Cel Swami de Holanda Fontes
A China iniciou sua história há mais de 4.000 anos, com a sociedade primitiva, passando em seguida pelas sociedades escravagista, feudal, semifeudal e semicolonial. A era atual começou em 1949, com a fundação da República Popular da China (RPC).
O país limita-se territorialmente com 14 países, possuindo conflito fronteiriço terrestre com a Índia. Com Taiwan, um Estado insular, há questões políticas de unificação com a parte continental, motivando manobras militares chinesas perto da ilha, sob a justificativa de que realiza exercícios de rotina, o que gera tensão na área.
Mais recentemente, a população de Hong Kong, região administrativa especial chinesa, tem realizado manifestações nas ruas contra algumas leis impostas pelo Congresso Nacional do Povo da China. Ainda, há disputas em algumas ilhas com o Japão, Filipinas e Vietnã (questões de posse no Mar da China Meridional). Internamente, tem problemas de unificação, fruto da existência de inúmeras etnias (56 grupos), propiciando ameaças terroristas em seu solo.
Em toda sua existência, o país enfrentou mais de 1.000 guerras e, nos últimos anos, tem sentido de perto a pressão Norte-Americana, visível nos exercícios militares conjuntos dos Estados Unidos com o Japão, nação vizinha com a qual a China tem forte ressentimento.
Com tantas questões territoriais e políticas, o país tem sua estratégia militar de defesa baseada no pensamento militar que se consolidou graças a sua longa história de vida.
Durante a sociedade escravagista, surgiram os reinos e, por conseguinte, a busca do domínio de um reino por outro, dando início aos primeiros conflitos. Foi nessa época que nasceu o grande estrategista Sun Wu, conhecido mundialmente como Sun Tzu (Sun Wu é o nome de família e Tzu é um tratamento, que significa mestre), autor da importante obra “A Arte da Guerra”, livro atualizadíssimo e de cabeceira de inúmeros estudiosos e líderes militares.
Da antiguidade a 1840 depois de Cristo (DC), os chineses escreveram mais de 3.000 obras sobre a arte militar.
A defesa sempre esteve na pauta dos governantes chineses. Os guerreiros de Terracota e a Grande Muralha são exemplos disso.
Os guerreiros de Terracota ou Exército de Terracota foram construídos em Xi'an durante a Dinastia Qin (primeiro imperador chinês), possivelmente entre 250 e 210 AC. O Exército, composto por mais de 8.000 soldados, cavalos e carruagens em tamanho natural, cuja finalidade era proteger o imperador em sua vida após a morte, somente foi descoberto na década de 70 do século passado.
A Grande Muralha da China, por sua vez, é formada por uma série de fortificações construída em seu extenso território, no sentido leste-oeste, com milhares de quilômetros, possuindo entre várias finalidades, proteger os chineses contra as invasões de povos nômades do Norte, principalmente dos mongóis.
A sua construção é de longa data, mas sua consolidação iniciou-se com a unificação na Dinastia Qin, o mesmo dos guerreiros de Terracota. No século XVII, durante o predomínio da dinastia Ming, os trabalhos de construção se encerraram.
Para se entender a importância da Muralha no campo militar, podemos fazer uma rápida comparação com sua versão moderna, a Linha Maginot, sistema defensivo construído pelos franceses após a Primeira Grande Guerra Mundial.
Atualmente, no seu planejamento estratégico, a China não visualiza uma guerra em grande escala, mas a probabilidade de conflitos armados limitados, com tendência de aumento das ameaças não tradicionais. Considera, em seus estudos, os inúmeros problemas internos, seja a desigualdade social entre a população urbana e rural, questões ambientais, problemas de unificação, etc, seja a desconfiança do resto do mundo sobre suas intenções. Assim sendo, necessita de um ambiente estável e pacífico exterior para solucionar os problemas caseiros.
Segundo a Constituição chinesa e a lei de Defesa Nacional, é a Assembleia Nacional Popular que decide pela guerra ou pela paz, sobre a declaração de Estado de Guerra e sobre a mobilização total ou parcial.
A Comissão Militar Central é o órgão supremo responsável pela direção militar, pelo comando das operações, pela logística, dentre outros.
As Forças Armadas são compostas pelo Exército Popular de Libertação (EPL), pelas Forças de reserva de defesa nacional e pela Polícia Armada. A China conta também com a guerra popular, ou seja, com a participação das massas.
O EPL, até 2017, tinha aproximadamente 2,3 milhões de militares e está reduzindo para 2 milhões até o fim de 2020. Está organizado em Forças Terrestres, Navais, Aéreas e de Artilharia (arma estratégica, composta de mísseis nucleares terra-terra, mísseis convencionais e unidades de apoio).
Em que pese a redução de efetivos, as Forças Armadas estão se modernizando e se reestruturando, possuindo indústrias civis-militares capazes de produzir os meios necessários para a guerra.
Em sua estratégia militar, a China considera o conceito de defesa ativa, a que vence o inimigo com operações ofensivas.
As Forças Armadas são dissuasivas, estão preparadas para evitar o ataque preventivo do inimigo, capacitadas ao contra-ataque, impedindo o segundo ataque.
Se há uma maneira de resumir sua estratégia, pode-se dizer que eles não estão dispostos a iniciar uma guerra. Não serão os primeiros a lançarem seus misseis nucleares, mas, ao serem atingidos pelo primeiro, não deixarão que o inimigo lance o segundo.
As Forças Armadas também estão moldadas para tratar das ameaças de segurança não tradicionais, participar da luta contra o terrorismo, no resgate e socorro nos desastres, na assistência humanitária, na reconstrução diante das calamidades, além de proteger a população.
Apesar de alegar que não tem alianças, possui acordos de cooperação militar com inúmeros países. Cabe destacar a sua atenção ao seu novo projeto, a “Rota da Seda”, em especial a parte marítima, motivando a modernização da sua frota marítima e construção de bases de apoio, como em Djibuti, noticiado como um centro logístico.
A estratégia militar da China pode ser comparada, alegoricamente, com a Grande Muralha, situação estática, denotando uma atitude defensiva, aguardando o ataque.
Por outro lado, o Exército de Terracota representa seus milhões de soldados, na condição de passar rapidamente para uma situação de movimento, realizando a contraofensiva.
Não esqueçamos que os chineses são especialistas em estratégias e que desorientar a estratégia alheia deve ser a primeira “manobra” em um conflito de interesses.
Sabe quem disse no passado que “É de suprema importância atacar a estratégia do inimigo.”?
Resposta: Sun Tzu.
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Sobre o autor: O Cel Fontes é Oficial de Artilharia oriundo da Academia Militar das Agulhas Negras. Possui os seguintes estágios e cursos pelo Exército Brasileiro: estágios de Escalador Militar e de Operações Psicológicas, capacitação em Planejamento Estratégico Organizacional, especialização em Bases Geo-Históricas para Formulação Estratégica, mestrado em Operações Militares e mestrado em Ciências Militares, cursos de Comando e Estado-Maior, Básico Paraquedista e Básico de Inteligência Militar.
Na Agência Brasileira de Inteligência realizou o curso de Noções do Fenômeno Terrorismo e na Escola Superior de Guerra, o Curso de Extensão de Doutrina de Operações Conjuntas. No exterior, especializou-se em Inteligência Estratégica no Instituto de Inteligência das Forças Armadas Argentinas; em Segurança Militar Nacional e Comando na Universidade de Defesa Nacional da China; em Doutrinação Política em Comunicação Social e em Operações em Comunicação Social, estes dois últimos cursos realizados na escola da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), na Alemanha.
Foi analista de inteligência do Ministério da Defesa e analista de Contra-Inteligência no Centro de Inteligência do Exército. Comandou os Grupos de Operações de Inteligência da 3ª Brigada de Infantaria Motorizada em Cristalina/GO e da 16ª Brigada de Infantaria de Selva em Tefé/AM, o Núcleo de Preparação de Oficiais da Reserva do 3º Grupo de Artilharia de Campanha – Regimento Mallet, em Santa Maria/RS, o curso de Artilharia da Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais no Rio de Janeiro/RJ e o 7º Grupo de Artilharia de Campanha – Regimento Olinda, em Olinda/PE. Atualmente é o chefe da Seção de Operações da Divisão de Planejamento e Gestão do Centro de Comunicação Social do Exército.