Fonte: Embraer SA.
O Nascimento do Bandeirante
Em 1965 o Instituto de Pesquisas e Desenvolvimento (IPD), órgão do Centro Técnico Aeroespacial (CTA), iniciou o desenvolvimento de um projeto de aeronave, chamada então de IPD-6504 (por ser o quarto modelo projetado no ano de 1965), atendendo às especificações do Ministério da Aeronáutica. O projeto, liderado pelo então chefe do Departamento de Aeronaves (PAR), Ozires Silva, baseava-se em um estudo sobre a densidade do tráfego aéreo comercial brasileiro, principalmente em cidades pequenas, e ao comprimento e tipo de piso das pistas dos aeródromos nacionais. Visava, assim, obter um avião moderno e adaptado às condições, necessidades e possibilidades brasileiras, numa época em que a infraestrutura aeroportuária do país era pequena.
O desenvolvimento do IPD-6504 foi iniciado no hangar X-10 do Departamento de Aeronaves (PAR), órgão do IPD, sob o comando do projetista e engenheiro francês Max Holstee participação do também projetista e engenheiro brasileiro Guido Pessotti. Grande parte da equipe era composta por técnicos e especialistas que haviam atuado nos projetos do “Convertiplano” e do “Beija-Flor”, provenientes do CTAe de outros departamentos do IPD.
No período inicial de criação foram definidas as especificações básicas do avião. Um ponto chave para a definição de todo o projeto foi o número de passageiros, fixado em oito, que determinou o peso máximo de decolagem, a potência requerida pelo avião, entre outras especificações técnicas. O resultado foi um turbo-hélicemetálico, de asa baixa, equipado com duas turbinas Pratt& Whitney PT6-020, cada uma de 580 HP na decolagem e com capacidade para oito pessoas. Em 1969, depois de diversas sugestões e até um concurso para definir o nome comercial da aeronave, o Brigadeiro Paulo Victor da Silva batizou-a com o nome “Bandeirante”, em referência aos desbravadores pioneiros da integração nacional.
O Primeiro Voo
O protótipo do Bandeirante foi construído em três anos e quatro meses após a aprovação do projeto – um recorde, considerando-se que, até então, eram necessários cinco anos para desenvolver um protótipo de avião no Brasil. A prova de fogo, porém, deveria ser o primeiro voo, previsto para acontecer em 1968. Para tanto, uma das mais importantes providências era definir o piloto e o engenheiro de voo que tripulariam o voo inaugural, que deveriam ser treinados por uma instituição de reputação consagrada. O Major-aviador José MariottoFerreira e o Engenheiro Michel Cury foram selecionados para a missão e enviados para o Centro de Ensaios em Voo em Istres, na França.
No dia 17 de outubro de 1968 os motores do Bandeirante giraram pela primeira vez, fazendo vibrar toda a equipe do hangar X-10. Percebia-se que seria possível voar antes da data prevista, dia 26 daquele mês, quando aconteceria uma cerimônia oficial já programada. A equipe passou então a dedicar-se a um voo não oficial.
Apesar de problemas que envolveram um dano acidental na estrutura do trem de pouso – rapidamente reparado – e uma forte chuva no dia anterior, o Bandeirante enfim realizaria seu voo inaugural no dia 22.
Mariotto e Cury, vestidos com seus uniformes de voo e paraquedas, fizeram a inspeção externa e embarcaram. Tomaram seus lugares, iniciaram os testes de todos os equipamentos e, a um sinal de que tudo estava bem, o característico ruído de motor de arranque foi ouvido e a hélice começou a girar. Mariotto pediu que as amarras de segurança do avião fossem soltas e o protótipo começou a se mover. Por rádio, o piloto se dizia satisfeito com as respostas do avião.
Embora o voo oficial só fosse ocorrer quatro dias depois, o dia 22 de outubro consagrou-se como aquele em que o Bandeirante foi ao ar pela primeira vez, tornando real o sonho dos pioneiros da indústria aeronáutica brasileira.
O Voo Oficial e o Destino do Bandeirante
No dia 26 de outubro de 1968, no aeroporto de São José dos Campos, o primeiro protótipo do Bandeirante realizou o primeiro voo oficial de demonstração. A cerimônia contou com a presença de cerca de 15 mil pessoas, entre elas o Ministro da Aeronáutica Márcio de Souza Mello, vários Ministros de Estado e autoridades civis e militares.
Após a construção de outros protótipos e ajustes no projeto inicial, que deram origem ao EMB110 Bandeirante, com 12 lugares na versão militar e alguns avanços técnicos em relação aos primeiros protótipos, a Embraer fechou com a Força Aérea Brasileira (FAB) um de seus primeiros contratos, para fabricação de 80 Bandeirantes.
Em 1973 os primeiros aparelhos foram entregues à FAB. A partir daí, o Bandeirante permaneceria em produção por cerca de dezoito anos, sendo construído em mais de 20 versões. A Embraer produziu ao todo 496 Bandeirantes, destinados a clientes civis e militares de 36 países.
Em junho de 1975 o primeiro protótipo do EMB100 fez seu último voo, no percurso entre o Aeroporto Santos Dumont à Base Aérea dos Afonsos e permanece exposto no Museu de Aeronáutica.