Depois de ter atingido um máximo de cinco anos em 2015, o crescimento da demanda global por petróleo deve cair cerca de 35% no ano que vem, elevando a pressão num mercado já às voltas com um excesso de oferta.
A queda de 40% nos preços do petróleo desde o ano passado impulsionou a demanda, incentivando motoristas, consumidores e empresas a encher seus tanques. Mas a desaceleração na China e outros países asiáticos pode reduzir essa demanda, segundo analistas e as principais agências do setor petrolífero.
Até que ponto a demanda vai cair ainda não está claro.
“Estamos vendo um crescimento sólido da demanda neste ano, mas a grande questão é o que acontecerá no próximo”, diz Rob Haworth, estrategista sênior de investimento do Bank Wealth Management, dos Estados Unidos, que administra um portfólio de US$ 126 bilhões.
Sergey Frank, diretor-presidente da maior transportadora russa, a Sovcomflot, diz que seu lucro líquido mais que triplicou este ano, uma vez que o petróleo mais barato mantém os custos baixos e a demanda elevada para os derivados de petróleo que ele transporta pelo mundo todo.
Mas Frank está se preparando para o pior enquanto planeja suas rotas de entrega para o próximo ano. “Hoje, o vento está favorável, mas amanhã poderá haver obstáculos”, diz ele.
A Agência Internacional de Energia, que monitora o setor de petróleo, prevê que o crescimento da demanda global vai cair de 1,8 milhão de barris por dia neste ano para 1,2 milhão de barris em 2016.
Já a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep), o cartel que reúne 12 países produtores, estima que o crescimento da demanda caia para 1,25 milhão de barris por dia e alguns analistas preveem um recuo ainda maior.
Ontem, o preço do petróleo Brent, a referência internacional, fechou a US$ 48,58 o barril, com alta de 1,5%.
A forte demanda por petróleo neste ano deve-se ao aquecimento das vendas de utilitários esportivos, grandes consumidores de gasolina, nos EUA e ao fato de que países como a China aproveitaram os preços baixos para elevar suas reservas estratégicas de petróleo.
Os preços da gasolina já caíram cerca de 35% nos EUA em relação ao ano passado.
O uso no transporte foi responsável por 80% do crescimento da demanda por petróleo nos últimos 20 anos, segundo o banco Barclays PLC.
“O petróleo é um produto de consumo — quando está barato, as pessoas compram mais e dirigem mais”, disse Tony Wayward, ex-diretor-presidente da BP PLC e presidente do conselho de administração da petrolífera Genel Energy PLC, ao The Wall Street Journal. “Isso é verdade na China, na Europa e também nos EUA.”
Na verdade, nem todo mundo vê um problema.
A Agência de Informação sobre Energia dos EUA estima que o crescimento da demanda em 2016 vai subir para 1,41 milhão de barris por dia, acima do 1,31 milhão deste ano.
Mas, para a maioria dos analistas, o crescimento da demanda deve desacelerar significativamente, com os receios sobre a economia da China alimentando esse cenário de fraqueza.
Nesta semana, a China informou que sua economia cresceu 6,9% no terceiro trimestre ante o mesmo período de 2014, o menor ritmo de expansão desde 2009. O Fundo Monetário Internacional estima que o crescimento do PIB chinês vai cair para 6,3% no ano que vem. O FMI também reduziu sua previsão de crescimento econômico global de 3,3% para 3,1%, o menor número desde a crise financeira.
O crescimento econômico normalmente tem uma forte correlação com a demanda por petróleo.
“O declínio da China no [crescimento] do PIB sugere que o principal motor do crescimento da demanda global do petróleo não será uma solução para o excesso de oferta”, diz Dominick Chirichella, analista da Energy Market Analysis.
A incapacidade de prever a profundidade que essa queda no crescimento da demanda atingirá é mais um elemento de incerteza na análise do mercado de petróleo. Há uma diferença de 210 mil barris por dia entre as estimativas da Agência Internacional de Energia e da Agência de Informação sobre Energia dos EUA para o crescimento médio da demanda por petróleo em 2016, enquanto o banco suíço UBS afirma que ele será ainda menor: 1,1 milhão de barris por dia — cerca de 300 mil barris diários abaixo da estimativa da AIE.
“Há uma linha muito fina, onde uma ligeira diferença de previsões pode mover o mercado de petróleo para uma escassez de oferta já em meados de 2016 […] ou só no início de 2017”, diz Pascal Menges, gestor do Lombard Odier Energy Fund.
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