SÃO PAULO – Os projetos de petróleo, gás e biocombustíveis têm sido o principal motor de expansão dos investimentos de infraestrutura. Até 2016, mais da metade de todo o dinheiro aplicado no setor virá de empreendimentos ligados a combustíveis. O restante será dividido entre projetos de energia elétrica e áreas como transportes, saneamento básico e obras para a Copa do Mundo e para a Olimpíada.
Os dados fazem parte de um levantamento feito com base em pesquisa da Associação Brasileira de Tecnologia para Equipamentos e Manutenção (Sobratema), que detectou 9.365 obras de infraestrutura no País. A maioria dos projetos na área de combustíveis sairá dos cofres da Petrobrás. O plano de negócios da estatal, aprovado no ano passado, soma US$ 224 bilhões até 2015.
"O grande investimento da infraestrutura vem da petroleira, que tem um poder gigantesco", afirmou o vice-presidente da Sobratema, Mário Humberto Marques. Nos últimos anos, foram os projetos da estatal que ajudaram a elevar o volume de investimentos do setor em relação ao Produto Interno Bruto (PIB).
Entre 2006 e 2009, a infraestrutura recebeu 2,1% do PIB – ainda abaixo dos 3% necessários para melhorar os serviços do País. Para conseguir alcançar o padrão de países industrializados do Leste Asiático, a taxa de investimento teria de saltar para 5% ou 7% do PIB, diz Marques. Embora os investimentos em petróleo e gás sejam extremamente importantes, os outros setores estão mais carentes de projetos.
O presidente do Instituto Ilos, Paulo Fleury, diz que a infraestrutura de transportes, por exemplo, tem déficit de investimentos de três décadas. "Durante o governo militar, o setor chegou a receber 1,8% do PIB. Hoje está em torno de 0,5%, enquanto a média mundial está entre 1,5% e 2%." Segundo ele, se o País quisesse ter uma estrutura rodoviária próxima do nível americano, seria necessário investir R$ 700 bilhões em rodovias e R$ 250 bilhões em ferrovias.
Mas, de acordo com os dados da Sobratema, o volume de dinheiro que será aplicado no setor até 2016 é de R$ 342 bilhões para todos os tipos de transportes (rodovia, porto, hidrovia, ferrovia, metrô, vias urbanas e aeroportos). As estradas vão receber quase um terço dos recursos. De outro lado, os investimentos em aeroportos, um dos maiores gargalos do País, correspondem a apenas 3,3% do total.
"A falta de investimentos nos anos 80 e 90 está fazendo a sociedade pagar um preço muito alto", disse Marques. Ele acredita que o leilão de aeroportos, realizado no início do mês, poderá mudar o quadro caótico dos terminais brasileiros e elevar o volume de investimentos. Aliás, na avaliação dele, as concessões são uma das principais alternativas para diminuir os entraves na infraestrutura. "Não vejo outra solução para o Brasil. Ou se faz concessão simples ou PPPs (Parcerias Público-Privadas)."
Demora. Os empreendedores, no entanto, reclamam da lentidão do governo para fazer leilões em qualquer que seja a área. No setor rodoviário, apenas um trecho de estrada foi concedido à iniciativa privada desde 2009. Os portos também seguem essa tendência, apesar de haver projetos de R$ 6 bilhões aguardando liberação do poder público.
"Precisamos estimular mais esses setores para melhorar a competitividade. O País está muito caro, e um dos problemas é o custo Brasil", diz o presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (Cbic), Paulo Safady. Para ele, o colapso da logística e a elevada burocracia para fazer negócios no País não são compatíveis com o posto de sexta maior economia do mundo.
Outra área que reflete o atraso da infraestrutura é saneamento básico. "Quase 60% das residências do território nacional não são atendidas por rede de esgoto e 15% não têm água tratada", diz o presidente da Associação Paulista de Empresários de Obras Públicas (Apeop), Luciano Amadio. Ele critica o pouco interesse do governo em relação às obras de saneamento, que poderiam reduzir os gastos com saúde. O setor é o que tem o maior número de obras: 7.390 – 78% do total. O volume de investimento, porém, representa apenas 6,5%, ou $ 14 bilhões.