Se a próxima guerra mundial acontecer, ela mais provavelmente será na Ásia e será um choque entre a potência hegemônica atual, os EUA, e sua principal desafiante, a China. A boa nova é que a China não deseja uma guerra agora ou no futuro previsível, antes de mais nada porque Pequim sabe perfeitamente que as chances não estão a seu favor. Mas se olharmos para daqui a 20 anos, em 2034, as circunstâncias terão mudado de maneira significativa.
Há três razões para a improbabilidade de uma guerra no curto prazo. Primeiro, apesar do crescimento anual de dois dígitos em seu orçamento de defesa, a capacidade militar chinesa ainda está significativamente atrás da americana. A China precisará de 15 a 20 anos para alcançar a paridade ou quase paridade com as forças aliadas de EUA e Japão na litoral da Leste Asiático. Segundo, como a maioria de suas importações de commodities chega por mar, a China seria extremamente vulnerável a um bloqueio naval, que provavelmente seria montado pelos EUA.
Em terceiro lugar, a China teria de enfrentar não somente os EUA, mas também seus aliados asiáticos, entre os quais o Japão, a Austrália e, talvez, a Índia. Por isso, ela precisa do pelo menos uma grande potência aliada e alguns aliados menores.Se a China ousar fazer umu desafio sério aos EUA, isso dependerá, em grande medida, de Pequim e Moscou formarem um bloco geopolítico eurasiano.
Em suma, nos próximos 15 a 20 anos uma grande guerra na Ásia é altamente improvável. Por volta de 2030, porém, o equilíbrio deverá sofrer mudanças consideráveis, se a China conseguir: 1. zerar a distância militar dos EUA; 2. deixar sua economia menos dependente de mercados ocidentais e matérias-primas do exterior; 3. formar sua própria estrutura de alianças.
Imaginemos o cenário das próximas décadas: A China – que há quatro anos completou a reunificação com Taiwan – está cada vez mais preocupada como crescimento do poder da Índia. Em 2030, a Índia superou a China tornando-se o país mais populoso do planeta. Ainda mais significativo, a Índia, com sua população muito mais jovem e economia dinâmica, já cresce mais depressa que a China.
Com a rivalidade China-Índia, um cenário é que Pequim resolva atacar primeiro – antes que Nova Délhi tenha a chance de eliminara diferença. Isso se parece à maneira como, em 1914, temores alemães com a firme ascensão da capacidade estratégica da Rússia contribuíram para a decisão de Berlim pela guerra na esteira da crise em Sarajevo. Havia uma crença na liderança alemã de que, por volta de 1917, a Rússia completaria seus programas de modernização militar e a janela de oportunidades se fecharia.
Citando a interferência indiana no Tibete e invasões da disputada fronteira do Himalaia, forças chinesas partem para a ofensiva nas áreas fronteiriças e atacam bases aéreas e navais indianas. O ataque à índia significa guerra com o Japão, já que Tóquio e Nova Délhi firmaram um tratado de defesa mútua em 2031. Simultaneamente ao ataque à Índia, a Marinha da China toma as Ilhas Senkaku/Diaoyu.
Em 2032, os americanos retiram suas forças do território japonês, esperando que o pacto Japão-Índia e o fato de o Japão ter-se tornado, em 2029, um Estado com armas nucleares seriam suficientes para dissuadir a China. Os chineses, por sua vez, apostaram que os EUA, parecendo estar em um novo modo isolacionista, não interviriam em favor do Japão. Mas, depois de alguma hesitação, os EUA entram na guerra. Surge dessa maneira a coalizão Indo-Pacífica de EUA, Índia, Japão, e outros aliados contra a China.
A China não está sozinha nessa guerra. Em 2025, China, Rússia, Bielo-Rússia, Casaquistão, Quirguistão, Tajiquistão, Turcomenistão e Paquistão assinaram o Tratado Eurasiano – um pacto de defesa coletiva que se tornou um braço político-militar da Organização de Cooperação de Xangai. A Mongólia foi obrigada a se juntar ao pacto em 2033.
Mas o envolvimento russo direto no teatro Indo-Pacífico é mínimo. Moscou esta mais preocupado com a Europa Oriental, particularmente a Ucrânia, onde forças pró-ocidentais apoiadas pela UE e a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) tentaram retomar o controle sobre a Ucrânia oriental e meridional que, antes da eclosão da guerra na Ásia, haviam sido zonas de influência da Rússia. A Rússia e a UE/Otan, embora não formalmente em hostilidades, estão envolvidas numa guerra par procuração na Ucrânia.
A Coréia, que desde 2027 vem sendo uma confederação de Norte e Sul, permanece não alinhada. Os países do Sudeste Asiático (exceto as Filipinas) também declaram a sua neutralidade, assim como Estados africanos, latino-americanos e do Oriente Médio.
Em termos militares, a 3ª Guerra será muito diferente das grandes conflagrações do século 20. Em primeiro lugar, os principais combatentes serão potências nucleares. Conscientes de que o uso real de armas atômicas resultará no extermínio mútuo, as partes beligerantes se absterão de empregá-las. Isso não será diferente da 2ª Guerra, quando os beligerantes tinham grandes estoques de armas químicas, mas não as usaram pelo temor de retaliações. Mar, ar, áreas montanhosas desérticas, além do espaço exterior e ciberespaço, são os principais campos de batalha da 3ª Guerra.
O que testemunharemos talvez possa ser chamado de uma "guerra mundial light". Neste sentido, ela talvez não requeira a mobilização total de recursos materiais e humanos. Nisso, a 3ª Guerra poderá se assemelhar mais às Guerras ele Sucessão Espanhola e dos Sete Anos no século 18 do que às guerras mundiais "totais" do século passado.
O fato de que a guerra envolverá um nível comparativamente limitado de baixas e não necessitará uma mobilização completa de recursos poderá ter o efeito indesejado de prolongá-la, em comparação com as guerras que só podiam ser lutadas por alguns anos porque os recursos se esgotavam rapidamente.