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A simulação de combate no adestramento do Exército Brasileiro

Alessandro Fagundes de Souza
Capitão de Cavalaria
 

1. Considerações Iniciais
 
A falta de investimentos e de qualidade na instrução, treinamento e adestramento, tanto no nível individual como coletivo, sabidamente geram resultados desastrosos: militares mal preparados; tropa mal treinada, desmotivada e, frequentemente, desviada da atividade-fim para outras tarefas secundárias.
 
Sabe-se, que a capacitação técnica e tática exigida de cada indivíduo envolvido no contexto das ações no campo de batalha moderno é uma característica cada vez mais marcante no cenário mundial. O emprego de meios com alto grau de avanço tecnológico demanda, mais do que nunca, uma preparação específica para o desempenho de qualquer função crítica em combate.
 
Neste contexto, a capacitação em sistemas complexos e custosos tem na simulação de combate um importante aliado. Os benefícios do emprego dos simuladores têm sido extraordinários. São unânimes as opiniões de que os simuladores têm alavancado as capacidades dos recursos humanos aplicarem o poder de combate, especialmente da tropa blindada.
 
A qualidade do preparo de uma tropa é diretamente proporcional à qualidade dos meios empregados. Cada centavo investido em simulação tem retorno garantido: permite treinar o operador tanto em situações normais como em situações extremas, que somente poderiam ser  vividas em operações reais, com extremo risco aos operadores e ao equipamento, e com elevados custos operacionais. 

São óbvios os benefícios trazidos pela simulação de combate: melhor qualidade de instrução, treinamento e adestramento; economia de recursos de diversas fontes; otimização do tempo disponível; desenvolvimento e adequação da doutrina militar; redução dos riscos inerentes à atividade militar; maior controle metodológico e didático sobre o exercício, dentre outros.
 
Com base no exposto, uma conclusão parcial salta aos olhos: possuir Centros de Instrução e Adestramento, com modernos meios de simulação, pode proporcionar um salto de qualidade no preparo das Forças Armadas Brasileiras.
 
 
2. Simulação de combate: cenário atual
 
Conforme estabelece a Portaria Nr 209 – EME, de 21 de dezembro de 2005, a simulação de combate, no âmbito do Exército Brasileiro, é organizada e pode ser conduzida por meio de três modalidades distintas:
 
a. Simulação Viva: modalidade na qual são envolvidas pessoas reais, operando sistemas reais, no mundo real, com o apoio de sensores, dispositivos apontadores “laser” e outros instrumentos que permitem acompanhar o elemento e simular os efeitos dos engajamentos.
 
Os Dispositivos de Simulação de Engajamento Tático (DSET) simulam, por meio de feixes laser, a trajetória balística da munição e o acerto do impacto, permitindo o engajamento de alvos estacionários ou em movimento, assim como o duelo entre blindados. Os DSET são os equipamentos mais proeminentes desta categoria. Este tipo de simulação é a que está mais próxima da realidade, dado que um mínimo de recursos reais é simulado.
 
Atualmente o CIBld possui 42 (quarenta e dois) equipamentos DSET BT/41 da empresa Sueca SAAB, sendo que 22 (vinte e dois) estão distribuídos às Seções de Instrução de Blindados (SIB) dos RCC, sendo 4 (quatro) no 1º RCC; 4 (quatro) no 4º RCC; 7 (sete) no 3º RCC; e 7 (sete) no 5º RCC.
 
 b. Simulação Virtual: modalidade na qual são envolvidas pessoas reais, operando sistemas simulados, ou gerados em computador. Essa modalidade substitui sistemas de armas, veículos, aeronaves e outros equipamentos cuja operação exija elevado grau de adestramento, ou que envolva riscos e/ou custos elevados para operar. Dentro desse ramos de simulação, é possível classificar os simuladores dentro dos seguintes tipos:
 
1) Simuladores de Procedimentos: são equipamentos que reproduzem os MEM reais – ou as partes mais importantes destes materiais – com o objetivo de treinar o indivíduo ou a guarnição, para utilização normal ou degradada do equipamento real. Os simuladores de procedimento visam, principalmente, possibilitar a interação do homem com a máquina, devendo ser utilizado intensamente nas fases iniciais de treinamento. O Exército Brasileiro conta com dois tipos de simuladores de procedimentos:
 
a) Simulador de Procedimento de Torre (SPT): equipamento que treina a guarnição da VBC à exceção do motorista. O CIBld possui 3 (três) SPT, sendo um destinado ao treinamento de mecânicos. Os demais SPT são distribuídos da seguinte forma: 1 (um) para cada RCC e 1 (um) na AMAN.
 
b) Simulador de Procedimento de Motorista (SPM): equipamento destinado ao treinamento do motorista. O CIBld, todos os RCC, e todos os RCB à exceção do 20º RCB – dotado de M60 – possuem 1(um) equipamento cada.
 
2) Treinadores Sintéticos: são simuladores que integram um cenário virtual à periféricos de computadores similares às partes mais importantes do equipamento real. É amplamente utilizado no treinamento tático de guarnições e pelotões. O Exército Brasileiro conta com dois tipos de treinadores sintéticos:
 
a) Treinador Sintético Portátil (TSP): permite simular uma guarnição de carro de combate, e treinar os operadores em cada uma de suas funções de forma integrada, com exceção do municiador. Foi adquirido um conjunto para cada RCC, além de mais 3 (três) conjuntos para o Centro de Instrução de Blindados CIBld.
 
b) Treinador Sintético de Blindados (TSB): permite simular em ambiente confinado o comandante do carro e o atirador e, no seu exterior, o motorista. Podem ser integradas aos TSP, aumentando assim o valor da tropa a ser treinada. Somente o CIBld possui o referido equipamento, que se encontra na Seção de Simuladores do referido EE.
 
3) Simulador de Aprendizagem: são programas de simulação virtual que, instalados em computadores, possibilitam o desenvolvimento da área cognitiva – conhecimento – dos instruendos, sem a necessidade de periféricos especiais ou similares ao equipamento real. O objetivo principal deste sistema de simulação, como o próprio nome diz, é fazer com que os militares aprendam atitudes que devem ser realizadas no campo de batalha e as reações que deverão ser tomadas em contato com o inimigo.

Devido às suas características, este tipo de simulação é utilizada no treinamento e adestramento tático de frações das mais diversas naturezas, especialmente no nível pelotão e subunidade.

O Centro de Instrução de Blindados possui uma sala com 37 (trinta e sete) computadores em rede que, por meio do programa “Steel Beasts” da empresa e-sim games, viabiliza a simulação tática de aprendizagem de até uma SU, de mesma natureza, ou constituída sob a forma de Força Tarefa.
 
c. Simulação Construtiva: simulação envolvendo tropas e elementos simulados, operando sistemas simulados, controlados por pessoas reais, normalmente numa situação de comandos constituídos. Também conhecida pela designação de “jogos-de-guerra”. A ênfase dessa modalidade é a interação entre pessoas, divididas em forças oponentes que se enfrentam sob o controle de uma direção de exercício.

No âmbito da 3ª Divisão de Exército, sediada em Santa Maria – RS, encontramos no Centro de Aplicação de Exercícios de Simulação de Combate (CAESC), o elemento responsável pela condução e treinamento dos elementos envolvidos, com base na utilização dos programas Sistema de Adestramento de Batalhões e Regimentos (SABRE) e Sistema de Adestramento de Brigadas (SISTAB).
 
 
3. Emprego da Simulação no adestramento do EB
 
Ao longo dos últimos anos, o CIBld vem se consolidando como um centro de excelência no emprego da simulação de combate em atividades de instrução, treinamento e adestramento das tropas blindadas e mecanizadas do Exército Brasileiro.

A qualidade e o desenvolvimento de uma metodologia específica para o emprego dos simuladores em atividade de instrução se deve, não só à ampla gama de equipamentos disponíveis neste Centro, mas sim, e principalmente, pela larga experiência adquirida pelo seu corpo discente e pelo montante de lições aprendidas na prática dos exercícios de simulação.
 
De uma maneira geral, o emprego dos meios de simulação do CIBld atendem a dois grandes grupos de clientes: o próprio CIBld, no desenvolvimento de suas atividades de ensino; e os demais EE e OM operacionais, por meio da condução de exercícios táticos em ambiente virtual, PCI, entre outras atividades.
 
a. No âmbito do CIBld as atividades de simulação desenvolvidas são inseridas no contexto didático dos cursos e estágios que são conduzidos por este estabelecimento de ensino. Nos anos de 2012 e 2013 as atividades mais relevantes que contaram com os meios de simulação na atividade de instrução foram:
 
1) Estágio Tático Sobre Lagarta: voltado para a formação tática dos comandantes de FT SU Bld, Cmt Pel CC e Pel Fuz Bld, desenvolve-se ao longo de 6 (seis) semanas, e utiliza os seguintes meios de simulação em apoio à instrução: Simulador Virtual de Aprendizagem “Steel Beasts”, TSB e DSET.
 
2) Estágio Tático de Pelotão de Exploradores: voltado para a formação tática dos comandantes de Pel Exp, desenvolve-se ao longo de 3 (três) semanas, com aplicação e execução de planejamentos táticos no Simulador Virtual de Aprendizagem “Steel Beasts”.
 
3) Estágio Tático de Cavalaria Mecanizada: voltado para a formação tática dos comandantes de Esqd e Pel C Mec, desenvolve-se ao longo de 3 (três) semanas, com larga aplicação e execução de diversos planejamentos táticos no Simulador Virtual de Aprendizagem “Steel Beasts”, incluindo duas inovações, que foi a constituição de uma Força Oponente (FOROP) viva, mobiliada com instrutores deste Centro; e a realização de um Exercício em Ambiente Virtual de Longa Duração, com 48 (quarenta e oito) horas de execução contínua.
 
4) Curso de Operação da VBC CC Leopard 1A5: voltado para a formação dos operadores da referida Vtr, bem como da sua guarnição, dura 9 (nove) semanas e emprega largamente os Simuladores de Procedimento de Torre e de Motorista, os Treinadores Sintéticos Portátil e de Blindados e os DSET para a consecução dos objetivos didáticos do curso.
 
5) Curso Avançado de Tiro: voltado para a formação Instrutor Avançado de Tiro, militar especialista no sistema de armas da VBC CC Leopard 1A5, dura 6 (seis) semanas e emprega largamente os diversos simuladores disponíveis no CIBld, em especial os Treinadores Sintéticos de Blindados e os DSET.
 
6) Curso de manutenção de torre e de chassi da VBC CC Leopard 1A5: voltado para a formação do mecânico de chassi e de torre da VBC CC Leopard 1A5, utiliza o Simulador de Procedimento de Torre – versão de manutenção, na condução das instruções do curso.
 
b. Para os demais EE e OM operacionais, as atividades de simulação procuram atender diversas demandas por iniciativa dos próprios interessados ou por meio de coordenação dos Comandos Militares de Áreas ou dos Órgãos de Direção Setorial, especialmente o COTer. Nestes casos, são 4 (quatro) as atividades mais relevantes conduzidas com meios de simulação do CIBld:
 
1) Exercício Tático em Ambiente Virtual – Adestramento das FT SU Bld: conduzido em caráter experimental em 2012, no âmbito da 6ª Bda Inf Bld, e em caráter oficial em 2013, conforme previsto no PIM/COTer do corrente ano, o Exercício Tático em Ambiente Virtual utiliza como base o Simulador Virtual de Aprendizagem “Steel Beasts”, e visa proporcionar às OM Blindadas do Exército Brasileiro, a oportunidade de conduzir o adestramento de uma FT valor SU, composta por Pel CC, Pel Fuz Bld, Pel Eng, OA e Seç Cmdo. Todo o planejamento tático é conduzido pelos militares da própria OM, assim como a avaliação e identificação de oportunidades de melhoria, contando com o apoio da equipe de instrução da Seção de Simulação do CIBld.
 
2) Certificação dos Pelotões CC: atividade prevista pelo PIM/COTer 2013, foi conduzida no corrente ano em caráter inicial com o 1º e o 4º RCC. Com duração de uma semana para cada Pelotão a ser certificado, os militares integrantes do Pelotão são submetidos à uma série rigorosa de Exercícios Táticos conduzidos nos Treinadores Sintéticos de Blindados e nas próprias VBC, com apoio dos DSET. Com um alto grau de exigência, e conduzido por Instrutores Avançados de Tiro deste Centro, a atividade de Certificação caracteriza o pleno preparo e aptidão daquela fração às mais diversas atividades de emprego operacional, inclusive o combate.
 
3) PCI com outros Estabelecimentos de Ensino: conduzidos conforme a solicitação de cada EE, normalmente se caracterizam pelo emprego do Simulador Virtual de Aprendizagem “Steel Beasts” com a condução de operações militares em ambiente virtual.
 
4) PCI com OM operacionais: conduzidos conforme a solicitação de cada OM, normalmente se materializam na utilização do Simulador Virtual de Aprendizagem “Steel Beasts” quando no nível SU, e dos TSP e TSP no nível Pel CC.
 
Depois de uma análise, ainda que superficial, fica fácil visualizar a importância do emprego dos meios de simulação. O resultado direto da simulação aplicada à instrução é a excelência em formação e especialização de instrutores e monitores dos corpos de tropa, por meio dos cursos e estágios do CIBld, assim como o elevado grau de adestramento alcançado no desenvolvimento de Exercícios Táticos em Ambiente Virtual e nas Certificações dos Pelotões CC. O alto padrão operacional atingido individual ou coletivamente reflete de forma clara essa afirmação.
 
4. Simulação: o futuro a curto prazo
 
O processo de aprendizagem e de acúmulo de experiências quanto ao emprego da simulação ainda está longe do fim, mas já serve como base para o desenvolvimento de novas metodologias e até mesmo para o desenvolvimento de equipamentos de simulação nacionais.

O crescente intercâmbio de conhecimentos e experiências com Exércitos de Nações Amigas, por meio de congressos, reuniões, demonstrações e visitas, bem como da interação com outros órgãos e empresas ligadas à área, em feiras nacionais e internacionais também proporcionam uma aquisição de conhecimento relevante para o nosso Exército.
 
Novas iniciativas já em andamento dão mostra dessa maturidade, não só por parte do CIBld, mas também por outros órgãos, como o CTEx e a Div Sml / COTer, entre outros. Na esteira desse desenvolvimento e na busca pela ampliação do emprego de simuladores no âmbito do Exército Brasileiro, é por oportuno destacar alguns projetos:
 
a. Projeto Integração de Simuladores da Força Terrestre: projeto desenvolvido pela Divisão de Simulação do COTer, em parceria com CIAvEx, CIBld e CTEx, visa desenvolver estudos que viabilizem a integração de simuladores dotados de diferentes sistemas operacionais, buscando a interoperabilidade entre os equipamentos e sistemas já existentes e entre os que porventura venham a ser adquiridos, assim como garantir a interação de diferentes funções de combate num mesmo cenário virtual.
 
b. Projeto TSB nacional: liderado pelo CIBld, em parceria com a Fundação Trompowski, e executado pela empresa nacional RSD, de São José dos Campos, o TSB nacional tem por base o sistema de simulação VBS2, e visa reduzir custos de aquisição e manutenção desse tipo de equipamento, bem como desenvolver a indústria nacional de defesa.
 
c. Simulador de Apoio de Fogo (SAFO): a ser desenvolvido pela empresa espanhola TECNOBIT, será construído na área da sede do CISM em Santa Maria, e visa o treinamento do sistema operacional apoio de fogo, tendo como requisito contratual a compatibilidade e integração com os demais sistemas de simulação em uso no Exército Brasileiro.
 
d. Centro de Avaliação e Adestramento (CAA): com um núcleo inicial constituído para o estudo e desenvolvimento de um CAA, terá por base a sede do CISM, e terá como objetivo viabilizar o adestramento e a avaliação nível SU e OM, com emprego de diversos meios de simulação, em especial no ramo da simulação viva.
 
e. Projeto SIGUA: liderado pelo CIBld em parceria com a Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), visa desenvolver um sistema de simulação com base no novo blindado sobre rodas adotado pelo Exército Brasileiro, o GUARANI, a partir de tecnologia 100% nacional, viabilizando o treinamento operacional e tático das futuras tropas mecanizadas da Força Terrestre.
 
f. Projeto modernização BT/41: também em parceria com a UFSM, visa modernizar os DSET BT/41, substituindo a aquisição dos resultados por meio de impressora, por um sistema moderno, georreferenciado, capaz de mostrar em tempo real os resultados obtidos pelas VBC em uma central de controle. Essa modernização representaria um salto tecnológico de 20 (vinte) anos, e uma redução de custos significativa, em comparação com equipamentos similares no mercado mundial.
 
5. Conclusão
 
É notório que o investimento em instrução e treinamento militar baseado em simulação gera resultados efetivos à curto, médio e longo prazo. Um exemplo notório dessa assertiva foi o salto de qualidade na preparação dos recursos humanos da tropa blindada, em especial dos RCC, com o advento do Projeto Leopard, que viabilizou a aquisição de equipamentos de simulação de ponta, colocando o Exército Brasileiro em um grupo muito seleto de nações: as que são capazes de operar e manter um blindado moderno.
 
Cabe agora prosseguir nesse caminho, difundindo e amplificando o uso de simuladores, adquirindo meios e sistemas de simulação e viabilizando a execução de Exercícios Táticos em ambiente virtual e atividades de Certificação de Pelotões, como já vem sendo feito, entretanto buscando-se uma abrangência cada vez maior, de modo a gerar os necessários efeitos multiplicadores nas unidades operacionais.
 
ALESSANDRO FAGUNDES DE SOUZA – O autor é Capitão de Cavalaria do Exército Brasileiro, da turma de 2000 da AMAN, servindo atualmente no Centro de Instrução de Blindados, desempenhando a função de Chefe da Seção de Simulação do CIBld.

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