Em outubro de 2017, um astrônomo descobriu um objeto interestelar visitando o Sistema Solar, que mais tarde seria batizado com o nome 1I/'Oumuamua. Ele apresentou uma trajetória altamente hiperbólica, uma natureza incerta e aceleração incomum, o que deixou a comunidade científica bastante intrigada. Agora, um novo estudo trouxe, outra vez, a hipótese de que se trata de uma tecnologia alienígena.
A ideia não é nova. Em 2018, Shmuel Bialy e Abraham Loeb já haviam publicado um estudo apontando que o objeto poderia ser um "veleiro de origem artificial". Dessa vez, é Avi Loeb, astrofísico da Universidade de Harvard, que argumenta algo parecido. Ele afirma que o 'Oumuamua pode ser uma máquina que acelera conforme é empurrada pela radiação solar – assim como as nossas velas solares, como a LightSail 2.
Ao lado de seu colega Thiem Hoang, Loeb publicou seu novo artigo no dia 17 de agosto, no The Astrophysical Journal Letters. Eles discordam de um estudo recente, que aponta o hidrogênio como responsável pela aceleração estranha do objeto. De acordo com o novo artigo, essa hipótese não funcionaria no mundo real.
Por que o Oumuamua é tão estranho?
Uma das características mais estranhas do Oumuamua é sua aceleração não gravitacional – ou seja, não motivada por um puxão de um objeto maior – e isso é realmente difícil de explicar. Por isso alguns pesquisadores preferem não abrir mão das possibilidades de que seja uma nave criada por uma civilização inteligente.
Além disso, embora o Oumuamua tenha se movido como um cometa, não apresentou o coma ou a cauda que um cometa tem ao se aproximar do Sol. Some isso ao fato de que ele tenha sido o primeiro objeto a ser visto entrando em nosso Sistema Solar e voltando para algum outro ponto desconhecido da galáxia, e temos um baita mistério.
A sua jornada desconhecida e o fato de estar acelerando sugere que o 'Oumuamua, que deve ter cerca de 400 m a 800 m de comprimento, era um cometa. A liberação de gases em cometas muda a forma eles se movem no espaço e pode, de fato acelerá-lo. Mas não apresentou as características clássicas de um objeto desse tipo.
Um cometa diferente?
Em um artigo publicado em 9 de junho no The Astrophysical Journal Letters, os astrofísicos Darryl Seligman e Gregory Laughlin sugeriram que o objeto era um cometa feito parcial ou totalmente de hidrogênio molecular – moléculas leves compostas de dois átomos de hidrogênio (H2). “Todas as propriedades observadas do Oumuamua podem ser explicadas se ele contiver uma fração significativa de gelo de hidrogênio molecular (H2)”, disseram os cientistas. Logo em seguida, outros pesquisadores publicaram um artigo descartando essa ideia.
Agora é a vez de Hoang e Loeb responderem a esta hipótese e argumentarem que a explicação do hidrogênio tem um problema básico: os cometas se formam quando grãos gelados de poeira colidem uns com os outros no espaço e formam aglomerados, e então esses aglomerados atraem mais poeira e outros aglomerados. Além disso, os cometas sobrevivem apenas enquanto não derretem.
É como se houvesse algo que ajuda a formar os cometas, semelhante aos cubos de gelo que saem direto de um freezer. Normalmente eles grudam na pele, mas se deixarmos fora da geladeira por um ou dois minutos, eles perdem essa propriedade porque uma fina camada de água líquida em sua superfície o torna escorregadio.
Hoang e Loeb argumentaram que mesmo a luz das estrelas nas partes mais frias do espaço aqueceria pequenos pedaços de hidrogênio sólido – o elemento que Seligman e Laughlin apontam como responsável pela composição do Oumuamua – antes que pudessem se agrupar e formar um cometa do tamanho do 'Oumuamua.
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lustração da evolução do objeto interestelar 'Oumuamua (Imagem: YU Jingchuan) |
Poucas evidências sobre iceberg cósmico
Mas nenhuma dessas ideias convence Loeb. "Encurtar a distância que esse iceberg de H2 (hidrogênio molecular) precisa para viajar não resolve os problemas que delineamos em nosso artigo”, disse ele. É que se fosse um iceberg de hidrogênio, ele “teria se formado quando seu sistema planetário original se formou, bilhões de anos atrás", e nesses casos, os icebergs evaporam, disse ele.
Loeb também disse que os icebergs de hidrogênio devem vir de nuvens moleculares gigantes, e não de partes do espaço como Carina ou Columba, sugeridos por defensores da hipótese do cometa. E completou que nenhum iceberg de hidrogênio poderia sobreviver à jornada da nuvem molecular gigante mais próxima.
Assim, Loeb acredita mais na hipótese da vela solar alienígena. Aliás, ele tem um livro ainda não publicado de sua autoria chamado "Extraterrestre: O Primeiro Sinal de Vida Inteligente Além da Terra", com publicação prevista para janeiro.
Seligman concorda com seu “adversário” argumentativo. "Os icebergs de hidrogênio não vivem tanto tempo na galáxia", disse ele. "E você definitivamente não tem tempo para ir até a nuvem molecular gigante mais próxima". A teoria só funciona se 'Oumuamua tiver apenas 40 milhões de anos, de acordo com o astrofísico. Ao longo desse período, a liberação de gases poderia ter moldado a forma do cometa sem destruí-lo inteiramente.
Existem outras possibilidades para continuar cogitando que o objeto se trata de um cometa, como apontar para outras possíveis origens, mais próximas do que a nuvem molecular gigante – que era a explicação mais fácil para a hipótese da composição de hidrogênio molecular. Entre elas, estão nuvens moleculares menores, perto de estrelas jovens.