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Os Paradoxos das Ideologias Extremistas


André Luís Woloszyn
Analista de Assuntos Estratégicos e Membro de Núcleo de Estudos de Segurança e Defesa da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo

 

Ideologias Extremistas:

Os Paradoxos Parte 1 Link
Os Perigos    Parte 2 Link

 
 

As ideologias extremistas, ao longo da história, sejam políticas ou religiosas, tem em comum várias características que as identificam e as aproximam, em relação a outras crenças. A mais notável, é manifestada pela desconsideração de qualquer argumento, mesmo que racional, que seja contrário a ela, transformando atitudes de contestação em atos violência. Isso decorre, da fé incondicional dos adeptos no discurso de suas lideranças, base para o processo de radicalização e, consequentemente, da modulação de comportamentos.

Em outras palavras, é o que Pinsky chama de fanatismo, definido pelo autor, como a exaltação que leva indivíduos ou grupos a praticar atos violentos contra outras pessoas, prejudicando significativamente sua liberdade e atentando contra a vida, baseados na intolerância e na crença em verdades absolutas, para as quais não admitem contestação.

Outra das características é paradoxal. As lideranças que apregoam tais ideologias, transformando-as em dogmas, tem plena consciência de que o discurso é retórico, baseado em constructos sociais, em realidade imaginada. Contudo, também sabem tratar-se de um instrumento poderoso de manipulação psicológica, uma via expressa para se obter ascensão ao poder político e econômico.

Foi assim com o nazismo, na promessa de um futuro glorioso, baseado na supremacia racial e com o comunismo, na ilusão de supressão das classes sociais, onde toda a sociedade alcançaria a plena satisfação de suas necessidades básicas. Como lembra Orwell, a idéia de um paraíso terreno em que homens vivessem juntos num estado de fraternidade, sem leis nem trabalho brutal, incendiara durante milhares de anos a imaginação humana e esta idéia ainda permanece latente. Neste mesmo contexto, está o terrorismo de cunho extremista islâmico, na promessa de uma vida mais digna no paraíso. Para atingir tais fins, todos os meios acabam justificados, incluindo o uso dos próprios radicalizados, com o sacrifício de vidas humanas.

Chomsky, trabalha bem esse conceito quando assevera que a mobilização da opinião pública, guiada pela emoção e impulsos, na defesa de determinada realidade imaginada, ocorre por meio da criação de slogans que ninguém discorde, e todo o mundo seja a favor, o que segundo o autor, possui valor crucial para desviar a atenção da questão principal: o poder. 

Vale destacar, que o resultado dessas ideologias sempre mostrou-se trágico, acarretando  incontestáveis sofrimentos as populações por meio de violenta repressão, perda de vidas, prisões massivas e extrema crueldade, enquanto suas lideranças desfrutavam os previlégios de seu novo status. Neste sentido, os regimes democráticos são a parte vulnerável, o passaporte que permite o surgimento de lideranças desta natureza com discursos dissimulados, encobertos pelo princípio constitucional da livre expressão e manifestação do pensamento ou ainda, sob o manto protetor dos direitos humanos. Há que se ressaltar, que são dois pesos e duas medidas. O que vale para uma das partes, não é válido para a outra e aqui recai o maior dos paradoxos.

Lamentavelmente, quando os adeptos se dão conta da escolha equivocada que fizeram, da realidade imaginada em detrimento da realidade objetiva, já tornaram-se reféns das próprias emoções e dos próprios impulsos.
 
Referências:

CHOMSKY, Noam. Controle da Mídia: os espetáculares efeitos da propaganda, tradução Antônio Augusto Fontes, Rio de Janeiro, Graphia, 2003.
ORWELL, George. 1984, tradução Wilson Velloso, São Paulo, 24ª edição, Companhia Editora Nacional, 2000.
PINSKY, Jaime e Carla Bassanezi (Org.) As faces do fanatismo, São Paulo, Editora Contexto, 2016.

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