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São José quer resgatar empresas aeronáuticas perdidas por falta de infraestrutura

Júlio Ottoboni

A futura administração da prefeitura municipal de São José dos Campos, do prefeito eleito Felício Ramuth (PSDB) quer recuperar as fábricas que deixaram a cidade nos últimos quatro anos, principalmente as ligadas ao polo aeroespacial. O setor tem sofrido baixas por saturação da infraestrutura existente, que é utilizada praticamente pelo complexo da Embraer, como a pista do aeroporto civil-militar da cidade.

Desde 2008 o acumulado de companhias aeronáuticas, de vários portes e atuações dentro do mercado, pode se aproximar da casa das 100 empresas perdidas. Um desmonte imenso que agora passa a comprometer significativamente a própria sobrevivência do polo aeroespacial.  Cerca de 50 empresas ligadas a Comissão Empresarial para o Desenvolvimento Aeroespacial de São José dos Campos e Região desapareceram, a única sobrevivente foi a Krauss Aeronaútica que teve de deixar a cidade para sobreviver.

O retorno das empresas perdidas ao longo deste período será uma das ações prioritárias do futuro gestor da Secretaria de Inovação e Desenvolvimento Econômico, Alberto Mano Marques. Entre várias que deixaram a cidade ou mesmo sucumbiram a falta de estrutura, como uma nova pista de testes e um condomínio de empresas do setor, se encontra a Krauss Aeronáutica que seguiu para Minas Gerais, em 2008, e a unidade da Novaer Craft, que deixou a cidade em abril de 2014, rumo ao município de Lages, em Santa Catarina.

Os Estados brasileiros travam hoje uma verdadeira guerra tanto no segmento fiscal como em políticas de incentivos que também tem atraído à atenção de outras empresas ligadas ao segmento aeronáutico e espacial.

Além do mais, São José dos Campos sempre se absteve de ter uma política de atração de investimentos no setor aeronáutico e espacial. As empresas que surgiram nas incubadoras da cidade, tanto no Parque Tecnológico, REVAP e UNIVAP acabaram encerrando suas atividades ou partindo para outras cidades com administrações mais sensíveis as necessidades do empresariado.

A cidade reinou soberana, praticamente sozinha neste segmento, enquanto outros municípios se estruturavam, inclusive com a ajuda do governo em âmbito estadual e federal. Como foi o caso com os polos de São Carlos e de Gavião Peixoto, ambos ainda nos anos 90. São José dos Campos ainda ignorou os sinais e avisos dados pela direção da Embraer que a ex-estatal se internacionalizaria e expandiria para fora das fronteiras do Vale do Paraíba paulista. O ex-presidente da companhia, Maurício Botelho, sempre dizia em suas entrevistas sobre a tendência da Embraer.
“A Embraer não é uma empresa de São José dos Campos, é uma empresa do mundo. Nosso mercado é o mundo e para lá que temos que voltar nossas atenções e investimentos”, reforçava Botelho para os ouvidos mocos de administrações locais que pouco se preocupavam em estrutura o segmento.

 Entretanto, a promessa a partir de janeiro, quando assumirem a prefeitura local, que se encontra em sérias dificuldades financeiras depois de uma gestão desastrosa do prefeito petista Carlinhos de Almeida, que está cassado e tem seu nome ligado a investigação Lava Jato,  deverá partir para ações semelhantes aos seus concorrentes para reverter o quadro.

“Irei sim atrás dessas empresas que saíram daqui, temos que descobrir o as fizeram deixar São José dos Campos e mostrar que podem prosperar aqui com todo apoio do município”, comentou o secretário que será empossado no dia 1º de janeiro de 2017, na administração do prefeito eleito Felício Ramuth.

Os novos centros de atividade industrial ligada a aeronáutica, como de Itajubá (MG), Lages (SC), Santa Maria (RS), Sete Lagoas (MG), Sorocaba (SP), São Carlos (SP) têm criado uma forte competitividade no setor. As incubadoras tecnológicas de São José dos Campos registraram também uma forte evasão para essas localidades.

“São José dos Campos é um cidade diferenciada, seja na formação acadêmica e de mão de obra altamente especializada, como um polo de atração no setor. Temos que estar atentos e ir buscar inclusive empresas que estejam aqui, mas com braços em outras cidades”, comentou Marques sobre sua intenção de reverter essa situação desfavorável.

Apesar do diferencial ainda existir, ele está muito menor com o passar do tempo. Várias cidades agora tem o curso de engenharia aeronáutica já certificado, o que era uma exclusividade do ITA e São José dos Campos enfrenta uma franca decadência.  O ITA, o DCTA, o INPE entre outros institutos que fomentavam o polo estão sucateados e em situação de penúria, os grandes projetos espaciais acabaram assim com os novos projetos da Embraer que embarcaram para o exterior ou para outras localidades.

Um exemplo que a sangria não foi estancada é a empresa Krauss Telecom, que atuou em grandes projetos como o SISFRON, SIVAM, nos satélites do INPE, CINDACTA e produzindo vários equipamentos para aeronaves está fechando até o final deste mês as portas em São José dos Campos e partindo para Caraguatatuba, no Litoral Norte paulista, para atuar na área de segurança de condomínios.

“Eu estou deixando São José, os contratos estão parados ou encerrados e não sei se serão retomados. O SISFRON é um deles que deixou de ser tocado pelo governo federal. Ninguém está produzindo mais nada no Brasil na área de comunicação, tudo agora é importado e vem da China, não interessa a qualidade ou se isso prejudicará a indústria brasileira. Vou tentar sobreviver com nesta área de condomínios até surgir alguma coisa”, comentou o proprietário Júlio Cesar Brandão Serrano.

Um triste exemplo é o distrito industrial do bairro Chácaras Reunidas, que está se esvaziando com uma velocidade assustadora. Muitas empresas estão preferindo cidades periféricas para fugir da voracidade dos sindicalistas ligado ao setor metalúrgico e militante do partido de extrema esquerda PSTU.  A cidade viu sumir de seu mapa empresarial em duas décadas a TECNASA, todo o grupo TECSAT, AMPLIMATIC, AVIBRAS 1, SOLECTRON entre outras como Philips, Kodak, grande parte da General Motors e um número imenso de médias e pequenas empresas.

Uma das possibilidades que ressurge agora, como essa nova investida, é a criação do condomínio aeronáutico dotado de hangares, galpões, salas para escritórios e uma pista de pouso e decolagem para as empresas que necessitam deste tipo de estrutura. Algo semelhante ao que está sendo feito em Lages e em Itajubá. O futuro secretário disse que pretende atender a demanda do empresariado.

Para o empresário Roberto Brandão Serrano, fundador e proprietário da Krauss Aeronáutica, que foi criada da incubadora tecnológica da Petrobras, em São José dos Campos, no começo dos anos 2000, sua ida para Minas Gerais não só salvou seu negócio como abriu uma série de novas possiblidades que inexistiam no Vale do Paraíba. O motivo: a falta de infraestrutura aeronáutica e de apoio aos empresários do setor.

“Eu vim para a cidade de Campanha (MG) em 2008, que sequer tem aeroporto, mas começamos a produzir num galpão no centro da cidade e em 2011 nós fabricamos 8 aviões em seis meses. Em 2015 instalei a Krauss Aeronáutica em Três Corações (MG) e a oficina de manutenção em Divinópolis (MG) e já temos 17 aviões produzidos e mais oito para entrar em fabricação. A atenção que nós temos aqui é incomparável, não dá para pensar em sair”, comentou satisfeito o empresário Roberto Brandão Serrano.

O máximo que pode acontecer é estabelecer um posto avançado no Vale do Paraíba. “Foi muito bom a gente ter saído”, reforça. Mesmo com toda dificuldade que enfrentou por estar fora do eixo aeroespacial, hoje a Krauss tem três projetos de aviões próprios, o KA-01 para aviação agrícola, o KA-100 Guará para avião civil e um vant.

O prefeito eleito, Felício Ramuth, comentou que as organizações sociais (O.S.) contratadas pela prefeitura, como a que cuida do Parque Tecnológico de São José dos Campos e paga para seus diretores salários altíssimos e é administrado pela segunda vez pelo ex-ministro Marco Antonio Raupp, alvo de imensas críticas das empresas encubadas no parque, se destoarem da nova proposta administrativa da prefeitura terão seus contratos encerrados.

A OS do Parque Tecnológico é apontado inclusive pelos tucanos como o caso mais explícito de aparelhamento de uma entidade pelo governo do PT. Em seu conselho administrativo se encontram desde militantes e secretários municipais ligados ao partido, como na estrutura funcional da entidade.

“Se não tiverem a capacidade de resposta rápida e dentro das necessidades do município vamos promover uma nova abertura de contratação e efetuaremos a troca. O que queremos é o compromisso com a cidade, pois não temos interferência direta na gestão das organizações, se não cumprirem o determinado serão trocadas”, informou ao comentar sobre a inclusão de membros da atual administração do Partido dos Trabalhadores (PT) na direção das várias entidades contratadas pela prefeitura, que faz uma forte oposição ao PSDB.

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