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A logística militar em tempos de crise

Maj Jonathas da Costa Jardim

A evolução dos cenários nacional e internacional exige do planejador logístico uma continuada avaliação das demandas e das capacidades necessárias para que suas atividades sejam cumpridas.

No que tange à Força Terrestre, é necessário que a logística seja capaz de ajustar-se ao dinamismo das ações e à diversidade de situações de emprego, com suas particularidades e especificidades, o que se denomina “logística na medida certa” (BRASIL, 2018): Em tempos de crise, os processos de planejamento e de execução das atividades voltadas à gestão da cadeia logística requerem rápidas e pontuais adaptações, a fim de proporcionar a continuidade do acesso do usuário a produtos e serviços, impactando todo o ciclo logístico.

Dessa maneira, militares de diversas organizações militares (OM) dos Comandos Militares da Amazônia, do Norte e do Oeste foram empregados na contenção de queimadas na Floresta Amazônica e no Pantanal e nas Operações Verde Brasil I e II e Pantanal (BRASIL, 2020a), que exigiram um forte esforço nas funções logísticas Recursos Humanos, Suprimento, Manutenção e Transporte entre os anos de 2019 e 2020.

Ainda em 2020, as ações do Comando Militar do Leste, esforços da Defesa Civil, do Corpo de Bombeiros e dos demais órgãos dos governos dos estados do Espírito Santo e de Minas Gerais, foram fundamentais para mitigar os danos causados pelas fortes chuvas que atingiram aquelas regiões (BRASIL, 2020b), proporcionando alento às famílias afetadas e a conscientização dos moradores para desocuparem as residências em áreas de risco, assim como demonstrando a importância da aquisição de capacidades relativas às funções logísticas Salvamento e Engenharia, particularmente no tocante ao controle de danos, à conservação e à gestão ambiental.

No atual cenário pandêmico, marcado pela disseminação do vírus da covid-19, o mundo enfrenta uma crise globalizada em decorrência da paralisação de muitos serviços e da suspensão ou redução drástica das atividades de muitos setores. Entretanto, algumas áreas tiveram que aumentar suas demandas para evitar um colapso geral e ajudar a manter os serviços essenciais. Nesse ínterim, a logística foi eixo fundamental.

A crise do SARS-COV-2 tornou a função logística Saúde o carro-chefe no enfrentamento da crise, pois ocorreu um aumento considerável da demanda por profissionais, instalações e meios de saúde.

A necessidade de complementar o plano operacional dos entes que, rotineiramente, executariam tais atividades foi crescente, acentuando a importância dessa função logística por meio da adoção de medidas sanitárias de prevenção e de recuperação e pelo atendimento, pelo pessoal militar, das ações estabelecidas pelo Ministério da Defesa e emitidas por meio da Portaria Nr 1.232/GM-MD, de 18 de março de 2020.

Nesse documento, foi regulado o emprego das Forças Armadas para apoio às medidas deliberadas pelo governo federal, voltadas para a mitigação das consequências da pandemia da covid-19 (BRASIL, 2020c).

Ainda, ressalta-se a expertise do pessoal especializado do 1º Batalhão de Defesa Química, Biológica, Radiológica e Nuclear (1º B DQBRN), que contribuiu para a disseminação do conhecimento relativo à descontaminação de instalações públicas e de OMs, permitindo que elas pudessem estar aptas a realizar tal tarefa em todo o País, resultando em uma ampliação dessa capacidade.

A função logística Suprimento também teve sua importância, pois além do emprego de pessoal, material militar de diversas classes foi aprovisionado em inúmeras cidades brasileiras a fim de atenuar a crise. Hospitais de Campanha, instalados nas cidades do Rio de Janeiro, de Manaus, de Boa Vista e de Porto Alegre, proporcionaram agilidade ao atendimento e a ampliação do número de leitos disponíveis, desafogando hospitais exauridos pela repentina demanda. Com relação à função logística Manutenção, a parceria do Ministério da Defesa (MD) com a Confederação Nacional da Indústria (CNI) e as empresas proporcionou a realização de atividades de manutenção preventiva e preditiva em mais de 200 respiradores (Defesanet, 2020).

A ação logística ofereceu um incremento na disponibilidade de meios, pois fez com que o material retornasse a sua melhor condição para emprego. A ação foi promovida pelo MD por meio da Secretaria de Produtos de Defesa (SEPROD) e da Chefia de Logística (CHELOG), sendo gerenciada pelo Centro de Coordenação de Logística e Mobilização (CCLM).

Além disso, OMs logísticas passaram a agregar novas capacidades operativas para mitigar as necessidades em tempo exíguo e em locais diversos. O Parque Regional de Manutenção da 3ª Região Militar do Exército, localizado na cidade de Santa Maria (RS), produziu milhares de Equipamentos de Proteção Individual (EPI), (BRASIL, 2020d), entre máscaras de tecido, toucas e aventais descartáveis.

O Parque Regional de Manutenção da 5ª Região Militar do Exército, localizado na cidade de Curitiba (PR), adaptou sua linha de produção de coletes balísticos para a produção de máscaras de proteção descartáveis (BRASIL, 2020e), por conta da inicial dificuldade da indústria nacional em adaptar-se às novas demandas de produção.

Ademais, no contexto da covid-19, a logística militar, mais uma vez, reinventou-se, fazendo com que a imunização fosse uma realidade em todos os rincões do País, realizada com a maior brevidade possível, tanto nos grandes centros, quanto nos postos de vacinação instalados junto ao Palácio Duque de Caxias, na região central da cidade do Rio de Janeiro (BRASIL, 2020f), ou nas comunidades indígenas Ywyrareta, Mukuru e Aruwaity, nos municípios de Laranjal do Jarí e Pedra Branca do Amapari, no interior do Amapá (BRASIL, 2021g). Com relação ao apoio à vacinação contra a covid-19, a função logística Transporte ganhou grande importância.

A necessidade da intermodalidade se mostrou como fator crucial para agilizar e diminuir os custos de distribuição, mesmo considerando o modal aéreo como a chave para o sucesso dessa missão de abrangência mundial.

A expertise brasileira em distribuir 19 tipos de vacinas diferentes pelo SUS anualmente (QUINTELLA; SUCENA, 2020, p.1-2), em todo o País foi muito importante e contou com o incremento do transporte em helicópteros, entre outros, do 3º Batalhão de Aviação do Exército. Nessa conjuntura, a agilidade proporcionada pelo vetor aéreo foi relevante para o planejamento da distribuição do imunizante contra a covid-19.

Em um país de extensões continentais como o Brasil, os desafios logísticos são relevantes. A manutenção da cadeia de suprimento, a inviolabilidade dos lotes e a manutenção das condições exigidas pelo fabricante com relação à temperatura e aos locais de armazenamento devem ser minimizados por meio do estudo pormenorizado dos padrões de qualidade do produto e dos métodos para manter a confiabilidade exigida, permitindo, assim, que esteja em hora, local e condições próprias para o “consumidor final”, cumprindo a missão logística estabelecida.

Tudo isso levando em consideração a racionalidade dos recursos, a prontidão operacional e o atendimento às demandas de “compliance” e “accountability”. Concluindo, observa-se que a solução de crises passa por uma gestão logística inteligente.

Nesse contexto, Nathaniel Green (NAVSUP, 1926, p.1), general logístico do Exército Americano na Guerra de Independência dos Estados Unidos, afirmou: “Logística é aquela coisa que se você não tiver o suficiente, sua guerra não será vencida tão breve quanto poderia”.

Em tempos de crise, observa-se que o emprego da “logística na medida certa” é um instrumento valioso para a Força Terrestre, pois facilita a resolução de problemas complexos que exigem eficiência e eficácia para seu desfecho em meio a um turbilhão de novas demandas.

Assim, o profissional militar especialista em logística deve dominar o uso das funções logísticas para que tais ferramentas possam auxiliá-lo no emprego das capacidades necessárias para assegurar a amplitude do alcance operativo exigido em cada situação, em particular para auxiliar o País em meio à crise pandêmica que assola todo o mundo.

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BIBLIOGRAFIA

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Sobre o autor:

O Major de Material Bélico Jonathas da Costa Jardim do Exército Brasileiro é, atualmente, instrutor da Escola de Comando e Estado-Maior do Exército, no Rio de Janeiro. Foi comandante da 111ª Companhia de Apoio de Material Bélico no biênio 2017/2018. Foi instrutor da Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais (EsAO) entre os anos de 2012 e 2013. Foi Oficial de Inteligência do 16º Contingente Brasileiro no Haiti (BRABATT/16).

Trabalhou nos Comandos Conjuntos estabelecidos pelo Comando Militar do Leste durante os Jogos Mundiais Militares do Brasil, em 2011, Olimpíadas e Paralimpíadas Rio 2016 e na Intervenção Federal no estado do Rio de Janeiro, em 2018, realizando ações nas áreas de inteligência, operações e logística.

Possui, dentre outros, os seguintes cursos e estágios: Curso de Comando e Estado-Maior do Exército (ECEME); Curso de Aperfeiçoamento de Oficiais (ESAO); Curso de Aperfeiçoamento para oficiais em Logística na Escuela de Armas (EDA), na República Argentina; e Curso de Operações de Inteligência na Escuela Militar de Inteligencia, no Estado Plurinacional da Bolívia. É formado em Direito pela Faculdade São José e especialista em Direito Militar pela Fundação Trompowsky. Possui Mestrado profissional em Ciências Militares realizado na EsAO.

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