A morte de um homem de 35 anos em São Paulo virou motivo de estudo de pesquisadores da Universidade do Texas. Após análises em laboratório eles confirmaram uma nova superbactéria – aquelas resistentes a antibióticos – no Brasil. A equipe de pesquisa alerta que o microrganismo não é restrito a hospitais e que pode representar um problema de saúde pública, uma vez que não responde a vancomicina, um dos antibióticos mais comuns e baratos utilizados nesse tipo de tratamento, e também a meticilina, que pertence ao grupo das penicilinas.
A nova superbactéria pertence a uma classe conhecida como SARM, Staphylococcus aureus resistente à meticilina, que vem preocupando especialista por ser cada vez mais frequente e ameaçar os medicamentos utilizados para combater a infecção hospitalar, o que poderia tornar qualquer procedimento médico altamente perigoso para a saúde. Somente na União Europeia, as superbactérias matam cerca de 20 mil por ano.
Os pesquisadores afirmam que a cepa original da superbactéria encontrada no Brasil é disseminada largamente entre a população, e é uma das causas mais comuns de infecções de pele e mucosas em pacientes de todas as idades. A infecção pode ser fatal, apesar de até o momento responder bem ao tratamento com vancomicina.
"É diferente de tudo que já vimos, e essa mutação em específico está causando infecções na comunidade e não nos hospitais" – alertou Cesar Arias, líder da equipe de pesquisa do Centro de Ciências da Saúde da Universidade do Texas, em Houston, em artigo publicado na revista "The England Journal of Medicine".
De acordo com o estudo, o paciente em questão apresentava uma micose fungoide – o tipo mais frequente de linfoma cutâneo de células T -, era diabético e viciado em cocaína. Ele deu entrada em um hospital psiquiátrico por "depressão e pensamentos suicidas" e começou a apresentar muitas infecções na pele e depois no sangue.
– Os diferentes tratamentos com antibióticos talvez tenham proporcionado tempo suficiente para a bactéria se tornar resistente – afirmou Arias.
A nova superbactéria preocupa, mas como ela não infectou outros pacientes, os cientistas afirmam que não representa risco imediato. No entanto, segundo Barbara Murray, outra autora do estudo e presidente da Sociedade de Doenças Infecciosas da União Europeia, é preciso ficar alerta.
– Essa descoberta nos indica que no futuro teremos que aumentar a vigilância na América do Sul e no resto do mundo – disse Barbara ao "El Mundo". – Isso reforça a ideia de que é importante não usar mais antibióticos do que o necessário para evitar a resistência.
O estudo aponta, ainda, para a necessidade de a indústria farmacêutica começar a desenvolver novos antibióticos.
– Perder a vancomicina, um remédio tão econômico, por culpa da resistência bacteriana, supõe uma carga econômica considerável para o sistema de saúde de qualquer lugar – afirmou David Weber, professor de Epidemiologia da Faculdade de Saúde Pública da Universidade da Carolina do Norte.