Francisco Rondinelli Jr.
Um dos maiores desafios com o quais se defronta a sociedade contemporânea é o de definir as bases para o equilíbrio entre desenvolvimento e sustentabilidade. O caminho proposto para alcançar esse objetivo, que busca integrar os dois extremos em uma conjunção favorável, denominada "desenvolvimento sustentável", ainda não possibilitou, porém, a plena compreensão de como chegar a esse equilíbrio.
É inegável que os avanços científicos e as conquistas tecnológicas contribuíram para a melhoria da qualidade de vida da população. Hoje, somos 7 bilhões de habitantes, com uma expectativa de vida que supera em muito a do passado recente – um gigantesco contingente de consumidores que buscam em seu dia a dia garantir condições de conforto, bem-estar e satisfação pessoal.
Nesse sentido, é importante racionalizar o discurso no que se refere às diversas alternativas para a geração de energia elétrica, talvez o insumo de maior valor agregado como agente indutor do desenvolvimento social. Enquanto em países com elevado índice de desenvolvimento há um consumo per capita acima de 5 mil quilowatts-hora/ano, na África, onde se situam os maiores bolsões de pobreza da humanidade, 90% da população tem como fonte primária de energia apenas a lenha, em seu estado natural. No Brasil, essa média é de 2 mil quilowatts-hora/ano. A base de geração é hidráulica, com mais de 90% de participação na matriz elétrica do País, o que torna o sistema extremamente vulnerável, por ser dependente de uma única fonte sujeita à instabilidade dos regimes pluviais, impossíveis de serem controlados.
A geração por combustíveis fósseis ou a carvão, responsável por cerca de 50% da produção de eletricidade no mundo, já tem bem identificados seus impactos ambientais. No entanto, sua substituição por outras fontes ainda não encontra soluções de curto ou médio prazos que apresentem uma capacidade de geração da mesma ordem de grandeza.
Fala-se no potencial das fontes limpas, apresentadas como única solução racional para a questão, como se não interferissem no meio ambiente. Por exemplo, uma planta eólica com capacidade de geração de 1 mil MW ocuparia uma área equivalente à de uma rodovia com a largura da Presidente Dutra, e com um comprimento igual à distância entre o Rio de Janeiro e Fortaleza. A geração por biomassa também tem seus percalços. Se o mundo todo fizesse a opção por adotar somente biocombustíveis, as Américas do Norte, Central e Sul deveriam ser integralmente destinadas ao plantio para atender à geração elétrica. No caso da solar, também seria necessária a ocupação de áreas gigantescas para a instalação de painéis refletores ou fotovoltaicos, com a agravante de ser uma fonte que só gera energia durante o dia, com baixa capacidade de armazenamento.
No escopo dessa questão, insere-se a geração nuclear. Por exemplo, a mesma planta de 1 mil MW, se construída com tecnologia nuclear, não ocuparia uma área superior a um quilômetro quadrado, menor do que a da Lagoa Rodrigo de Freitas. Mesmo considerando-se todo o ciclo de vida de uma usina nuclear, a emissão de gases causadores do aquecimento global é quase zero. O chamado "lixo atômico" é confinado em um material inerte, como betume ou cimento, e deixa de ser radioativo em algumas centenas de anos, sem risco para seu entorno.
Quanto aos elementos combustíveis retirados dos reatores, estes podem ser reprocessados, possibilitando seu aproveitamento para a geração de mais energia, com a consequente redução no volume final de resíduo radioativo. Fala-se muito nos riscos de acidentes nucleares e seus danos à população e ao meio ambiente. Vejamos os dados sobre o recente acidente de Fukushima, no Japão. Em primeiro lugar, o que houve ali foi um cataclismo de dimensões planetárias: um tsunami de 20 metros de altura e um abalo sísmico acima de 9 graus na escala Richter. As usinas nucleares foram frontalmente atingidas e, mesmo assim, os reatores foram desligados automaticamente – a perda do sistema de refrigeração teve como causa a pane elétrica em toda a região. Houve liberação de material radioativo para o meio ambiente? Houve contaminação ambiental e de áreas no entorno das usinas? Sim, mas em que proporção? A área atingida foi isolada e nenhum indivíduo da população foi contaminado com material nuclear. Não houve morte decorrente da radiação e o plano de emergência evitou a contaminação da população vizinha.
As doses efetivas de radiação ainda estão sendo estimadas, mas estudos recentes da Organização Mundial da Saúde apontam que os níveis estão abaixo dos limites de segurança exigidos. Então, a energia nuclear é a melhor opção para a geração elétrica? Também não é assim. A tecnologia nuclear é complexa, exige capacitação científica, tecnológica e industrial para o seu domínio e a construção das centrais nucleares implica investimentos vultosos, que somente são amortizados no longo prazo.
Dessa forma, ao se falar em matriz energética, é preciso buscar o equilíbrio sustentável, ou seja, maximizar as vantagens inerentes a cada fonte de geração e minimizar as desvantagens por meio de uma combinação ótima entre as várias alternativas disponíveis. Cabe ao setor nuclear o esclarecimento da opinião pública com fatos e dados, contribuindo para que esse debate, muitas vezes pautado por emoções como o medo do desconhecido ou por preocupações de ordem apenas ideológica, ganhe maior racionalidade.