Cel Flávio Roberto Bezerra Morgado
O Exército Brasileiro é uma instituição nacional permanente e regular, organizada com base na hierarquia e na disciplina, sob a autoridade suprema do Presidente da República, e destina-se à defesa da Pátria, à garantia dos poderes constitucionais e, por iniciativa de qualquer destes, da lei e da ordem. Surgiu da vontade da nação brasileira de defender sua soberania contra invasores externos ainda no Brasil Colônia.
Esse desejo foi legitimado a partir da independência e da criação, de fato, do Exército Brasileiro, na constituição de 1824. Para o cumprimento de suas missões e tarefas, vale-se da Força Terrestre, instrumento de ação, que inclui todos os elementos da instituição com capacidades geradas para atuar no ambiente operacional terrestre nas Operações no Amplo Espectro.1
A organização do Exército contempla o Comandante do Exército, os Órgãos de Assessoramento Superior, o Órgão de Direção Geral, os Órgãos de Assistência Direta e Imediata, os Órgãos de Direção Setorial, o Órgão de Direção Operacional e a Força Terrestre.
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Figura 1 – Organograma do Exército Brasileiro2 |
As constantes evoluções ocorridas nas últimas décadas, impulsionadas, principalmente, pelo desenvolvimento científico e tecnológico, colocaram o mundo na Era da Informação e foram a mola impulsionadora para a transformação do Exército Brasileiro, iniciada em 2010.
Em 10 de maio de 2010, foi publicado o Manual de Transformação do Exército com o objetivo de dar a partida neste processo, definindo os vetores de transformação.
Em 26 de setembro de 2013, foram publicadas as Bases para a Transformação da Doutrina Militar Terrestre a fim de orientar a introdução de concepções e conceitos doutrinários com vistas à incorporação, na Força Terrestre, das capacidades e das competências necessárias ao seu emprego na Era do Conhecimento.
Em 5 de dezembro de 2013, foi publicada a Concepção de Transformação do Exército a fim de conduzir o Exército Brasileiro ao patamar de força armada de país desenvolvido e ator global, capaz de se fazer presente, com a prontidão necessária, em qualquer área de interesse estratégico do Brasil.
A Força Terrestre é o instrumento de ação do Exército para atuar no ambiente operacional. Entretanto, o Exército Brasileiro atua no ambiente estratégico, o qual, da mesma forma que o ambiente operacional, é um conjunto de condições e circunstâncias que afetam o espaço onde atuam diversos órgãos e instituições e que interferem na forma como estas são conduzidas, sendo composto pelas dimensões física, humana e informacional.
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Figura 2 – Relação Ambiente Estratégico e Ambiente Operacional |
A dimensão informacional abrange os sistemas utilizados para obter, produzir, difundir e atuar sobre a informação. Reveste-se de destacada relevância em função dos avanços na área de Tecnologia da Informação e Comunicação, que proporcionaram elevada capacidade de transmissão, acesso e compartilhamento da informação.3
As operações de informação consistem em um trabalho metodológico e integrado de capacidades, em conjunto com outros vetores, para informar e influenciar grupos e indivíduos, bem como afetar o ciclo decisório de oponentes, ao mesmo tempo protegendo o nosso. Constituem-se em uma operação complementar, as quais se destinam a apoiar as operações básicas (ofensiva, defensiva e cooperação e coordenação com as agências) e a contribuir para o incremento de seus resultados.
Ou seja, sua utilização deve estar associada a alguma operação básica e com o oponente bem definido, e seu campo de atuação estar associado ao ambiente operacional.
A comunicação estratégica4 pode ser definida como a comunicação integrada, sincronizada e alinhada com as ações realizadas por uma organização para atingir seus objetivos. Pressupõe a combinação das práticas adotadas, no âmbito da comunicação social tradicional, com as relações institucionais sistematizadas e com o emprego das mídias digitais, aí incluídas as mídias e redes sociais. O seu campo de atuação está associado ao ambiente estratégico.
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Figura 3 – Relação Comunicação Estratégica e Operações de Informação com seus ambientes |
Verifica-se, portanto, que a Comunicação Estratégica e as Operações de Informação são excelentes ferramentas para atuação na dimensão informacional, cada uma com seu campo de atuação. As Operações de Informação, associadas a uma operação básica e com uma ameaça identificada, a qual deve possuir um processo decisório em um ambiente operacional, e a Comunicação Estratégica, no nível mais alto da instituição, interagindo com os atores existentes no ambiente estratégico.
O Maj Donald L. Kingston Jr5, do exército norte-americano, diz que uma das causas da queda do voo AF 447, da Air France, ocorrido em 1º de junho de 2009, foi a grande quantidade de informações transmitidas aos pilotos, devido aos vários sensores existentes na aeronave, os quais não tiveram condições de analisar e separar o que era importante, não conseguindo decidir corretamente.
Além disso, ele diz que, nas operações militares, o esforço de obter mais e mais informações por meio da tecnologia tem incrementado a complexidade das mesmas mais do que se tem melhorado a capacidade de entender o que se passa no ambiente operacional.
A falta de capacidade de interagir na dimensão informacional, dentro do seu ambiente, foi uma das causas principais da queda do AF 447.
O perfeito entendimento e a correta utilização da Comunicação Estratégica e das Operações de Informação são fundamentais para que o Exército Brasileiro e a Força Terrestre continuem cumprindo suas missões, sempre orientados por seus valores e suas tradições, alicerçados na hierarquia e na disciplina.
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1.Manual EB20-MF-10.101 Exército Brasileiro.
2.Disponível em http://www.sgex.eb.mil.br/sistemas/organograma/organograma_exercito.php
3.EB20-MF-10.102 Doutrina Militar Terrestre
4.PADECEME 01/2020 – A Dimensão Informacional
5.Military Review Janeiro-Fevereiro 2015 – Direção ao Fracasso – A Complexidade das Operações do Exército
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Sobre o Autor: Flávio Roberto Bezerra Morgado é Coronel de Cavalaria exercendo atualmente a função de Chefe da Divisão de Doutrina da Escola de Comando e Estado-Maior do Exército. Foi Assessor do Secretário de Estado de Segurança durante a Intervenção Federal no Estado do Rio de Janeiro e Instrutor do Centro de Instrução de Blindados.