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Tempestade em Porto Alegre mostra que há uma guerra entre o clima e o homem

Júlio Ottoboni


Desde o final do ano passado e o começo de 2016 a região Sul do Brasil, principalmente o Rio Grande do  Sul convive num clima de guerra, algo que seria ficcional se o poder de destruição e o agente provocador não fosse a própria interferência humano no meio ambiente natural. No final de janeiro uma tempestade devastou Porto Alegre, uma semana mais tarde, novamente um novo ataque.

O Sistema Metroclima estimou velocidades superiores aos 150 km/h as rajadas na área mais atingida, embora a medição oficial tenha sido de 119,6 km/h. As microexplosões, quando a nuvem deslocasse para o solo com toda sua carga de energia, transformando-se numa verdadeira bomba de grande impacto, destruiu centenas de postes de energia, árvores, construções e telhados. Um cenário de guerra, que tem o pior dos inimigos, o próprio planeta.

Os órgãos climatológicos correm com as previsões de eventos extremos de tempo e clima no Brasil, como chuvas intensas, períodos de seca e fenômenos causados pelo El Ninõ . Até mesmo  o aquecimento anormal das águas oceânicas do Atlântico Sul passaram a ser computadas nos novos modelos. A intenção é tornar o sistema mais assertivo nos próximos meses, apesar desta batalha estar sendo prevista pelos cientistas há vários anos.

O Sul também tem registrado uma série anormal de fortes tornados em tempestades devastadoras. O Brasil ainda engatinha para ter um sistema de alerta eficiente para esse que é o mais violento dos fenômenos climatológicos. Algo que sequer poder ser comparado ao pior dos sistemas no local mais remoto dos Estados Unidos.

A realidade, inclusive admitida por cientistas do INPE e de outros centros com núcleos de meteorologistas, é que essa guerra está apenas no começo e durará muito, com um potencial de destruição imenso e –até mesmo – incalculável.

Segundo declarações a agência de noticias da Fapesp, com base em imagens de satélite e no tipo de destruição registrada em Porto Alegre após a tempestade da última sexta-feira, 29, especialistas acreditam que o que varreu a cidade foi um fenômeno conhecido como "downburst", ou, na literatura técnica nacional, "explosão atmosférica".

Apesar de as estações meteorológicas terem registrado ventos de 120 km/h, os estudiosos acreditam que rajadas de 150 km/h atingiram a capital, especialmente no parque Marinha do Brasil, às margens do Guaíba, onde centenas de árvores foram arrancadas.  "Trata-se de uma corrente de vento descendente violenta que, ao alcançar a superfície, se expande de forma radial com vento destrutivo e com força até de tornado", explica o meteorologista Luiz Fernando Nachtigall ao órgão de fomento a pesquisa de São Paulo.
 
 Segundo a reportagem da Fapesp, Porto Alegre foi atingida entre 22h e 22h45 da última sexta-feira por uma tempestade severa. O temporal encontrou uma superfície muito abafada – a temperatura máxima daquele dia foi 39,3ºC – , o que tornou o ambiente propício à forte tormenta.  Embora seu poder destrutivo possa ser comparado ao de um tornado, o "downburst" dura mais e atinge uma área muito maior. "Os danos alcançaram o centro da cidade, e as zonas leste, sul e norte com quedas de árvores em dezenas de bairros", disse Nachtigall.

Para Silvio Nilo Figueroa, chefe da DMD do CPTEC-Inpe e integrante do projeto apoiado pela FAPESP, para melhorar o percentual de acerto das previsões e fornece-las com mais precisão e rapidez, denominado BAM (Brazilian Global Atmospheric Model),  a situação foi grave.

"Os piores danos se concentraram em uma área ampla dos bairros Praia de Belas e Menino Deus. O fato de ter havido estragos difusos por quase toda a cidade e a duração do vento intenso afasta a possibilidade de que um tornado tenha varrido Porto Alegre, uma vez que este tipo de fenômeno determina vento extremo de curta duração e em uma área muito delimitada", avalia o meteorologista.

Após toda destruição, os moradores da cidade têm questionado as autoridades sobre uma possível falha no alerta preventivo. Entretanto, o meteorologista explica que fenômenos severos como o que afetou Porto Alegre só são alertados de 15 a 60 minutos antes, em todo o mundo. "Este tipo de fenômeno é considerado por técnicos nos Estados Unidos como de previsão mais difícil que um tornado", salienta.

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