KMW establishes Brazilian hub in Santa Maria
KMW and FFG Strategic cooperation Brazilian M113 upgrades
O que significará a vinda da fábrica alemã de blindados Krauss-Maffei Wegmann (KMW) para Santa Maria? Além de dar visibilidade para a cidade até no Exterior, a empresa é uma grande promessa de desenvolvimento tecnológico, geração de empregos e crescimento da economia local. A vinda da KMW é promissora, pois a unidade de manutenção e produção de blindados que a empresa abrirá na cidade tem grande chance de se tornar a maior indústria local. Além de repercutir a notícia com autoridades locais, o Diário ouviu um especialista na área militar, que diz que a KMW pode ser uma Embraer terrestre.
Por enquanto, a KMW é uma importante promessa, pois precisam ser superadas etapas. Além da compra da área e da construção do prédio, que deve ser feita em terreno no começo da Faixa de Rosário, será preciso iniciar a manutenção dos 220 Leopard 1A5, comprados da Alemanha. Esse trabalho deve começar no início de 2012, quando ficarem prontos o prédio da KMW e uma pista de testes.
Esse contrato de manutenção, que deve ser assinado pela KMW com o Brasil em breve, dará garantia para que a empresa faça novos investimentos em Santa Maria, com a criação do centro de desenvolvimento, para criar um novo blindado de transportes de tropas a ser oferecido ao Exército. O número de empregos da KMW, que deve ficar de 50 a cem engenheiros e técnicos até o segundo ano de atividade, poderá crescer se ela conseguir vender esses blindados ao Brasil ou a outros países. Segundo especialistas, aí está uma vulnerabilidade que pode atrapalhar o crescimento da KMW aqui – depender da venda a países.
Por outro lado, uma vantagem é que, segundo fontes do setor, o Exército teria intenção de fabricar no Brasil um novo blindado. Nesse ponto, a KMW seria uma boa parceira. Assim como ocorreu com a Iveco (do grupo Fiat), que investirá R$ 75 milhões ao abrir uma unidade em Sete Lagoas (MG), criando 350 empregos. A Iveco fabricará o Guarani, veículo blindado anfíbio criado em conjunto com o Exército. De 2012 a 2030, deve produzir 2.044 unidades do Guarani que já foram encomendadas, em contrato de R$ 6 bilhões. A torcida é que para que, em Santa Maria, a KMW tenha trajetória semelhante. No que depender do CEO da KMW, Frank Haun, a fábrica alemã ficará por décadas em Santa Maria.
Entrevista Frank Haun, CEO (gerente executivo) da KMW mundial
Na terça-feira (12 Abril), o Diário fez uma entrevista exclusiva com o principal executivo da KMW, Frank Haun, na LAAD, a maior feira de defesa da América Latina, que reuniu 600 fabricantes de 53 países. O alemão Haun contou, em inglês, os planos da KMW para Santa Maria. Veja:
Diário de Santa Maria – Quais os planos da KMW para Santa Maria e o Brasil?
Frank Haun – Primeiro, queremos ter certeza de que esses Leopard tenham uma história de sucesso no Exército Brasileiro. Nosso interesse é dar suporte ao Exército de uma forma em que eles fiquem satisfeitos com esses tanques pelos próximos anos ou décadas
.
O segundo passo é que o Brasil é membro do Clube Leopard. Nosso interesse é trazer
tecnologia e trabalho para Santa Maria, para o Brasil. Eu tive um encontro no Brasil em 2010 sobre os princípios de cooperação, e eu entendi que para o governo e o povo brasileiro, é muito importante ter mais tecnologia e mais trabalho no Brasil. Essa é a nossa decisão de trazer essa tecnologia e trabalho ao país. Um coisa é a manutenção dos Leopard, a segunda é que nós vamos trazer novos produtos ao Brasil, desenvolver e fabricar no país em diferentes áreas, em veículos de rodas e com esteiras (lagartas).
Vamos ter diferentes atividades no Brasil nos próximos anos, e também diferentes jointventures e atividades que vão começar com empresas brasileiras parceiras.
Diário – Quais são os veículos blindados que a KMW pretende produzir no Brasil?
Haun – Nós temos duas ideias. Uma é um programa de melhoramento para o M113, que
é o veículo que está em exibição aqui no estande da KMW na feira LAAD, no Rio, e a segunda ideia é que vamos começar uma atividade (de produção) de um novo veículo blindado de rodas, que seria parecido com o Dingo 2.
Diário – A KMW quer desenvolver um novo blindado em parceria com o Brasil?
Haun – Sim, eu diria que nós temos um veículo com alta tecnologia. Vamos tentar apresentar ao Exército Brasileiro um novo veículo que vai satisfazer suas necessidades, e dar o mais alto nível de segurança ao soldado brasileiro.
Esse veículo deve ser feito em Santa Maria e vai em direção ao Dingo 2, que você mencionou.
Diário – Quantos empregos a KMW pretende criar em Santa Maria?
Haun – Gostaria de dizer centenas ou milhares, mas assim que começarmos as atividades, dependendo dos programas e projetos que conquistarmos, o número de empregados crescerá.
Estou certo de que, entre o primeiro e o segundo ano, vamos ter 50 a cem pessoas, mas a longo prazo poderá ser muito mais. Mas, mais uma vez, isso vai depender dos programas. Se não tivermos outros (além da manutenção dos Leopard), não poderemos empregar muita gente.
Diário – Quanto a KMW investirá?
Haun – Isso depende ainda de muitos fatores, ainda estamos negociando uma área de terra. E teremos ainda os equipamentos e as obras de construção. Eu poderia dizer de 5 milhões a 10 milhões (de euros) (R$ 11 milhões a R$ 23 milhões), mas pode ser muito mais ao longo do tempo. Dependerá das negociações.
Diário – Vocês têm planos de ficar em Santa Maria por um longo tempo?
Haun – Sim, por anos, anos e anos, porque nossos tanques são desenhados para durar muito tempo, mais do que um carro de passeio. Esses tanques servirão ao Exército Brasileiro por 20, 30 ou 40 anos. Isso significa que é um plano de décadas, e não de anos. Devemos ficar em Santa Maria por décadas. Se ficaremos por 100 anos ou mais, é difícil de dizer hoje (brincou)."
As perspectivas da KMW em Santa Maria (RS)
A KMW construirá em Santa Maria uma unidade de manutenção para os 250 blindados Leopard 1A5, comprados pelo Exército n Em Santa Maria, a KMW também montará um centro de pesquisa e desenvolvimento para criar um novo carro de combate para ser oferecido ao Exército Brasileiro e a outros países. Esse novo blindado de transporte de tropas, que deve ser fabricado em Santa Maria, pode ser parecido com o Dingo 2, que foi usado pelo Exército alemão no Kosovo e no Afeganistão. Ele é tão protegido que, segundo a KMW, nenhum militar morreu dentro dele, suportando minas e mísseis portáteis
Nos próximos anos, a KMW pretende começar a fabricar um blindado parecido com o Dingo 2 e também um sistema de pontes móveis. Quer também fazer a modernização e o reforço dos M113 do Exército Brasileiro
Opiniões de Executivo, Militar e Especialista
Luiz Fernando Pacheco Couto, vice-presidente de Indústria da Câmara de Comércio, Indústria e Serviços de Santa Maria (Cacism) e presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil (Sinduscon)
“É fundamental a vinda da KMW. Se a gente quer realmente um desenvolvimento significativo e sustentável para a cidade, a gente precisa de indústria. É só a indústria que traz esse tipo de desenvolvimento. Se não, a gente fica com o desenvolvimento sazonal, agricultura, funcionalismo público, que traz aquela estabilidade, mas é aquilo que não sobe muito, não dá aquele pulo de qualidade no desenvolvimento.
Nesse sentido, a vinda dessa indústria será muito importante. E acho que junto, ela trará novas empresas sistemistas. Isso é uma vitrina muito grande para nós. Vão se perguntar: por que essa potência alemã foi escolher uma cidade lá no sul do Brasil?
Isso gera uma exposição positiva de Santa Maria. Acho que não tem nada a ver as críticas ao fato de ser uma indústria bélica. Hoje, se tirar a indústria bélica americana, israelense e do Oriente Médio, praticamente todos os Exércitos são mais para proteção e segurança, para evitar confrontos, não é uma indústria bélica que vem para participar de conflitos. São Exércitos mais para demarcar fronteiras, para ter um poderio militar para dissuasão. Então, não será uma indústria bélica que vai fazer equipamentos que serão enviados para locais que vão ser usados para guerras e para matar gente. Até porque a KMW quer fazer aqui veículos de transportes de tropas.”
Sergio Westphalen Etchegoyen, comandante da 3ª Divisão do Exército
“A Estratégia Nacional de Defesa é um decreto do presidente, de 2008. A filosofia mudou no seguinte ponto: o Brasil sempre foi comprador de produto, de material de emprego militar, mas não admite mais ser um simples comprador. O Brasil passou a ser um parceiro para quem quiser fazer parceria na produção de material de emprego militar. Ao longo da minha carreira, vi o Exército comprar diversos tipos de blindados. Mas eram comprados o blindado e as peças por 5, 10 anos, depois saía para o mercado procurando outras coisas quando o estoque terminava.
Se você não tiver logística local, cria vulnerabilidade. Basta que o alemão ou qualquer outro fornecedor feche a torneira e acaba o suprimento.
Agora é diferente. Comprou-se da Alemanha o pacote tecnológico desses carros (Leopard 1A5), ou seja, o que se comprou foi um carro de combate e junto a tecnologia que nos permita continuar o desenvolvimento disso, e a empresa (KMW) instalando-se aqui. Foi assim na compra dos helicópteros franceses.
Montaram uma fábrica no Brasil, produzirão os helicópteros no país. Quando você produz o helicóptero aqui, você trás para cá a tecnologia, que te permite um salto geracional. São dois conceitos que foram superados. Agora estamos na terceira geração. Um era só comprar o equipamento, a caixa preta, o outro é adquirir a tecnologia para produzir o produto, e o terceiro, a capacitação tecnológica. Adquirir tecnologia é assim: tu me ensinas como se produz a máquina, e eu mecanicamente a reproduzo.
No pacote tecnológico, você me ensina qual é a tecnologia que produziu a máquina para que eu possa produzir a próxima geração. A lógica da Estratégia Nacional de Defesa é que, a partir de agora, o Brasil não compra mais helicóptero e, sim, um pacote tecnológico para produzir helicópteros. Essa é a grande mudança de mentalidade.
No caso dos Leopard, agora para fazer um negócio, tem que vir para cá a KMW. Ela produz, entre outras coisas, tecnologia… é um carro tecnologicamente bastante desenvolvido.
E entra em outro conceito da Estratégia de Defesa: a preocupação da dualidade do produto, ou seja, não estamos preocupados em fazer helicópteros só para o Exército.
Esse helicóptero é configurado para as Forças Armadas, mas pode ir para governo, polícia, hospital, particular. O equipamento é de natureza dual, em defesa civil e militar. A KMW aqui é um exemplo dessa nova lógica. O Exército ganhou novos equipamentos, mas a cidade e a região ganharam uma empresa de alta tecnologia. A sociedade vai perceber que investir em defesa não é um fundo perdido.”
Nelson Düring, editor do portal www.defesanet.com.br , especializado na área
“Se um caça é o top da engenharia aeronáutica, o mesmo acontece com o carro de combate para os armamentos terrestres. É o resultado da integração de vários e complexos sistemas com a missão não só de atacar as forças adversárias como sobrevir aos ataques no campo de batalha.
A vinda da KMW para Santa Maria é de extrema importância pelo impacto tecnológico de uma das duas mais importantes fabricantes de veículos blindados, tanto de rodas como de lagartas. Junto com ela, deverão vir outras empresas que têm seus componentes no Leopard 1A5BR.
Sempre é anunciada a sua morte, porém, o carro de combate ressurge com força. Nas áreas em que operam carros de combate no Afeganistão, as ações dos rebeldes são de menos intensidade, pelo poder de fogo e pela precisão dos tiros. Foram produzidos cerca de 6,1 mil veículos da Família Leopard 1 (inclui 4,5 mil carros de combate) e muitos continuam em operação, embora com várias décadas de uso, graças aos programas de manutenção e apoio da KMW e à criação do Clube Leopard, que congrega países usuários do Leopard 1 e do Leopard 2.
Já estão em Santa Maria o Centro de Instrução de Blindados e as unidades operacionais do Exército Brasileiro. A KMW completa o ciclo. O Exército Brasileiro planeja desenvolver um carro de combate em 10 a 15 anos. E poderá ter seu projeto realizado e um verdadeiro carro de combate rodando desde Santa Maria.
A KMW já procura no terreno tudo o necessário para construir campo de provas, pavilhão etc. Observe que um carro de combate é uma linha de montagem, como a de um automóvel, integrando todos os componentes produzidos por outras empresas.
Porém, caberá à KMW projetar, especificar, montar, testar e dar assistência. A KMW poderá ser a Embraer terrestre.”
Fonte – Diário de Santa Maria