Prof Ermelindo Lopes, Tenente Fraga E Major Monteiro
A primeira década da história do Instituto Tecnológico de Aeronáutica
“Antes de produzirmos aeronaves, precisamos produzir engenheiros”. Foi sob este ideal que, o então, Coronel Casimiro Montenegro Filho assumiu a missão de fundar as bases de uma indústria de aviação nacional. Nascia, assim, o Centro Técnico de Aeronáutica (CTA) e o Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), a primeira escola de formação de engenheiros aeronáuticos do Brasil, no ano de 1950, na cidade de São José dos Campos – SP.
O ITA, no alvorecer dos anos 1950, era uma escola distinta, pioneira e inovadora em educação superior no cenário acadêmico brasileiro, com a missão de preparar engenheiros militares e civis para o desenvolvimento tecnológico do país.
Tendo como base o modelo do Massachussets Institute of Technology (MIT), nos Estados Unidos, a ideia era criar uma escola de engenharia aeronáutica e um centro de pesquisas e desenvolvimento que levaria a ciência e tecnologia aeronáutica ao mais alto nível.
ITA e CTA: a construção de um sonho
A concepção do CTA surgiu em meados da década de 40, por meio da visão de Casimiro Montenegro Filho, que buscava viabilizar a ideia de uma escola e um centro de aeronáutica no Brasil. Em uma viagem que fez para conhecer o MIT, pressentiu que seu plano se demonstrava cada vez mais viável, e quando retornou ao país, começou a escrevê-lo, iniciando pela tão sonhada escola.
Para isso, foi necessária a ajuda do professor Richard Harbert Smith, chefe do Departamento de Engenharia Aeronáutica do MIT e consultor do governo norte americano, que veio ao país em 1945 para verificar a viabilidade de implantação de uma organização técnica. Após diversas viagens, estudos, pesquisas, levantamentos do ensino superior e da indústria, conduzidos pelo Professor e também por Montenegro, criou-se o “Plano Smith”, que apresentava uma série de propostas e orientava todo o caminho para a concretização de uma escola de engenheiros de alta qualidade, além de uma indústria aeronáutica de alto nível.
Em 26 de janeiro de 1946, foi criada a Comissão de Organização do Centro Técnico de Aeronáutica – COCTA, incumbida de efetivar todo o projeto. A localidade escolhida para implantar o centro foi o município de São José dos Campos – SP. A escolha da cidade se deu por alguns fatores indispensáveis à época: sua localização privilegiada, que ligaria à rodovia Rio-São Paulo, as condições climáticas favoráveis, a topografia plana e a facilidade de comunicações.
Ao longo de sua 1ª década de existência, o ITA firmou-se como uma escola de engenharia diferenciada, com um sistema educacional que proporcionava autonomia e liberdade acadêmica, baseado em períodos letivos semestrais e estrutura dividida em departamentos. O ITA dispunha, ainda, de diferencial em relação a outras escolas de engenharia do país devido à dinamicidade do currículo, que se renovava anualmente. Os alunos possuíam bolsas de estudos completas, que incluíam alimentação, serviços médicos, residência no campus, o que facilitava a dedicação exclusiva ao curso e a interação aluno-professor.
A evolução
Atualmente, o ITA oferece seis cursos de engenharia: Aeroespacial, Aeronáutica, Civil-Aeronáutica, Computação, Eletrônica e Mecânica-Aeronáutica. A duração de cada curso é de cinco anos, sendo o conteúdo dos dois primeiros anos comum a todas as especialidades.
Ao longo de seus 70 anos, o ITA deixou muitas marcas de seu legado, provando que a visão de Casimiro Montenegro estava certa e o sonho foi concretizado. Atualmente, o Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial (DCTA) – antigo CTA – e suas organizações subordinadas formam um complexo de pesquisa e desenvolvimento voltado a planejar, gerenciar e executar atividades relacionadas à ciência, tecnologia e inovação no âmbito do Comando da Aeronáutica.
Um marco da aviação brasileira – Segunda década (1960 – 1970)¹
Nesta década, a excelência do ensino adotada pelo ITA já influenciava outras universidades do país e o Instituto expandia suas atividades com o início, em 1961, do curso de Pós-Graduação em Engenharia. Com a tecnologia crescendo foi criado, em 1963, novos Laboratórios como o de Processamentos de Dados (LPD) e, com isso, a contratação de professores estrangeiros e o ingresso de alunos antigos, agora como docentes.
Entretanto, o grande marco da época foi o desenvolvimento, pelo então Instituto de Pesquisas e Desenvolvimento (IPD) do CTA, do projeto liderado pelo Major-Aviador da Força Aérea Brasileira (FAB), formado no ITA (turma 1962), Ozires Silva: a construção da Aeronave Bandeirante. A ideia era criar um avião bimotor turbohélice, com capacidade para 20 passageiros. Este se tornaria o primeiro avião comercial desenvolvido no Brasil.
A aeronave inaugurou a aviação regional no país e deu origem à Empresa Brasileira de Aeronáutica (Embraer). “O Bandeirante foi uma resposta às nossas dúvidas, entre muitas, sobre qual tipo ou modelo de avião que poderíamos tentar fabricar no Brasil e que pudesse ser razoavelmente diferente daqueles que eram normalmente produzidos nos países mais desenvolvidos. Ele surgiu da ideia de que as pequenas cidades do futuro deveriam ter à disposição o transporte aéreo”, declarou Ozires Silva, criador e fundador da Embraer.
Com a criação da Embraer, em 1969, abriram-se novos caminhos e ideais para os Engenheiros do ITA. Os sonhos do Marechal Montenegro se concretizavam com a implantação de uma indústria aeronáutica brasileira, que tornava possível colocar em prática toda pesquisa, ensino, desenvolvimento aeronáutico em sistemas e alavancar o país no campo aeroespacial.
O primeiro voo do C-95 Bandeirante ocorreu dia 22 de outubro de 1968, e o nome dado à aeronave foi por um ex-iteano e Diretor, do então CTA, Brigadeiro Engenheiro Paulo Victor da Silva.
Com o marco do Bandeirante e a criação da Embraer, o ITA tornava-se conhecido internacionalmente e, por sua vez, como um dos maiores centros de pesquisa e ensino no mundo.
¹Prof. Ermelindo Lopes, Tenente Fraga E Tenente Coronel Denys