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A Guerra de Desinformação nas Enchentes do Rio Grande do Sul: Um Desafio para a Sociedade

A Importância da literacia mediática na Era Digital

Ricardo Fan – DefesaNet

As enchentes no Rio Grande do Sul, que causaram devastação e perdas humanas, também trouxeram à tona um outro tipo de tragédia: a guerra de informações e a disseminação de fake news. Nesse cenário, as redes sociais se tornaram um campo de batalha onde informações verdadeiras e falsas se misturam, confundindo e prejudicando a resposta à crise.

Enquanto a solidariedade de todo o Brasil se mobiliza para apoiar as comunidades afetadas, a desinformação se espalha rapidamente, criando insegurança e confusão. Notícias falsas sobre doações retidas por falta de nota fiscal, bloqueio de trânsito de veículos com alimentos e outros boatos circulam nas redes sociais, prejudicando os esforços de ajuda e a confiança da população.

Neste contexto, é essencial entender o papel das redes sociais na disseminação de informações e promover a literacia mediática. A conscientização sobre fake news, a verificação de fatos e a busca por fontes confiáveis são ferramentas cruciais para enfrentar essa vergonha da desinformação em tempos de tragédia.

As fake news (notícias falsas) são uma realidade presente desde os primórdios da comunicação humana. Desde que o homem aprendeu a falar e, posteriormente, a escrever, a disseminação de informações incorretas ou enganosas sempre existiu. No entanto, nos dias de hoje, o controle da informação tornou-se ainda mais fundamental.

Teoria do Controle da Informação é um campo de estudo que analisa como a informação é gerenciada e controlada, especialmente na era digital. Ela aborda questões cruciais, como:

  1. Transformação Digital: A revolução tecnológica mudou radicalmente a forma como acessamos e compartilhamos informações. A internet e as redes sociais democratizaram o acesso à informação, permitindo que qualquer pessoa se torne um disseminador de notícias.
  2. Impacto das Tecnologias Digitais: As tecnologias digitais têm um impacto profundo no exercício do poder e na democracia. A velocidade com que as informações se espalham influencia a opinião pública, as eleições e as políticas governamentais.
  3. Entropia e Informação: A entropia, medida da incerteza e aleatoriedade em um sistema de informação, está diretamente relacionada à quantidade de informação. Quanto maior a entropia, maior a desordem e a quantidade de informações circulantes.
  4. Desafios das Redes Sociais: As redes sociais desempenham um papel crucial na disseminação de informações. Elas permitem que eventos e notícias se tornem virais em questão de minutos. No entanto, essa descentralização do controle da narrativa também abre espaço para a proliferação de notícias falsas.
  5. Guerra Híbrida e Desinformação: Grupos com interesses diversos, incluindo governos e veículos jornalísticos, perderam parte do controle da informação com a ascensão das redes sociais. Agora, buscam desacreditar esses meios, muitas vezes criando notícias falsas para manipular a opinião pública.

Um dos aspectos centrais da Teoria do Controle da Informação é a entropia, que é uma medida da quantidade de incerteza ou aleatoriedade em um sistema de informação. A entropia está diretamente relacionada à quantidade de informação: quanto maior a entropia, maior a desordem e, consequentemente, maior a quantidade de informação.

Além disso, a teoria também se preocupa com o controle e monitoramento de sistemas de informação para garantir que eles estejam funcionando corretamente e atingindo seus objetivos.

Teoria da Informação proposta por Claude E. Shannon é um bom ponto de partida. Ela estuda a quantificação, armazenamento e comunicação da informação, e tem aplicações em áreas como criptografia, processamento de linguagem natural e até neurociência computacional.

Para uma abordagem crítica, a Teoria Crítica da Informação analisa a informação no contexto de dominação, relações assimétricas de poder, exploração, opressão e controle, buscando contribuir para o estabelecimento de uma sociedade mais participativa e cooperativa.

Essas teorias são fundamentais para entender como a informação é manipulada e utilizada em diferentes contextos, especialmente em um mundo onde a informação é um recurso tão valioso e poderoso.

O controle da narrativa é frequentemente buscado por diversos atores na sociedade, cada um com seus próprios interesses e motivações. Aqui estão alguns dos principais grupos que buscam influenciar a narrativa:

  • Governos e Políticos: Eles buscam moldar a narrativa para promover suas políticas, consolidar poder e influenciar a opinião pública.
  • Mídia e Jornalistas: A mídia tem o poder de selecionar e destacar certas histórias, o que pode influenciar a percepção do público sobre eventos e questões.
  • Empresas e Marcas: No mundo corporativo, o controle da narrativa é essencial para a gestão da reputação e para influenciar consumidores e investidores.
  • Ativistas e Grupos de Interesse: Esses grupos buscam controlar a narrativa para promover causas sociais, ambientais ou políticas específicas.
  • Indivíduos e Influenciadores: Com o advento das redes sociais, indivíduos com grande número de seguidores podem moldar a narrativa em torno de temas pessoais ou sociais1.

Cada um desses atores utiliza estratégias diferentes para controlar a narrativa, desde a disseminação de informações até a censura e a criação de conteúdo direcionado. A luta pelo controle da narrativa é uma parte fundamental da dinâmica de poder na sociedade moderna.

As redes sociais com fonte de informação

As redes sociais desempenham um papel crucial na disseminação de informações na sociedade contemporânea. Elas facilitam o acesso rápido às notícias e permitem que eventos e notícias se tornem virais em questão de minutos. Qualquer pessoa pode ser um disseminador de notícias, o que descentraliza o controle sobre a narrativa informativa e desafia a capacidade das mídias tradicionais de acompanhar o ritmo.

No entanto, essa facilidade também serve como palco para a disseminação de desinformação. A viralidade é um dos principais impulsionadores da rápida disseminação de notícias nas redes sociais, e conteúdo que evoca emoções intensas tende a se espalhar rapidamente. Isso cria um ambiente propício para a proliferação de notícias falsas, pois muitos usuários compartilham informações sem uma verificação adequada.

A relação entre notícias falsas e o sistema democrático de direito é complexa. As notícias falsas podem ser usadas como ferramentas de manipulação da opinião pública, influenciar eleições, difamar opositores políticos, espalhar teorias da conspiração e criar polarização na sociedade. Quando as pessoas são expostas a informações falsas, podem tomar decisões baseadas em premissas errôneas, comprometendo a integridade da democracia.

Portanto, o papel das redes sociais é marcado por uma dualidade: elas são ferramentas poderosas para conectar pessoas e disseminar informações rapidamente, mas também são fontes potenciais de desinformação que podem ter impactos significativos na sociedade e na democracia.

Em resumo, a luta pelo controle da informação é uma batalha constante na era digital. A conscientização sobre a disseminação de notícias falsas e a busca por fontes confiáveis são essenciais para uma sociedade informada e crítica.

A quem interessa a disseminação de fake news nas redes sociais?

Quando o governo omite informações ou divulga notícias errôneas, isso pode ser considerado uma forma de desinformação ou má gestão da informação. Embora não se enquadre estritamente na definição de fake news, essas práticas podem ter impactos negativos semelhantes:

  1. Omissão de Informações:
    • Quando o governo não divulga informações relevantes ou oculta dados importantes, isso pode prejudicar a transparência e a confiança do público.
    • A omissão deliberada de informações pode ser vista como uma forma de manipulação da narrativa.
  2. Divulgação de Notícias Errôneas:
    • Quando o governo dissemina informações incorretas ou imprecisas, isso pode ser prejudicial à sociedade.
    • Embora não seja exatamente fake news, a divulgação de notícias errôneas por parte do governo pode minar a credibilidade das instituições e afetar a tomada de decisões informada.
  3. Responsabilidade e Consequências:
    • O governo tem a responsabilidade de fornecer informações precisas e confiáveis à população.
    • Quando há erros ou omissões, é importante que haja prestação de contas e correção.

Recentemente no Brasil, houve casos em que as fake news tiveram um impacto significativo durante eventos climáticos extremos, como enchentes. Aqui estão alguns exemplos:

  1. Tragédia no Rio Grande do Sul: Durante as enchentes no Rio Grande do Sul em maio de 2024, fake news circularam nas redes sociais, prejudicando os esforços de resgate. Notícias falsas incluíam alegações de que o governo estava multando barqueiros que ajudavam no resgate das vítimas e que o governo federal havia patrocinado um show da Madonna no Rio de Janeiro durante a tragédia.
  2. Reação do STF: As fake news sobre as enchentes no Rio Grande do Sul levaram ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) a reforçar a necessidade de regulamentação das plataformas digitais. A desinformação foi vista como um exemplo claro do potencial destrutivo da desinformação para além do contexto eleitoral.
  3. Inquérito da Polícia Federal: A Polícia Federal abriu um inquérito para apurar a divulgação de conteúdos falsos relacionados às enchentes no Rio Grande do Sul. Isso incluiu a investigação de publicações que afirmavam que o presidente não estava ajudando o estado ou que a Polícia Rodoviária Federal estava impedindo a chegada de donativos.

A disseminação de fake news nas redes sociais interessa a diversos grupos e indivíduos com motivações variadas. Aqui estão alguns dos principais interessados:

  1. Grupos Políticos: Alguns grupos políticos utilizam fake news para influenciar a opinião pública, difamar opositores e manipular eleições.
  2. Criadores de Conteúdo: Há pessoas que produzem e disseminam fake news para gerar receita através de cliques e visualizações em redes sociais e sites.
  3. Indivíduos com Causas Particulares: Pessoas envolvidas com causas específicas podem criar e espalhar fake news para promover suas agendas ou convicções.
  4. Trolls e Sátira: Alguns criam fake news por humor ou sátira, sem necessariamente buscar ganho financeiro ou político.
  5. Usuários Comuns: Muitas vezes, usuários comuns das redes sociais compartilham fake news inadvertidamente, acreditando estar disseminando informações verdadeiras.

A relação entre veículos de notícias e a descredibilidade das redes sociais é complexa. Por um lado, a disseminação de fake news pode minar a confiança do público em todas as formas de mídia, incluindo veículos de notícias tradicionais. Por outro lado, a desinformação nas redes sociais pode levar algumas pessoas a buscar fontes de notícias consideradas mais confiáveis e estabelecidas, o que poderia beneficiar os veículos de notícias tradicionais.

Além disso, a proliferação de fake news nas redes sociais pode criar um ambiente onde aqueles que desejam manter o controle da narrativa encontram oportunidades para manipular a opinião pública. Isso pode ser feito tanto por atores políticos quanto por veículos de comunicação com agendas específicas, que utilizam a desinformação para reforçar suas próprias narrativas ou desacreditar outras.

Portanto, enquanto a descredibilidade das redes sociais pode apresentar desafios para o jornalismo tradicional, também pode reforçar a importância do jornalismo ético e fact-checking, destacando a necessidade de fontes de notícias confiáveis e verificadas.

Literacia mediática nas redes sociais

As redes sociais têm um papel fundamental na promoção da literacia mediática, que é a capacidade de compreender, analisar e avaliar criticamente o conteúdo dos meios de comunicação. No contexto da identificação de fake news, a literacia mediática envolve habilidades como:

  1. Verificação de Fatos: Ensinar os usuários a verificar informações e fontes, cruzando dados com múltiplos veículos de informação confiáveis.
  2. Conscientização: As redes sociais podem promover a conscientização sobre a existência e os perigos das fake news, incentivando o pensamento crítico.
  3. Educação Digital: Oferecer recursos educativos que ajudem os usuários a identificar sinais de notícias falsas, como títulos sensacionalistas ou fontes duvidosas.
  4. Ferramentas de Reporte: Disponibilizar ferramentas que permitam aos usuários reportar conteúdo suspeito, contribuindo para a sua remoção ou verificação.
  5. Parcerias: Colaborar com fact-checkers e organizações educativas para criar campanhas de informação e ferramentas de verificação dentro das plataformas.

Portanto, as redes sociais desempenham um papel ativo na educação dos usuários para o consumo crítico de informações, ajudando a combater a disseminação de fake news.

Conclusão: A Complexidade das Fake News na Sociedade Contemporânea

Em um mundo cada vez mais conectado, a disseminação de fake news tornou-se um fenômeno global com implicações profundas. As redes sociais, com sua capacidade de espalhar informações rapidamente, desempenham um papel ambíguo: são tanto ferramentas de empoderamento quanto veículos para a desinformação.

Teoria do Controle da Informação nos ajuda a entender como a informação é gerenciada na era digital, destacando a importância da entropia e da gestão da informação. A desinformação nas redes sociais desafia o controle tradicional da narrativa, permitindo que qualquer pessoa se torne um disseminador de notícias, para o bem ou para o mal.

Eventos climáticos extremos, como as enchentes no Rio Grande do Sul, ilustram como as fake news podem ter consequências reais, afetando os esforços de resgate e a resposta a desastres. A desinformação pode ser usada para manipular a opinião pública, desacreditar adversários ou até mesmo desviar a atenção de questões críticas.

A literacia mediática surge como uma solução essencial, capacitando os indivíduos a identificar e questionar a veracidade das informações. As redes sociais têm a responsabilidade de promover essa literacia, fornecendo ferramentas e recursos educativos para combater a disseminação de fake news.

Em conclusão, enquanto as fake news continuam a ser um desafio, a conscientização e a educação são as chaves para uma sociedade mais informada e menos suscetível à desinformação. É um esforço coletivo que requer a participação ativa de indivíduos, plataformas de mídia social e instituições para garantir a integridade da informação em nossa sociedade digital.

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