exército, assim como sua integração e sincronização com a comunicação social, tem fortalecido a comunicação estratégica da Força, cooperando para resultados altamente positivos.

Nos diversos Comandos Conjuntos, a união e a colaboração de atores distintos (Forças Armadas; agências federais, estaduais e municipais; órgãos de segurança pública e defesa civil, etc.), indubitavelmente, têm favorecido o sucesso das operações, e, portanto, potencializado o atingimento dos objetivos estratégicos da Instituição.

A História deixa evidente a necessidade de se possuir relações institucionais fortes. Em um tempo onde conjunturas tornam-se cada vez mais complexas e incertas, soluções multidisciplinares e dinâmicas despontam como a opção mais eficaz. A união de atores, facilitada e fortalecida pela comunicação, permite a análise compartilhada dos problemas, a construção de narrativas integradas e o complemento de capacidades, que concorrerão para o atingimento dos objetivos e das metas das organizações.

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Sobre autor: Alexandre Gueiros Teixeira Coronel de Artilharia do Exército Brasileiro, servindo atualmente no Centro de Comunicação Social do Exército. Comandou o 15º Grupo de Artilharia de Campanha Autopropulsado, LAPA-PR. Foi instrutor do Curso de Artilharia da AMAN. Mestre em Ciências Militares, pela EsAO. Doutor em Ciências Militares, pelo Instituto Meira Mattos. Foi Oficial de Ligação do Exército Brasileiro junto à Operação das Nações Unidas na Costa do Marfim (ONUCI) e participou de intercâmbio de Artilharia com o Ejército de Tierra, Espanha.

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