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Guerra por engenheiros

O engenheiro civil Danilo Oliveira, escolheu sua graduação já pensando em ir para área financeira. Sabia que o setor gostava de contratar profissionais com essa formação. Ao terminar a faculdade, em 2010, foi trabalhar em um fundo de compra de participações em empresas de Angola. "Passei a lidar com fluxo de caixa, em vez de lajes. Porém, o meu chefe sempre ressaltava para os clientes que eu era engenheiro, como uma coisa positiva", conta.

Quando voltou ao Brasil, recebeu proposta para trabalhar na área de finanças de uma construtora, mas resolveu participar de seleções para trainee. No início deste ano, começou o programa de treinamento do Itaú-Unibanco. "Durante a seleção, pelo menos 50% dos candidatos eram engenheiros."

O setor financeiro é um dos favoritos desses profissionais. Segundo pesquisa do Instituto Brasileiro de Executivo de Finanças feita em 2010 com 350 associados, 20% dos associados com até 35 anos de São Paulo se graduaram em engenharia. A área foi a segunda principal origem dos profissionais, atrás de administração, curso concluído por 29% dos entrevistados.

Estimativa do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) aponta que apenas dois em cada sete formandos em engenharia atuam em carreiras típicas da formação. Mas, diferentemente das décadas de 1980 e 1990, quando o Brasil tinha dificuldade de investir em infraestrutura e empurrava os engenheiros para outras ocupações, hoje existem oportunidades para os que querem se manter trabalhando em sua área de formação original.

"Vivemos outros tempos e, agora, o engenheiro qualificado não fica sem emprego. As empresas o disputam ferozmente", afirma o presidente do Conselho Federal de Engenharia e Agronomia, José Tadeu da Silva.

A superintendente de gestão de talentos do Itaú-Unibanco, Maria Carolina Lourenço Gomes, diz que está mais difícil contratar esse tipo de profissional. "A tendência do mercado é que os engenheiros busquem oportunidades nas quais possam aplicar tecnicamente os conhecimentos adquiridos na graduação."

Batalha – A disputa das empresas é ótima para a remuneração do profissional, mas é difícil dizer se ele ganha mais trabalhando em sua área ou buscando outras oportunidades. O gerente da área de engenharia da consultoria de recursos humanos Hays, Roberto Coltro, faz a estimativa com base no Guia Salarial 2012, pesquisa anual elaborada pela consultoria em parceria com o Insper.

"O setor financeiro oferece ótimos salários, mas existem segmentos com muita demanda, como petróleo e gás, que tiveram alta nas remunerações de até 20% acima da média no último ano." Outros fatores, como experiência e formação, também contam na composição de salários.

Segundo ele, o que é possível afirmar com certeza é que existe uma espécie de "encantamento" pelo profissional, mesmo em áreas que não necessitam da formação. "Muitas vezes, temos de explicar para os clientes que existem alternativas para as vagas e que ele não necessita especificamente de um engenheiro. Alguns ficam frustrados e fazem questão do funcionário com a formação", diz o consultor.

O diferencial do engenheiro seria o raciocínio lógico, conhecimento matemático e abordagem sistemática para qualquer tipo de problema. "Eles têm facilidade para aplicar seus conhecimentos em outras áreas e domínio de cálculo complexo, o que lhe dá uma vantagem para lidar com números", explica.

Procurados – Para conseguir encontrar engenheiros, a construtora Cyrela tem uma política agressiva de recrutamento. "Sabemos que existe uma deficiência no mercado, por isso fazemos investimentos para encontrar estagiários que se formem e sigam crescendo na empresa", destaca Celso Alves, gerente-geral de RH da Cyrela São Paulo. Atualmente a companhia tem 366 estagiários de engenharia e 190 profissionais formados atuando no Brasil.

Carlos Grazina, foi um dos que foram "fisgados" ainda na faculdade. Começou a trabalhar para a companhia quando ainda faltavam dois anos para terminar o curso de engenharia civil na Universidade Camilo Castelo Branco.
 
Passou os anos aprendendo o ofício nas obras e se aprimorando, até se formar em 2006 e ser contratado. "Eu tinha o desejo de trabalhar na área e vi que a empresa permitia crescimento, o que contou muito para mim", diz Grazina.

Ele fez um curso de MBA de gestão e tecnologia de construção, financiado pela construtora, e foi promovido ao cargo de gerente de obras da Cyrela São Paulo em 2010. "Sei que o mercado está aquecido e já recebi propostas tentadoras de concorrentes, mas preferi apostar no plano de carreira da empresa."

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