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200 anos de Independência e os desafios para o Brasil de 2022

Maj Cezar Augusto Rodrigues Lima Junior

200 anos, José Bonifácio orquestrava o movimento que emanciparia o Brasil da metrópole portuguesa. Sabia o nosso patriarca que a maneira mais fácil de atingir esse intento seria por meio de uma transição suave. Continuaríamos uma monarquia, mas com dimensões colossais – um império. Romper com o antigo regime de maneira republicana, como advogavam alguns, poderia gerar uma resistência maior por parte dos lusos. Apesar disso, houve resistência, que o digam os baianos.

Fomos Império e foi bom. Devemos à Monarquia, aos dois imperadores e às ilustres figuras do Marquês de Olinda, do Paraná e do Rio Branco, entre outros, a consolidação desse país continental como nação, seja nas guerras internas e externas, seja no campo diplomático. Ressalta-se a figura de Caxias, único Duque de sangue não real, que com sua espada foi o verdadeiro campeão da integridade nacional.

Com o advento da República, o amadurecimento político do país alcançou novo patamar. Foram sendo conquistadas liberdades, e a classe política, paulatinamente, foi se reconstituindo após a mudança da forma de governo. É verdade que foram tempos difíceis, com revoltas e lutas internas, mas aos poucos o Brasil foi vencendo os desafios que lhe eram apresentados, deixando de ser um país agrário e começando a sua industrialização.

Papel relevante também deve ser dado ao catolicismo e à miscigenação na construção sui generis do éthos brasileiro. A primeira atividade em solo brasileiro, na presença dos povos tupis litorâneos, foi uma missa. Sob os sermões dos jesuítas e o signo da Cruz, foram amalgamados, no sangue brasileiro, os valores da nossa tradição ocidental. Quanto à miscigenação, Gilberto Freyre, em sua obra magna, nos brindou com uma notável descrição da fusão de raças que forjou o povo brasileiro até o final do século XVIII. Posteriormente, nos séculos XIX e XX, os imigrantes provenientes de todo mundo constituiu a gênese cultural que tanto nos orgulha. Se existe um país onde diferenças raciais são irrelevantes, esse país é o Brasil.

Voltando ao século passado, fomos à Europa e lutamos contra o totalitarismo. Regressamos e seguimos na construção política da Nação, não mais com oligarquias, mas com o foco nos problemas nacionais. Petróleo; siderurgia; automóveis; estradas; colonização do interior, com o deslocamento da capital para o Planalto Central; mecanização; e modernização da agropecuária: desafios que foram sendo vencidos gradativamente e que nos trouxeram aos últimos anos do século XX, quando conhecemos a estabilidade cambial e a baixa inflação.

Nesses 200 anos, a expectativa de vida do brasileiro mais que dobrou. O número de alfabetizados superou os 90%. Estamos entre as maiores economias do mundo e alimentamos, com nossa agropecuária, milhões de pessoas. Mantivemos o território íntegro e o povo unido. Grande parte desse esforço tem as mãos do Exército Brasileiro, Instituição sempre presente na História do Brasil.

Podemos dizer que, apesar dos problemas, para um país tão jovem, trilhamos um caminho de sucesso. Mas e o futuro? Quais são os desafios que enfrentamos e enfrentaremos para promover o “bem de todos e a felicidade geral da Nação”? Somos realmente independentes? Abordaremos as expressões econômica, científico-tecnológica e militar para responder a esse problema.

No campo econômico, o Brasil tem assegurada a sua função de fornecedor global de alimentos. No entanto, não podemos prescindir de uma indústria de base e tecnológica que nos garanta a produção desde chips de computador até trilhos de trem. Por falar em ferrovias, o desenvolvimento do setor de transportes apresenta-se como um gargalo para o crescimento econômico. De nada adianta sermos uma potência agrícola que não escoa seus alimentos, os quais carecem de implementos agrícolas e fertilizantes. Somos ricos em potássio, mas importamos. Voltando à indústria, temos minério de ferro, no entanto exportamos para a China e a Europa, assim como importamos bobinas de aço que poderiam perfeitamente ser produzidas aqui. Quanto à energia, somos campeões da produção limpa, mas podemos muito mais. Nosso potencial eólico e solar é muito grande, para não ficarmos apenas no hidráulico.
 

A expressão científico-tecnológica, por sua vez, carece de maior preocupação. Nossos irmãos argentinos já tiveram ganhadores do Prêmio Nobel, e nós ainda nenhum, mesmo tendo cinco vezes a população daquele país. Nossas universidades produzem conhecimento aquém do ideal, e nossa educação básica ainda carece de melhoria. Temos ilhas de excelência, como alguns institutos e universidades federais e particulares, colégios particulares de renome, colégios militares etc., mas a grande massa da população ainda não tem acesso ao mínimo. A pesquisa e o fomento à pesquisa ainda engatinham, muitas vezes dependentes apenas do Estado, com pequeno papel desempenhado pela indústria. Vê-se uma incipiente reviravolta no que tange à indústria de defesa em sua associação com a academia, mas essa ainda é dependente de recursos públicos.

Por fim, a expressão militar também demanda ações que permitam colocar o país nos rumos do progresso. Defesa é um assunto que ainda necessita de discussão no âmbito nacional. Existem iniciativas provenientes, principalmente, das Forças Armadas, mas discutir o assunto deveria ser obrigação de todos os brasileiros. As Forças Armadas existem para a Nação, são instituições nacionais e permanentes com missão clara prevista na Constituição Federal. Não bastasse a Defesa Nacional, ainda devem garantir a lei e a ordem, executar atribuições subsidiárias e cooperar com o desenvolvimento nacional, tudo previsto em lei. O parco orçamento a elas destinado lhes permite cumprir essas missões, mas não é digno da importância de ator geopolítico regional e global que o Brasil ocupa. Nossas Forças possuem um dos menores orçamentos/PIB da América do Sul. Urge que a Nação discuta sua importância e suas tarefas e se preocupe com a dissuasão de ameaças externas. Se estamos em paz é porque os militares cumprem seu papel, mas não podemos olvidar que a história castiga os despreparados.

Assim, tendo recordado os grandes desafios que vencemos nesses 200 anos para erguer o nosso querido país, não podemos deixar de trabalhar o presente para que não permaneçamos sempre com o epíteto de “país do futuro”. Somos verdadeiramente independentes, mas urge unificar um discurso nacional que nos permita desenvolver a economia, a ciência e tecnologia e o campo militar, conquistando, assim, a verdadeira independência externa. A vocação natural do Brasil é ser o “Colosso do Sul”. Não podemos nos dar ao luxo de ficarmos resistindo ao nosso destino. Nos 200 anos do grito de Dom Pedro, que sejamos astutos como José Bonifácio e continuemos traçando nossa história rumo à “Ordem e Progresso”.

 

Sobre o autor:

Maj Cezar Augusto Rodrigues Lima Junior – Mestre em Operações Militares pela ESAO. Foi instrutor do Curso de Artilharia da AMAN e da Escola de Capacitação e Aperfeiçoamento de Oficiais da República Oriental do Uruguai. Integrou a Equipe de Desenvolvimento do Simulador de Apoio de Fogo. Especialista em Artilharia de Mísseis e Foguetes, no Forte Santa Bárbara foi Comandante de Subunidade e Oficial de Doutrina do 6º GMF e Instrutor e Chefe da Divisão de Ensino do Centro de Instrução de Artilharia de Mísseis e Foguetes. Exerceu o Comando da Bateria de Comando do Comando de Artilharia do Exército naquele mesmo local. Atualmente é aluno do Curso de Comando e Estado-Maior da ECEME.  

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