Maj Luciano Sandri de Vasconcelos
A BRIGADA STRYKER (STRYKER BRIGADE COMBAT TEAM)
Há mais de 10 anos, o Exército Americano padronizou a Brigade Combat Team (BCT) como a unidade básica de armas combinadas. Essa estrutura modular substituiu todos os tipos de brigadas de combate existentes anteriormente, compondo-se de uma força tática, auto-suficiente e padronizada.
A Brigada Stryker (Stryker BCT) possui o efetivo de 4.439 militares. A missão da Bda Stryker do Exército dos Estados Unidos é desdobrar-se globalmente, em todo tipo de ambiente operacional, em particular nas operações em ambiente urbano.
O seu deslocamento deve ser realizado de forma rápida, por ar, em condições de conduzir operações de forma independente ou integrando uma força de escalão superior.
A Bda Stryker deve realizar o primeiro combate e apoiar o desdobramento das demais brigadas que chegam ao Teatro de Operações (TO), devendo desdobrar-se em até 96 horas, enquanto as demais estruturas desdobram- -se em até 120 horas.
Constitui-se em uma força mecanizada estruturada em torno da viatura plataforma Stryker. A Vtr Stryker tem como requisito operacional ser transportada em aeronave C-130 em condições de ser empregada assim que desembarcar.
A Bda Stryker é organizada para chegar rapidamente ao local da crise, mas não como força de assalto. O desdobramento é realizado em um aeroporto que esteja sob o controle de forças amigas.
Essa organização é diferente das brigadas de Infantaria leves e pesadas. Esta Bda foi organizada para suprir o hiato entre forças leves e pesadas e atuar no contexto do conflito de amplo espectro e como parte da transformação do Exército (JUNIOR, 2017).
A Bda está organizada da seguinte forma:
– 3 Batalhões de Infantaria Stryker;
– 1 Regimento de Cavalaria (Segurança, Reconhecimento e Aquisição de Alvos);
– 1 Grupo de Artilharia 155 mm;
– 1 Batalhão Logístico;
– 1 Companhia Comando;
– 1 Companhia de Inteligência;
– 1 Companhia de Comunicações;
– 1 Companhia de Engenharia; e
– 1 Companhia Anticarro.
As possibilidades da Bda, de acordo com o manual de campanha FM 3-21.31 Stryker Brigade Combat Team, são as seguintes:
– Combate aproximado mediante o emprego de armas combinadas;
– Mobilidade;
– Alcance (rápido acesso e compartilhamento de informações);
– Melhor compreensão situacional (Reconhecimento, Inteligência e monitoramento);
– Letalidade;
– Proteção da força que opera;
– Interoperabilidade em operações conjuntas, operações multinacionais e interagências;
– Operações em amplo espectro;
– Operações simultâneas;
– Operações de estabilidade e suporte (Stability and Support Operations – SASO), que consiste em operações de manutenção da paz, imposição da paz, proteção de coalizões e separação de beligerantes;
– Operações em conflitos de pequena escala (Small Scale Contingencies – SSC), que consiste num rápido desdobramento para prevenir, conter, estabilizar ou terminar crises, com poder de determinar o resultado do conflito;
– Operações em conflitos de grande escala (Major Theater Wars – MTW), que consiste em executar a ação principal em terrenos complexos e urbanos, economia de forças, reconhecimentos, vasculhamentos e ações limitadas de guarda, constituir a força de acompanhamento e apoio, e executar a segurança da área de retaguarda.
Nas operações de F Cob, a Brigada pode executar operações com distância de 50 a 60 quilômetros do corpo principal. As principais tarefas consistem em negar a informação do inimigo, conduzindo um contra-reconhecimento para destruir o reconhecimento inimigo e as forças inimigas dentro da sua zona de ação.
Além disso, reconhece, rastreia, ataca, defende e retarda conforme necessário, impedindo que forças inimigas contornem e afetem o corpo principal (EUA, 2015a).
Para o cumprimento dessa missão, a Brigada Striker avança em uma frente ampla e realiza operações semelhantes ao reconhecimento de zona. Há a previsão de emprego de elementos de aviação, progredindo em coordenação com a F Cob face a um Flanco exposto da mesma.
No contato com o inimigo, esses recursos aéreos envolvem e destroem as forças inimigas de acordo com a intenção do comandante, informando a localização, composição e disposição do inimigo às forças terrestres.
Caso a força de cobertura encontre uma lacuna nas defesas inimigas, ela se prepara para penetrar nesta defesa. Se a força de cobertura não for bem sucedida, existe a possibilidade do comandante do corpo principal atacar as vulnerabilidades inimigas no tempo desejado com suas forças anteriormente não comprometidas.
O manual de campanha FM 3-98 (Reconnaissance and Security Operations) prevê o emprego da F Cob em operações defensivas e ofensivas. A força de cobertura avançada consiste em uma operação de cobertura ofensiva com a tarefa orientada para localizar e penetrar na zona de segurança e defesas avançadas de uma força inimiga desdobrada para destruí-la.
Na figura abaixo, encontra- se o dispositivo da Brigada Striker durante uma Força de Cobertura Avançada:
A BRIGADA BLINDADA DO EXÉRCITO FRANCÊS
Neste momento, o artigo voltar-se-á a uma Grande Unidade do Exército Francês, tendo como referência a 6ª Brigade Légère Blindée (6ª Brigada Blindada Ligeira), uma das oito Brigadas Multi-Tarefas que estão à disposição do Comando da Força de Ação deste país.
A sede da Brigada está situada em Nimes, possuindo a capacidade de desdobrar-se em qualquer teatro de operações, empregando o poder de fogo, agilidade e mobilidade estratégica.
A Brigada consiste em uma Grande Unidade formada para uma dada missão, a partir de estruturas de tempo de paz. É interarmas, modular, coerente e capaz de manobrar articulada em torno de um comando único, sendo geralmente organizada em uma estrutura quaternária.
A sua composição está baseada em elementos de combate e apoio ao combate do Exército, Marinha e Legião Estrangeira, especificadas conforme relação abaixo:
– Companhia de Comando e Comunicações dotada da Vtr VAB;
– Regimento de Cavalaria dotado da Viatura Blindada de Reconhecimento sobre Rodas AMX 10 RC;
– Regimento de Cavalaria Estrangeira dotado da Viatura Blindada de Reconhecimento sobre Rodas AMX 10 RC;
– Regimento de Cavalaria Estrangeira dotado da Vtr VAB;
– Regimento de Infantaria Estrangeira dotado da Viatura Blindada de Combate de Infantaria (VBCI) Francesa;
– Regimento de Infantaria Naval dotado da Vtr VAB;
– Regimento Artilharia Naval dotado de canhões TRF1, obuseiro autopropulsado Caesar; e
– Regimento de Engenharia Estrangeiro.
O caderno de instrução do Exército Francês – Le cahier de la cavalerie blindée (O caderno da cavalaria blindada) – apresenta as seguintes possibilidades específicas da Brigada Blindada:
– adquirir, através de diversas fontes, informações sobre as intenções do inimigo, informando-as com oportunidade;
– criar a surpresa ou retomar a iniciativa, com uma certa ação de choque, possivelmente após um movimento de grande amplitude, proporcionando um elevado poder de fogo, variado e preciso, isolado ou acompanhado;
– lidar com uma ameaça imprevista, explorar uma situação favorável, mudar de uma área de operações para outra ou intervir a favor de uma Unidade em dificuldade através da sua ação de choque e capacidade única de desdobrar- se dentro de prazos muito curtos;
– apoiar a ação da infantaria, incluindo a ação em zonas urbanas e conturbadas;
– controlar o ambiente, incluindo áreas mais extensas ou quando o terreno está mais amplo, graças a sua mobilidade e autonomia; e
– influenciar nas percepções do inimigo pela sua visibilidade, capacidade dissuasória e a capacidade de reversibilidade fornecida pela diversidade de seus materiais.
O Manual de emprego do Grupamento Tático Operativo Interarmas Blindado (2012b) caracteriza a tropa blindada sempre atuando em um contexto de armas combinadas, a fim de obter complementaridade dos efeitos produzidos, em particular com os da infantaria e das unidades de cavalaria, a partir das suas próprias capacidades, formação específica e características de interação.
O espírito de iniciativa conferido aos escalões mais baixos, a velocidade e o rigor da execução na manobra, permitem explorar e melhorar as qualidades de mobilidade, proteção e poder de fogo que caracterizam a cavalaria blindada francesa.
O caderno de instrução do Cours de Tactique Theorique (Curso Tático Teórico) considera o dispositivo comumente adotado por uma força em movimento sendo de forma articulada. Em razão disso, as operações de segurança classificam-se em:
– escalonamento “na direção de avanço”, em uma vanguarda, um corpo principal e uma retaguarda;
– dimensionamento “nos flancos”, ampliando o corredor de progressão da rota principal, realizando uma flancoguarda com apoio de unidades de inteligência; e
– flancoguarda caracterizada por ser uma operação em que a força é capaz de combater proporcionando o tempo necessário para dissipar o efeito da surpresa tática, além de permitir, quando apropriado, o compromisso de reorientar o grosso.
A flancoguarda opera em duas linhas paralelas: primeiro, a linha de parada, próxima do eixo de progressão do grosso, onde ele vai protegê-lo do combate.
Essa linha de parada (na prática, uma sucessão de posições de bloqueio) deve, portanto, favorecer o combate defensivo. Sendo assim, entre a linha de parada e o eixo de progressão do grosso, a unidade de flancoguarda deve proporcionar um itinerário de progressão, através do qual pode progredir em paralelo ao grosso sem dificultar ou atrapalhar seu movimento.
O manual de emprego do Grupamento Tático Interarmas Blindado (GTIA Bld) define que a flancoguarda tem como missões: informar e cobrir, numa base fixa ou móvel, a formação em questão e, possivelmente realizar a ligação com as Unidades vizinhas.
A finalidade é garantir a segurança lateral da força protegida na melhor das situações parar ou desviar qualquer ação ofensiva inimiga, pelo menos atrasando-o para que a brigada obtenha tempo de reação.
Portanto, caracteriza- se em preservar a liberdade de ação do escalão superior permitindo que cumpra sua missão. A flancoguarda é um caso específico de cobertura e por isso é uma missão de segurança.
PROPOSTA DE ESTRUTURA ORGANIZACIONAL PARA A BRIGADA DE CAVALARIA MECANIZADA
“O verdadeiro desafio não é inserir uma ideia nova na mente militar, mas sim expelir a ideia antiga.” (Lidell Hart)
Considerando o desdobramento estratégico proveniente do Objetivo Estratégico do Exército (OEE)
1 – Contribuir com a dissuasão extrarregional – da PMT, tendo a estratégia
1.1 – Ampliação da Capacidade Operacional – e a Ação Estratégica
1.2.4 – Mecanizar a Força Terrestre, como marcos que balizaram o estudo em pauta, pode-se depreender algumas observações:
a. a articulação no território nacional e as características intrínsecas das Bda C Mec, dificultam a execução plena das principais Estratégias de Emprego utilizadas pelas Forças Armadas na sua Doutrina Militar de Defesa: dissuasão e presença. Fato que justifica esta assertiva repousa na sua limitada mobilidade tática e estratégica, reduzida capacidade de identificação, reconhecimento, vigilância e aquisição de alvos, proveniente da defasagem tecnológica de suas Vtr Bld orgânicas para os dias atuais.
b. dentro da Concepção Estratégica de Emprego do Exército (SiPlex 4), nas situações de crise/guerra, em especial os princípios da resposta imediata e da atuação ampliada, há o atendimento parcial pela atual Bda C Mec, em especial pelo considerável hiato tecnológico nos seus materiais Bld existentes, impactando diretamente na sua capacidade operacional e poder de combate.
c. a 4ª Bda C Mec constitui uma Força de Emprego Estratégico, enquanto a 1ª, 2ª e 3ª Bda C Mec constituem-se Forças de Emprego Geral. Neste interim, as características das tropas no combate moderno tendem a ser afloradas, com realce à modularidade, elasticidade e sustentabilidade, destacando-se a 4ª Bda C Mec por sua importância no contexto de emprego.
d. as Bda C Mec possuem como vocações prioritárias para o emprego a defesa da pátria e a realização de Operação de Faixa de Fronteira, especialmente as operações convencionais. Neste caso, insere-se a importância da Operação de Segurança como a Força de Cobertura.
e. a Bda C Mec atinge parcialmente as características da F Ter da Era do Conhecimento a partir da geração de capacidades em seus elementos de emprego considerando as características da Flexibilidade, Adaptabilidade, Modularidade, Elasticidade e Sustentabilidade (FAMES).
f. a prioridade ressaltada pelo Planejamento Estratégico do Exército referente às capacidades operativas da ação terrestre (modernizar a capacidade mecanizada das brigadas de cavalaria mecanizada) e apoio de fogo (implantar meios mecanizados para o apoio de fogo para as forças mecanizadas).
g. a comparação realizada a partir dos Quadros de Cargo das Unidades constituintes da Bda com o previsto na base doutrinária depreende que a criação de frações como o Grupo de Aeronaves Remotamente Pilotadas e Turma de Caçadores nos RC Mec e RCB necessitam de um arcabouço teórico não existente em manuais para seu emprego.
Como consequência, a proposta a ser apresentada visa o preenchimento de lacunas existentes que impossibilitam a Bda C Mec atual atingir com efetividade as expectativas e prescrições da Concepção Estratégica do Exército.
Considerações Preliminares
A formulação da presente proposta está baseada nos seguintes aspectos, todos já apresentados anteriormente neste artigo:
1) A Brigada é a Grande Unidade básica de combinação de armas, com unidades de combate, de apoio ao combate e apoio logístico, capaz de atuar independentemente e de durar na ação.
2) A situação atual das Bda C Mec.
3) A Concepção Estratégica do Exército (CEEx – SIPLEx 4).
4) O Plano de Estruturação do Exército (PEEx – SIPLEx 6).
5) As doutrinas básicas do EB, em particular a inovação do planejamento baseado em capacidades, com os reflexos sobre a organização, materiais e a concepção de emprego das Bda C Mec.
6) As propostas existentes, no BRASIL e nos Exércitos dos EUA e França, de interesse para os escalões dos elementos de combate, apoio ao combate e logística orgânicos da Bda C Mec.
7) A bibliografia existente referente às operações de Força de Cobertura.
O estado final desejado para os objetivos da proposta são os seguintes:
1) capacitar as Bda C Mec para cumprir missão de operação de Força de Cobertura sob a ótica da capacidade militar terrestre da superioridade no enfrentamento.
2) capacitar as Bda C Mec para serem instrumentos eficazes da F Ter para o cumprimento de suas missões constitucionais, enfatizando as capacidades operativas da ação terrestre e apoio de fogo, contribuindo para o aprimoramento de seus meios blindados, organização e doutrina.
APRESENTAÇÃO DA PROPOSTA DA BRIGADA DE CAVALARIA MECANIZADA
Com a finalidade de facilitar a organização e apresentação da presente proposta, objetivando a geração da capacidade de superioridade no enfrentamento, com ênfase nas capacidades operativas da ação terrestre e apoio de fogo, serão seguidos os fatores determinantes do DOAMEPI. Considerando a delimitação proposta neste estudo, serão abordados apenas os fatores Doutrina e Organização.
A doutrina de Operação de Força de Cobertura
Da análise das doutrinas vigentes nos EUA e França, foram elencadas algumas observações que privilegiam a capacidade de superioridade no enfrentamento. Dessa forma, serão descritos alguns fundamentos que servirão de subsídios para que haja o aperfeiçoamento no emprego da Bda C Mec para a execução deste tipo de missão:
a. Há um consenso na composição da força de cobertura enfatizando que esta é taticamente auto- -suficiente e capaz de operar independentemente do corpo principal.
b. Reafirmação de que a missão da F Cob é capaz de prover sua segurança, impedindo a observação do inimigo e protegendo o corpo principal de fogos diretos e indiretos efetivos.
c. O emprego de elementos de aviação progredindo em coordenação com a F Cob face a um Flanco exposto da mesma. No contato com o inimigo, estes recursos aéreos envolvem e destroem as forças inimigas de acordo com a intenção do comandante, informando a localização, composição e disposição do inimigo às forças terrestres.
d. A sugestão por parte do Exército Francês para adotar um escalonamento caracterizado por um dispositivo composto de duas Unidades elementares na primeira etapa na linha de Vigilância, instruídas a informar e barrar qualquer inimigo, além de 2 Unidades em uma linha de parada em segundo nível, além da reserva.
e. O emprego de elementos de Guerra Eletrônica recebidos em reforço ou apoio direto para realização de Medidas de Apoio de Guerra Eletrônica (MAGE) e Medidas de Ataque Eletrônico (MAE) provenientes do escalão superior.
f. O emprego de um Pelotão de Inteligência nos moldes da Brigada Stryker com a missão de prover a análise de inteligência, vigilância, reconhecimento e providenciar o suporte para a integração com a 2ª Seção do Estado-Maior da Brigada.
g. O emprego de uma Companhia Anticarro com capacidade de prover o apoio de fogo contra blindados inimigos no intuito de aumentar a letalidade, sobrevivência e capacidade de manobra e defesa anticarro da brigada em operações de F Cob.
Essa SU possui missões específicas descritas no manual da ECEME de Organização das Forças Militares no Teatro de Operações, como: – destruir blindados inimigos situados fora do alcance das armas anticarro das unidades;
– eventualmente, prestar o apoio de fogo contra outros tipos de alvos; – reforçar unidades de primeiro escalão com seção ou pelotão de mísseis anticarro; e – reforçar unidades em missão de contra-ataques.
Organização da Brigada de Cavalaria Mecanizada
A Brigada por definição é a grande unidade de combinação de armas, integrada por elementos de combate, apoio ao combate e apoio logístico, capaz de atuar independentemente e durar na ação.
Diante disso, pode-se depreender que esse escalão de combate deve dispor de elementos altamente especializados que empreguem as funções de combate atualmente disponíveis.
No entanto, a doutrina particular de emprego de alguns desses elementos (Aviação do Exército, Artilharia de Campanha e antiaérea, Inteligência, Guerra Eletrônica, Defesa QBRN e Operações Psicológicas, entre outros) estabelece que, para alguns, a DE é o menor escalão para enquadrá-los de forma orgânica, para outros, esse escalão seria a Força Terrestre Componente.
Entretanto, é desejável que a GU possa dispor desses elementos para cumprir a missão nas condições exigidas pelo combate da Era do Conhecimento.
Com isso, há a necessidade de existência de tropas especializadas em função das peculiaridades da Bda C Mec, em especial durante uma operação de Força de Cobertura, com características de elevada mobilidade, grandes distâncias e a falta de apoio cerrado e contínuo de seu Grande Comando.
A situação atual das quatro Bda C Mec tendo como ponto de partida a Concepção Estratégica do Exército (CEEx – SIPLEx 4) e o Plano de Estruturação do Exército (PEEx – SIPLEx 6), além do planejamento baseado em capacidades, direcionam os destinos a serem tomados para a sua evolução.
Nesse sentido, é imperativo considerar as dificuldades estruturais atualmente existentes, desenvolvendo e agregando capacidades operativas à Bda C Mec que possibilitem a obtenção da superioridade no enfrentamento em Op F Cob.
Mercê do confronto entre o acrônimo DOAMEPI existente e a proposta atual, a Bda C Mec deverá estar constituída por unidades e subunidades, orgânicas ou sob comando/controle (Cmdo/Ct) temporário, que caracterizem a combinação adequada de suas funções de combate, potencializando seu poder relativo de combate.
Em decorrência disso, segue a proposta de nova organização da Bda C Mec:
a. Elementos orgânicos da Brigada:
1) Comando e Estado-Maior (Cmdo e EM).
2) 01 Esquadrão de Comando (Esqd C).
3) 03 Regimentos de Cavalaria Mecanizados (RC Mec).
4) 01 Regimento de Cavalaria Blindado (RCB).
5) 01 Grupo de Artilharia de Campanha 155 mm Auto- Propulsado (GAC 155 AP).
6) 01 Bateria de Artilharia Antiaérea (Bia AAAe).
7) 01 Companhia Anticarro.
8) 01 Companhia de Engenharia de Combate Mecanizada (Cia E Cmb Mec).
9) 01 Companhia de Comunicações Mecanizada (Cia Com Mec).
10) 01 Pelotão de Inteligência.
11) 01 Pelotão de Polícia do Exército (Pel PE);
12) 01 Batalhão Logístico (B Log).
b. Elementos orgânicos do Grande Comando enquadrante, passados à Bda C Mec sob Cmdo/Ct temporário, em função dos fatores da decisão:
1) 01 Esquadrão de Aviação do Exército (Esqd Av Ex);
2) 01 Pelotão de Guerra Eletrônica Mecanizado (Pel GE Mec).
3) Outras unidades/subunidades/frações de combate, de apoio ao combate ou de apoio logístico necessárias ao cumprimento da missão (por exemplo: 01 Bateria de Lançadores Múltiplos de Foguetes – Bia LMF, 01 Destacamento Operações Psicológicas ou 01 Destacamento Op DQBRN).
A figura 4 apresenta a proposta de organograma da Bda C Mec. A existência atual de 03 Regimentos de Cavalaria Mecanizado nas 3ª e 4ª Bda C Mec, além de seus RCB orgânicos, direcionam ao emprego da Bda de forma quaternária.
Ao passo que a Bda Stryker e a Bda Blindada Ligeira Francesa também possuem sua conformação quaternária de emprego. Fato que merece destaque é o consequente aumento da frente de reconhecimento, vigilância, proteção ou cobertura, capacidade de operações continuadas estendida no âmbito Bda, fomentando o seu poder de combate.
O Grupo de Artilharia 155mm sobre rodas autopropulsado permite uma grande mobilidade resultante de sua plataforma de apoio de fogo e compatíveis com a natureza da Brigada (sobre rodas).
Além desses aspectos, há necessidade de incorporar um calibre maior (155mm), a fim de cumprir a tarefa de atingir o inimigo o mais longe possível com um maior alcance e precisão dos fogos.
A incorporação de uma Companhia Anticarro com a tarefa específica de aprimorar a defesa contra carros de combate, blindados sobre lagartas e sobre rodas. Para isso, sugere-se o seguinte organograma:
O Pelotão de Guerra Eletrônica Mecanizado surge como um elemento especializado sob controle ou comando operacional com as seguintes missões durante uma força de cobertura: – instalar e operar os postos de MAGE a fim possibilitar desvendar informações sobre o inimigo;
– instalar e operar os postos de MAE visando dificultar o comando e controle e aquisição de alvos; e
– realizar a análise de guerra eletrônica dos sinais interceptados.
CONCLUSÃO
É inegável que a Cavalaria Mecanizada (C Mec) sempre foi o melhor exemplo da flexibilidade, adaptabilidade e modularidade agora preconizadas pelo documento Bases para a Transformação da Doutrina Militar Terrestre, com vistas à preparação do Exército para a Era do Conhecimento.
Na conjuntura em que foi criada, na década de 1970, a tropa de natureza C Mec representou uma solução inovadora para uma grande quantidade de desafios da Força Terrestre.
Entretanto, nos dias atuais, diversos aspectos que marcam o emprego desse tipo de tropa apresentam condicionantes bastante distintas. As transformações decorrentes da atualidade resultantes dos avanços tecnológicos, do direcionamento da estratégia geral de emprego e da evolução da doutrina profissional.
Elas direcionam o Exército Brasileiro a adotar uma postura que o situe o mais rápido possível na Era do Conhecimento. A criação de competências e geração de capacidades para atendimento a um novo espectro de atividades, com um novo conceito de efetividade para fazer frente às novas ameaças, tornou-se via necessária para o Exército Brasileiro nortear seu emprego.
Alinhado com a Estratégia Nacional de Defesa e com a Doutrina das Forças Armadas da maioria dos países ocidentais, o EB passa a adotar a geração de forças por meio do Planejamento Baseado em Capacidades. Nesse desígnio, insere-se a importância da Brigada de Cavalaria Mecanizada na aquisição da capacidade de superioridade no enfrentamento em operações de Força de Cobertura.
Com isso, o aperfeiçoamento de seus elementos mecanizados e a inserção da mecanização de seus elementos de apoio ao combate tornam-se imperativos para que esta GU possa cumprir suas principais missões relativas à defesa externa e operações de faixa de fronteira.
A Bda C Mec, por sua atual organização e estrutura — moderna e flexível —, recebendo materiais modernos, é apta a cumprir com efetividade suas missões de combate em um cenário revestido das características dos conflitos modernos, em um ambiente de amplo espectro, sendo capaz de combinar diferentes atitudes, recebendo ou não meios adicionais.
O ponto de partida para a proposição em pauta foi a apresentação da situação atual da organização, possibilidades, limitações, além da concepção de emprego da Brigada de Cavalaria Mecanizada. As capacidades militares e operativas foram abordadas com ênfase na superioridade no enfrentamento, obtidas a partir de um conjunto de sete fatores determinantes, inter-relacionados e indissociáveis que formam o acrônimo DOAMEPI: doutrina, organização, adestramento, material, educação, pessoal e infraestrutura.
Desse modo, o desenvolvimento de capacidades será calcado na análise da conjuntura e em cenários prospectivos com o objetivo de identificar as ameaças concretas e potenciais ao Estado. Nessa oportunidade, foram observados os reflexos da geração de capacidades,com ênfase na doutrina e organização da Brigada.
A partir desta análise, depreende-se que: – a necessidade de emprego modular de elementos de aviação e guerra eletrônica sob seu controle operacional, sendo essenciais ao cumprimento efetivo da missão de força de cobertura;
– a necessidade de criação de uma Companhia Anticarro potencializando este tipo de defesa para operações em largas frentes e isoladamente, escalonando-a com a de seus elementos subordinados.
– é essencial a criação de um Pelotão de Inteligência maximizando a capacidade de análise, reconhecimento e vigilância em coordenação com a 2ª Seção da Bda, uma vez que não existe em QC nenhuma estrutura de análise, busca, vigilância e aquisição de alvos prevista.
– a carência de um apoio de fogo que permita atuar isoladamente em algumas situações, tanto em calibre como em alcance.
– a transformação da organização ternária em quaternária já existente em duas das Bda C Mec, baseia-se no fato de permitir o combate continuado em consonância com a doutrina atual.
A finalidade da presente proposta foi oferecer condições necessárias à Bda C Mec de adentrar no conceito de planejamento baseado em capacidades. A geração de capacidades através da mecanização de seus elementos orgânicos, atinge com êxito conceitualmente a Brigada de Cavalaria Mecanizada no que tange à combinação de armas com interoperabilidade e sincronização das ações.
Consequentemente, proporcionar que esta GU atinja um patamar de eficiência, eficácia e efetividade no seu emprego para o cumprimento de sua missão clássica de Força de Cobertura Estratégica. Em síntese, a C Mec é obrigada a se modernizar para manter sua invulgar versatilidade, fator que a tornou imprescindível em todas as fases do combate e impôs sua articulação no território nacional em áreas consideradas estratégicas, dentro de concepções condicionadas por dinâmicas regional e internacional já transformadas.
Por fim, conclui-se que a Bda C Mec atinge parcialmente os fatores determinantes das capacidades operacionais que permitem a consecução plena da capacidade de superioridade no enfrentamento em operações de Força de Cobertura. Cabe aos órgãos de Direção Geral e Setorial do Exército buscarem soluções que permitam a execução na sua plenitude do Planejamento de Estruturação do Exército. I
ndubitavelmente, a Bda C Mec modernizada será fundamental para que o Exército seja conduzido ao patamar de Força Armada de país desenvolvido e ator global, capaz de se fazer presente, com a prontidão necessária, em qualquer área de interesse estratégico. Desta forma, as fronteiras terrestres brasileiras contarão com uma força capaz de proporcionar a segurança e a garantia da soberania nacional através da presença e dissuasão de maneira inconteste.
Parte I |
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A Brigada de Cavalaria Mecanizada: Proposta de Estrutura Organizacional (parte I) [Link] |
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O autor: Maj LUCIANO: Major de cavalaria da turma de 2002 da AMAN. Ex-instrutor da AMAN e do CIBld. Comandou o 6º Esqd C Mec. Atualmente é aluno do Curso de Comando e Estado-Maior do Exército.
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