Os óculos de realidade aumentada do Google foram um fracasso, mas pelo menos alguém encontrou uma boa utilidade para ele. Os funcionários da Boeing concluíram com sucesso um projeto piloto que consistia em instalar partes elétricas das aeronaves com a ajuda de informações mostradas por meio do Google Glass. Resultado: o tempo gasto na montagem diminuiu 25%, segundo a CIO¹.
A Boeing, maior companhia do setor aeroespacial, constrói muitos aviões, evidentemente. Para você ter uma dimensão de quão grande é sua produção, a Boeing fabrica aeronaves para outras linhas aéreas e governos em mais de 150 países.
Essas complexas redes de fios que equipam aviões não se tecem sozinhas, claro. E colocar todas essas partes juntas é uma tarefa absurda. A cada semana, milhares de trabalhadores da Boeing montam cablagens, conjuntos de sistemas elétricos, que são projetados para juntar-se aos vários formatos e tamanhos de fios, de acordo com Kyle Tsai, coordenador de pesquisa e desenvolvimento na Boeing Research and Technology (BRT).
"Cablagens são muito complexas e muito densas, e os técnicos têm de usar, essencialmente, mapas para encontrar os pontos de fixação e pinos do conector", diz Tsai. "Há tantos que pode ter sobrecarga de informações, às vezes".
Hoje, técnicos da companhia usam, principalmente, instruções de montagem salvas em PDF e lidas em uma tela de notebook. O processo manual os ajudá a encontrar os fios adequados, cortá-los no tamanho e, em seguida, conectar os componentes através de cablagens.
Técnicos devem constantemente mudar sua atenção entre os roteiros e arreios na tela. E eles usam um monte de comandos de teclado CTRL + F para encontrar números de fios específicos, o que significa que eles têm de frequentemente usar as mãos para manipular computadores e navegar documentação. Soa exaustivo, certo?
Por 20 anos, a Boeing tem procurado por um sistema livre de mãos, que use algum tipo de wearable para reduzir o tempo de produção e os erros relacionados. A empresa experimentou uma aplicação de realidade aumentada (AR) e um display transparente chamado Navigator 2 já em 1995, de acordo com o livro "Application Design for Wearable Computing", de 2008. Mas um hardware eficaz e acessível apenas não existia… até que o Google lançou o seu Google Glass.
No passado, "tudo era limitado quando se falava de hardware: a vida da bateria, a tela, peso," de acordo com Jason DeStories, outro engenheiro da BRT. "Agora estamos em uma era onde o hardware não é mais a restrição."
Smartglasses levantam voo
Segundo a Boeing, com o Glass para substituir o método tradicional, o tempo de redução da produção cai em 25%, além de cortar pela metade as taxas de erro. A parceria com o Google começou com um programa piloto.
A Boeing teve acesso a um protótipo desenhado para montagem de cabos usando as primeiras unidades do Glass. A equipe batizou-ou de Projeto Juggernaut, mas na ocasião ainda não conseguia obter informação dos bancos de dados da Boeing em tempo real.
O jeito foi recorrer a startup APX Labs, fabricante de uma plataforma de software para óculos inteligentes chamada Skylight. Juntas, as equipes produziram um sofisticado aplicativo para o Glass, que poderia ser entregue aos técnicos.
O aplicativo funciona ao permitir que um usuário do Glass digitalize um QR code, que puxa o software sem fio e, em seguida, digitaliza outro código para carregar as instruções de montagem. O aplicativo suporta comandos de voz do Glass e também permite usuários transmitir o que estão vendo a outro técnico sobre incidentes ou ações inesperadas.
Por enquanto, o software foi usado apenas com um pequeno número de técnicos da Boeing. Mas a Boeing tem interesse de fazer o Glass e óculos de realidade aumentada um acessório frequente para pisos de montagem, incluindo a Estação Espacial Internacional. No entanto, DeStories ressalta que a questão da segurança da informação é algo a ser reforçado, uma vez que tudo funcionaria em rede.
“Temos de ter certeza de que temos a segurança da informação controlada, nós temos de ter certeza sobre o tipo de TI que estamos suportando. Estas são perguntas que estamos respondendo agora e sentimos que estamos muito perto de ser uma solução verdadeiramente conectada”.
¹Chief Information Officer – Diretor de Tecnologia da Informação, fica responsável por toda a informática de uma empresa.