Verde Oliva/CCOMSEx
A guarnição de Santa Maria (RS), sede da 3ª Divisão de Exército, experimenta, desde o final da década de 1990, a utilização de sistemas de simulação de combate. O emprego de modernos e eficazes equipamentos, associado a outros meios auxiliares de última geração com baixo custo de utilização, tem credenciado a cidade de Santa Maria como referência nacional, no tocante ao uso de dispositivos de simulação para a qualificação e o adestramento de oficiais e praças do Exército Brasileiro.
No início, a simulação ocorria por meio da aplicação do "Sistema Guarini", a partir de uma rede de computadores interligada com estrutura lógica, instalada nas dependências do então 7º Batalhão de Infantaria Blindado (7º BIB), na região do Boi Morto. Isso possibilitava a condução dos "jogos de guerra", por ocasião dos exercícios de comando e estado-maior, envolvendo oficiais e praças das Grandes Unidades (GU), da Artilharia Divisionária e das Organizações Militares diretamente subordinadas à 3ª Divisão de Exército (3ª DE).
A posição estratégica de Santa Maria, localizada na região central do Rio Grande do Sul; o fato de ser sede do Comando da 3ª DE e a equidistância das sedes de inúmeros grandes comandos operacionais e administrativos do Comando Militar do Sul (CMS), auxiliaram na decisão de criar o Centro de Aplicação de Exercícios de Simulação de Combate de Santa Maria (CAESC-2), implementado em 2003 por meio da ocupação de dependências existentes no interior da sede do Campo de Instrução de Santa Maria (CISM). Em junho de 2013, o CAESC-2 passou a ser denominado Centro de Adestramento e Simulação de Posto Comando (CAS/PC).
Em 2004, com a transferência do 7º BIB para Santa Cruz do Sul (RS) e a decorrente ocupação daquele aquartelamento pelo 1º Regimento de Carros de Combate (1º RCC) e pelo Centro de Instrução de Blindados (CIBld), as atividades de simulação de combate na guarnição ganharam mais um componente de apoio ao adestramento, caracterizado pelo emprego de dispositivos de "simulação viva" no treinamento individual e coletivo dos oficiais e praças matriculados nos cursos e estágios realizados naquele centro.
Em 2010, o Comandante do Exército assinou o Termo de Abertura do Projeto do Sistema de Simulação de Ensino do Exército Brasileiro com a empresa espanhola TECNOBIT, com o objetivo de assegurar a aquisição, entrega e implementação de dois módulos do Simulador de Apoio de Fogo (SAFO), destinados um para a Academia das Agulhas Negras (Resende/RJ), já operacionalizado, e outro para a Guarnição de Santa Maria, cujas obras estão em andamento, também, junto à sede do CISM.
Em dezembro de 2012, foi criado o Núcleo do Centro de Adestramento e Avaliação – Sul (NuCAA – Sul), com o propósito de estudar e elaborar as propostas de estruturação e implantação da futura Organização Militar (OM), que terá a incumbência de centralizar e disponibilizar instalações e equipamentos de simulação de última geração para o treinamento e adestramento das tropas de diferentes naturezas do CMS, acompanhados da integração de sistemas operacionais.
A participação do CAS/PC na evolução da simulação de combate
O Centro de Adestramento e Simulação de Posto de Comando (CAS/PC) foi mobiliado com equipamentos de informática que incluíram computadores, destinados à Direção dos Exercícios (DirEx) e aos "partidos"; servidores; rede de fibra ótica; dentre outras facilidades, que permitiram a condução dos Exercícios no Terreno com Apoio de Sistemas de Simulação de Combate (ETASS).
A implantação dos CAS/PC foi progressiva e voltada para a defesa externa, sendo que, atualmente, encontra-se em curso a ampliação das instalações para atender aos Comandos Divisionários do CMS. Possui 60 computadores clientes, três computadores servidores do sistema, três salas para atender aos comandos, estrutura de rede óptica, rede telefônica interna de 96 ramais, no-break centralizado, gerador de luz e equipamentos para o suporte dos meios de auxílio de projeção de mídia (projetores de mídia, lousa digital interativa, notebooks etc.), com vistas a atender aos exercícios de simulação planejados.
O sistema utiliza a modalidade "simulação construtiva", que envolve tropas e elementos simulados, operando sistemas simulados, controlados por pessoas reais, em situações de comandos constituídos. Conhecida, também, como "jogos de guerra", enfatiza a interação entre pessoas, divididas em forças oponentes que se enfrentam sob o controle de uma DirEx.
O estado-maior da tropa adestrada será avaliado pela DirEx, ou seja, o comando aplicador do exercício, escalão superior imediato, encarregado de fazer a análise das medidas adotadas e, caso necessário, propor revisões doutrinárias ao Comando de Operações Terrestres (COTER), acerca do que foi aplicado.
O sistema empregado, no momento, é o de Simulação Tática de Brigada (SISTAB), aplicativo desenvolvido pelo Exército Brasileiro que simula todos os dados médios de planejamento de combate de uma tropa. São realizados, anualmente, sete exercícios de brigada e três exercícios divisionários, ao longo de 16 semanas de exercícios.
Os sistemas de simulação de combate não substituem a realização de exercícios no terreno ou com o emprego do equipamento real aos quais se propõe substituir. Entretanto, o seu emprego serve para aprimorar habilidades e conhecimentos, de forma a potencializar os resultados obtidos nos exercícios e operações reais.
É importante destacar a valiosa contribuição do CAS/PC, ao longo desses 10 anos, para a geração de efetiva consciência da utilização da simulação construtiva, como forma de adestramento dos comandos e estados-maiores, validação das doutrinas aplicadas às tropas blindadas e mecanizadas, bem como ao aprimoramento dos programas desenvolvidos pelo COTER, em parceria com a iniciativa privada e órgãos encarregados pelas atividades de pesquisa e desenvolvimento tecnológicos do EB.
O Centro de Instrução de Blindados e os simuladores de combate
O Centro de Instrução de Blindados General Walter Pires (CIBld), criado com a finalidade de se constituir em um vetor de modernidade do Exército Brasileiro, teve sua primeira sede na cidade do Rio de Janeiro.
Em 5 de novembro de 2004, foi transferido para a Guarnição de Santa Maria, onde ocupou as instalações do 7° BIB, juntamente com o 1º Regimento de Carros de Combate, passando a subordinar-se ao Comando da 6ª Brigada de Infantaria Blindada. As atuais instalações têm sede em local contíguo ao CISM, para facilitar a utilização de áreas de instrução no decorrer da realização dos estágios técnicos e táticos ministrados, anualmente, por aquele centro.
Como Estabelecimento de Ensino (EE) integrante do sistema de ensino militar do Exército Brasileiro (EB), planeja e conduz cursos e estágios, presenciais e à distância, destinados à especialização e extensão de oficiais e sargentos ocupantes de cargos e funções em OM blindadas/mecanizadas e EE da Força Terrestre (F Ter).
Os Estágios de Operações visam qualificar oficiais e sargentos para operação de viaturas blindadas de transporte de pessoal (M113-B) e de combate (M108 e M109 A3). O Estágio de Comandantes de Organizações Militares blindadas, mecanizadas e logísticas tem como objetivo atualizar os comandantes nomeados sobre os assuntos referentes às tropas blindadas do EB.
Os Cursos de Operações são dirigidos à qualificação de oficiais e sargentos para o desempenho de funções destinadas à operação dos carros de combate (CC) LEOPARD 1ABR e demais viaturas blindadas da família LEOPARD. Já os Cursos de Manutenção têm por objetivo habilitar os sargentos de Material Bélico para exercer a função de mecânico de chassi e torre de viaturas blindadas do EB.
O CIBld contribui para a manutenção e o aprimoramento da doutrina militar, em especial, no tocante ao assessoramento do escalão superior sobre o emprego, material e organização, nos níveis guarnições de viaturas blindadas, frações, pelotões e subunidades blindadas/mecanizadas; a atualização, a modernização e a padronização da instrução e do adestramento das guarnições de viaturas blindadas, frações, pelotões e subunidades blindadas/mecanizadas.
Junto com o Centro de Avaliações do Exército (CAEx), colabora para a condução de avaliação técnica e operacional de material bélico blindado/mecanizado. Integrado ao Centro de Avaliação do Adestramento do Exército (CAAdEx), concorre para a avaliação do adestramento técnico e tático de frações, pelotões e subunidades blindadas/mecanizadas.
Realiza, ainda, em sua esfera de atribuição, pesquisas relacionadas aos Projetos Simulador Nacional e Câmera Situacional. O Projeto de Simulador Nacional está voltado para atender à Nova Família de Blindados Médios Sobre Rodas, com custo reduzido, possibilidade de simular no terreno nacional e permitir a integração entre as armas (Infantaria, Cavalaria, Artilharia e Engenharia e o apoio logístico). A Câmera Situacional foi desenvolvida, em parceria com empresa local, para permitir que a guarnição confinada no interior da viatura tenha a consciência situacional do ambiente externo, no qual está sendo empregada.
A aplicação da Tecnologia da Informação ao Ensino no CIBld
O CIBld utiliza, intensamente, a Tecnologia da Informação (TI) aplicada ao Ensino, por meio de diferentes dispositivos de simulação, considerados modernos recursos destinados a desenvolver, nas guarnições, reflexos condicionados a determinadas situações que possam ocorrer em combate. O emprego de simuladores teve seu início, em 2006, durante os estágios táticos realizados naquele ano.
A simulação virtual empregada pelo CIBld é a modalidade na qual são envolvidas pessoas reais, operando sistemas simulados, ou gerados em computador, substituindo sistemas de armas, veículos, aeronaves e outros equipamentos, cuja operação exija elevado grau de adestramento ou envolva riscos e/ou custos elevados para operar.
Em 2010, foi inaugurado o Pavilhão de Simuladores, cuja implantação baseou-se em experiências adquiridas junto aos Exércitos Alemão e Chileno. O referido pavilhão conta, no momento, com os simuladores de procedimento de torre e para mecânico e motorista.
Além dos simuladores, o complexo de simulação disponibiliza Treinadores Sintéticos (Portátil e de Blindados) que permitem a interação das guarnições com os principais comandos existentes no interior da viatura, possibilitando o treinamento de técnicas, táticas e procedimentos, desde o nível guarnição até força-tarefa. São utilizados, ainda, os Dispositivos de Engajamento Tático nos "duelos" entre carros de combate e para o treinamento simulado de tiro, com vistas à redução de custos e do desgaste dos tubos dos CC.
O Polígono de Tiro do Barro Vermelho, localizado no Campo de Instrução Barão de São Borja (Saicã), em Rosário do Sul (RS), foi modernizado e reestruturado para permitir seu uso por guarnições de CC, nos mais diversos modos de operação e treinamentos de tiro.
Os recursos de TI aplicados pelo CIBld possibilitam, também, a realização de Exercícios de Simulação Tática que permitem, às unidades blindadas, desenvolverem atividades de adestramento de suas respectivas subunidades, por intermédio da constituição de forças-tarefas e a integração dos diferentes sistemas operacionais, particularmente, inteligência; manobra; apoio de fogo; mobilidade, contramobilidade e proteção; comando e controle; e logístico. O CIBld desenvolve, ainda, o Ensino a Distância e o Ensino Assistido por Computador, com o uso da TI.
O CIBld e a Simulação de Combate no Exército Brasileiro
No início desta década, o CIBld passou a desenvolver trabalhos em parceria com a Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), com o objetivo de criar dispositivos de treinamento próprios, adaptados e capazes de atender às necessidades de instrução da F Ter.
O processo de aprendizagem e de acúmulo de experiências quanto ao emprego da simulação ainda está longe do fim, mas já serve como base para o desenvolvimento de novas metodologias e até mesmo para o desenvolvimento de equipamentos de simulação nacionais.
O crescente intercâmbio de experiências com Exércitos de Nações Amigas, por meio de congressos, reuniões, demonstrações e visitas, bem como da interação com outros órgãos e empresas ligadas à área, em feiras nacionais e internacionais, proporcionam a aquisição de relevantes conhecimentos para o Exército.
Novas iniciativas já em andamento dão mostras dessa maturidade, não só por parte do CIBld, mas também por outros órgãos, como o Centro Tecnológico do Exército (CTEx) e a Divisão de Simulação/COTER, entre outros. Na esteira desse desenvolvimento e na busca pela ampliação do emprego de simuladores, no âmbito do EB, é oportuno destacar alguns projetos:
– Projeto Integração de Simuladores da Força Terrestre: projeto desenvolvido pela Divisão de Simulação do COTER, em parceria com o Centro de Instrução de Aviação do Exército (CIAvEx), CIBld e CTEx, com vista a desenvolver estudos que viabilizem a integração de simuladores dotados de diferentes sistemas operacionais, buscando a interoperabilidade entre os equipamentos e sistemas já existentes e entre os que porventura venham a ser adquiridos, assim como garantir a interação de diferentes funções de combate num mesmo cenário virtual;
– Projeto TSB nacional: liderado pelo CIBld, em parceria com a Fundação Trompowski, e executado pela empresa nacional RSD (São José dos Campos/SP), o Treinador Sintético de Blindados (TSB) nacional tem por base o sistema de simulação Virtual Battlespace 2 (VBS2), que concorre para a redução de custos de aquisição e manutenção desse tipo de equipamento e para o desenvolvimento da indústria nacional de defesa;
– Simulador de Apoio de Fogo (SAFO): desenvolvido em parceria com a empresa espanhola TECNOBIT, ora em construção na área da sede do CISM, que tem por finalidade proporcionar suporte ao treinamento do sistema operacional apoio de fogo, tendo como requisito contratual a compatibilidade e integração com os demais sistemas de simulação em uso no EB;
– Centro de Avaliação e Adestramento – Sul (CAA-Sul): núcleo inicial constituído para o estudo e desenvolvimento de um CAA, implantado em instalações da sede do CISM, a fim de viabilizar o adestramento e a avaliação nível Subunidade (SU) e OM, com emprego de diversos meios de simulação, em especial no ramo da "simulação viva";
– Projeto Simulador Guarani (SIGUA): liderado pelo CIBld, em parceria com a UFSM, visa desenvolver um sistema de simulação com base na Nova Família de Blindados Sobre Rodas GUARANI, adotada pelo Exército Brasileiro, a partir de tecnologia 100% nacional, viabilizando o treinamento operacional e tático das futuras tropas mecanizadas da F Ter; e
– Projeto Modernização BT/41: fruto de mais uma parceria com a UFSM, tem por objetivo modernizar os Dispositivo de Simulação de Engajamento Tático (DSET) BT/41, substituindo a aquisição dos resultados por meio de impressora por um sistema moderno, georreferenciado, capaz de mostrar em tempo real os resultados obtidos pelas VBC em uma central de controle. Essa modernização representará um salto tecnológico de 20 anos, além da redução significativa de custos, em comparação com equipamentos similares no mercado mundial.
É notório que o investimento em instrução e treinamento militar baseado em simulação gera resultados efetivos a curto, médio e longo prazos. Um exemplo notório dessa assertiva foi o salto de qualidade na preparação dos recursos humanos da tropa blindada, em especial dos RCC, com o advento do Projeto Leopard, que viabilizou a aquisição de equipamentos de simulação de ponta, colocando o Exército Brasileiro em um grupo muito seleto de nações: as que são capazes de operar e manter um blindado moderno.
Cabe agora prosseguir nesse caminho, difundindo e ampliando o uso de simuladores, adquirindo meios e sistemas de simulação e viabilizando a execução de Exercícios Táticos em ambiente virtual e atividades de Certificação de Pelotões, como já vem sendo feito, entretanto, buscando-se uma abrangência cada vez maior, de modo a gerar os necessários efeitos multiplicadores nas unidades operacionais.
A importância do SAFO para as Unidades de Artilharia
O contrato firmado, em 2010, entre o EB e a empresa TECNOBIT permitiu a aquisição de um dos melhores simuladores de apoio de fogo (SAFO) do mundo. Para tanto, foram construídas, no interior do CISM, no Bairro Boi Morto, instalações com área aproximada de 2.500 m² destinadas a acolher os equipamentos e dispositivos de simulação, bem como dependências para almoxarifado, refeitório, acantonamento/alojamento e sanitários.
O sistema consiste em um software, que opera todo o simulador, e de maquinário/equipamento, com peças de artilharia e dispositivos de observação de tiro. O SAFO constitui-se em valioso meio de instrução para os oficiais e praças encarregados de empregar as armas e equipamentos de artilharia de campanha, uma vez que permite maior eficiência e eficácia na realização dos tiros técnicos e táticos programados e a avaliação do trabalho executado por todos os militares envolvidos, os resultados obtidos e o estabelecimento de indicadores de desempenho.
Esse simulador possibilitará economia e racionalização no emprego dos recursos humanos, materiais e financeiros, uma vez que concorrerá para uma significativa redução do consumo de munição e combustível para os deslocamentos até as posições de tiro, no desgaste dos materiais de emprego militar (viaturas, canhões e demais equipamentos) e dos riscos à segurança. Contribuirá, ainda, para a preservação do meio ambiente junto às áreas destinadas à execução dos tiros reais, em virtude da redução do número de granadas lançadas.
A escolha da Guarnição de Santa Maria para receber um dos módulos do SAFO ocorreu, dentre outros, devido aos seguintes aspectos:
– a localização estratégica e central, em relação a um grande número de OM de artilharia de campanha sediadas no Rio Grande do Sul e, também, em Santa Catarina e no Paraná;
– a existência de áreas no CISM e no Campo de Instrução Barão de São Borja (Rosário do Sul/RS), que possibilitam a execução do tiro real, após as atividades de adestramento no SAFO;
– a elevada capacidade de coordenação e controle sobre as atividades de adestramento a serem desenvolvidas naquela OM, proporcionada pelo Comando da 3ª DE, ao qual o SAFO estará subordinado;
– a existência do Centro de Instrução de Blindados (CIBld) e do Centro de Aplicação de Simulação de Posto de Comando (CAS/PC), ambos sediados nessa Guarnição e possuidores de dispositivos de simulação; e
– a recente criação do CAA – Sul (CAA – Sul), que será o responsável pela coordenação e integração dos dispositivos de simulação anteriormente mencionados, a partir do Núcleo implantado no CISM.