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GenEx Pinto Silva – Guerra Híbrida no Contexto Brasileiro


Gen Ex Carlos Alberto Pinto Silva[1]

 
Violência preparada para exercer um fim fundamentalmente político, ou qualquer tipo de agressão organizada que procura causar dano, visando interesse político, leva a Guerra Híbrida, nova Via Violenta para a Tomada do Poder.

1. Poder Nacional:

Conjunto integrado de meios de toda ordem de que dispõe a nação, acionados pela vontade nacional, para conquistar e manter os objetivos nacionais.

O conceito aludiu ao conjunto completo de ferramentas à disposição do Poder Nacional e à seleção da ferramenta ou da combinação de ferramentas adequadas para cada situação: meios Diplomáticos, Jurídicos, Militares, Políticos, Econômicos, e Psicossociais[2].  

2.  Revoluções Coloridas:

Ocorridas a partir dos anos 2000, a maior parte dos casos bem sucedidos de revoluções coloridas aconteceu em países com democracias recentes, ou em processo de democratização, na área de influência ou no território da antiga União Soviética, sendo que o principal resultado efetivo foi a derrubada de governos pró-Rússia e a ascensão ao poder de grupos ou partidos políticos pró-Estados Unidos. Alguns autores consideram que tais revoluções foram patrocinadas diretamente pelos Estados Unidos, enquanto outros defendem que isso só foi possível devido à existência de movimentos de oposição locais ou nacionais.

Estas manifestações têm em comum o uso de ação direta, da resistência não violenta (de acordo com os seus adeptos), de um discurso democratizante, liberalizante e pró-ocidental, destacando-se também o papel central de mobilização desempenhado por algumas ONGs, organizações estudantis e pela mídia.

Para alguns autores,a Revolução Colorida nada mais foi que o primeiro estágio daquilo que se tornaria a Guerra Híbrida.

3. Teoria do Caos:

A ideia central da teoria do caos estabelece que fatores insignificantes, distantes, podem eventualmente produzir resultados catastróficos imprevisíveis e absolutamente desconhecidos no futuro.Por isso, tais eventos seriam praticamente imprevisíveis e caóticos.

O Efeito Borboleta[3]  é uma expressão utilizada na Teoria do Caos para fazer referência a uma das características mais marcantes dos sistemas caóticos: a sensibilidade nas condições iniciais.

Violência preparada para exercer um fim fundamentalmente político, ou qualquer tipo de agressão organizada que procuracausar dano, visando interesse político, leva a Guerra Híbrida, nova Via Violenta para a Tomada do Poder.

Acontece que muitas vezes ficamos sem reação em um período de comodidade ou acomodação. Cônscio ou irrefletidamente sabemos o que precisa ser feito e alterado, mas nos falta força de vontade ou hombridade. Então surge a figura do caos, da desestabilização e a desagregação da máquina do Estado, e como os dedos do caos são compridos, muitas vezes não conseguimosperceber precisamente o que ele nos traz, fazendo com que a dúvida e a insegurança dominem todas as ações e a nossa capacidade de indignar-se e reagir.

“Especialistas ligados às ciências humanas, entretanto, identificam o dedo do caosem revoluções políticas, em transformações econômicas e na modificação de costumes e regras morais.”[4] 

4. GUERRA HÍBRIDA.[5]

Mas, afinal, o que é a Guerra Híbrida? Pode-se cogitar ser elaum conflito no qual os atores, Estado ou Não-Estado, exploram todos os modos de guerra simultaneamente, empregando armas convencionais avançadas, táticas irregulares, tecnologias agressivas, terrorismo e criminalidade, visando desestabilizar a ordem vigente.[6]

A Guerra Híbrida, para a conquista do Poder, pode ser interpretada com a militarização da teoria do caos.

Essa nova forma de conflito, em geral, desperta emoções mais intensas e dolorosas do que os tipos convencionais de guerra. Em parte porque o maior número de vítimas é de civis, em sua maioria mulheres e crianças, normalmente não envolvidos ou indiferentes ao conflito.

É desencadeada no Campo Externo[7] (busca de apoio político e recursos militares) e Interno do país.

a.  1ª Fase: Campanha de Preparação.

Visa à desestabilização e a degradação da máquina do Estado antes do “golpe da força”.

Na campanha de preparação da Guerra Híbrida para a conquista do Poder, a percepção da influência de uma extensa “classe média não engajada” é capital para chegar ao sucesso, de forma que esses não engajados tornem-se, mais cedo ou mais tarde, contrários a seus líderes políticos. O processo (campanha de preparação) inclui tudo, de “apoio à insurgência” a “aumento da insatisfação por meio de propaganda e esforços políticos e psicológicos para desabonar o governo”. E conforme cresce a insurreição, cresce também a “intensificação da propaganda; e a preparação psicológica da população para a revolta armada”.[8]

b.  2ª Fase: Passagem às atividades de Guerra Híbrida: Início da fase violenta para a conquista do Poder:

Desenvolvimento da fase violenta trata-se:

– “De uma fusão de soldados com e sem uniforme, paramilitares, táticas terroristas, ciberdefesa, conexões com traficantes de drogas, insurgência urbana e fuzis AK-47”. “É uma combinação de meios e instrumentos, do previsível e do imprevisível. Não há fronteiras entre o legal e o ilegal, entre a violência e a não violência. Não há uma distinção real entre guerra e paz.”[9] 

 – A Guerra em Rede pode ser composta por conflito travado contra um estado por terroristas, criminosos, ou por grupos militantes da sociedade civil – Guerra em Rede Social (GERS).

Um dos fatores mais relevantes que contribui para incentivar, atrair e agregar a população aos atos preparatórios e de violência de Guerra Híbrida é o uso das mídias sociais como meio de comunicação e propagação de informações.

Ainda, o malware[10]  serve para chamar atenção para o potencial destrutivo real que um ataque cibernético pode causar.A definição de guerra híbrida de Frank Hoffman inclui exatamente “Operações psicológicas que utilizam as mídias sociais para influenciar a percepção popular e a opinião internacional”.[11] 

“Os zapatistas não teriam resistido mais que algumas semanas não fosse esse maciço suporte propagandístico e logístico proporcionado pelo aparato internacional de ONGs, o que levou alguns estudiosos a qualificar a insurgência como a primeira experiência bem sucedida de uma “netwar”. Nesta nova modalidade de guerra irregular, as ONGs utilizam-se de faxes, teleconferências (netmeetings), mensagens eletrônicas (e-mails), pagers e telefones celulares para coordenar campanhas, divulgar ordens e pronunciamentos etc.”[12]

– A Guerra Psicológica Midiática é realizada por especialistas em guerra psicológica infiltrados na sociedade civil. Esses expert se aproveitam do fato midiático, obtido por intermédio do emprego planejado da propaganda e da ação psicológica, para direcionar a conduta das pessoas.

Na Guerra Psicológica o alvo prioritário passa a não ser mais o terreno físico, mas o cérebro dos indivíduos, e o objetivo final, a sua mente. As táticas e estratégias militares convencionais são substituídas por táticas e estratégias de controle social, mediante a manipulação informativa e a ação psicológica orientada para direcionar a conduta social em massa.[13]

Uma guerra psicológica altamente sofisticada particularmente através da manipulação da mídia; a televisão tem contribuído muito para isso e altera o provérbio chinês: “Mata um e assustarão dez mil” para “Mata um e assustarão dez milhões”.

– O letal terrorismo urbano para coerção e/ou intimidação do governo, autoridades e da sociedade.

Os terroristas empregam a liberdade e a abertura existentes numa sociedade livre contra essa mesma sociedade. Se os tratamos conforme mandam nossas leis, ganham muita proteção; se simplesmente os eliminamos, o noticiário da televisão poderá facilmente fazê-los parecer vítimas. Com efeito, os terroristas podem levar a cabo seu estilo de guerra e, ao mesmo tempo, serem protegidos pela própria sociedade que atacam.

O terrorismo não é precisamente o mesmo que violência. O terrorismo busca, pelo uso da violência ou pela ameaça de violência, coagir o inimigo. A televisão tem contribuído muito para isso.

Conclusão.

1. Uso do Poder Eficaz: é de grande importância o uso inteligente, eficaz e integrado do conjunto completo de ferramentas[14] à disposição do Poder Nacional, e ainda a seleção da ferramenta ou da combinação de ferramentas adequadas para cada situação que se dispõe para enfrentar as ameaças híbridas.

O governo e os Comandantes (Lideres Militares) devem prever as necessidades continuamente, para operar em face de crises ou conflitos híbridos.

Toda Força Terrestre deve ter uma estrutura de comando e controle flexível para atuar num espectro amplo e novo de operações convencional, assimétrica, irregular, híbrida e de novas ameaças.

A complexidade do amplo e novo espectro de operações (convencional, assimétrica, irregular, híbrida e de novas ameaças) irá exigir emprego de tropa a soldados que se pareçam com as Forças Especiais de hoje. Tendo em vista a inexistência de um adestrado contingente de FE suficiente para atender a todas as operações, e como isso não pode ser atendido da “noite para o dia”, deve ser estabelecida uma alternativa eficaz.

Uma ideia seria criar um padrão do combatente híbrido. Fazer com que nossas tropas dominem um repertório tático o mais completo possível (multifuncional), sendo capazes de lutar utilizando ao máximo seus próprios meios e dependendo menos do apoio logístico de retaguarda.

A cima referimo-nos à versatilidade: capacidade de as unidades combatentes enfrentarem vários desafios, decorrentes das diferentes missões que lhes podem ser atribuídos no combate moderno. E, ainda, a capacidade que unidades no nível tático apresentam de se adaptarem a diferentes missões e tarefas, muitas das quais inopinadas, e que não fazem parte das atribuições normais da organização. Da mesma forma, em nível individual, os combatentes deverão ser “multifuncionais”, ou seja, ser capazes de desempenhar funções diversificadas no âmbito de suas frações.

Ressaltamos a importância da autossuficiência que é um atributo dos mais significativos e se baseia em elevados níveis de autoconfiança, disciplina, fé, coesão e eficácia. Pressupõe a existência de capacidades e habilitações individuais e coletivas altamente desenvolvidas, não encontradas em tropas pouco adestradas.

2. Links de artigos relacionados ao assunto Guerra Híbrida no Brasil:
 

· GUERRA HÍBRIDA, Nova via Violenta para a Tomada do Poder
· Neo Terrorismo Urbano – Inteligência militar e policial se mobilizam
· A Guerra em Rede Social e a Situação Atual no Brasil.
· Governo brasileiro financiou grupos extremistas no exterior.
· Guerra Híbrida – É a guerra de Putin. Seria a guerra do Maduro? Seria a guerra do Evo Morales?

 

É importante para a Defesa do Estado Democrático de Direito no Brasil, entender, discutir e difundir o assunto: Guerra Híbrida, Nova Via Violenta para a Tomada do Poder.
 


[1] Carlos Alberto Pinto Silva / General de Exército da reserva / Ex-comandante do Comando Militar do Oeste, do Comando Militar do Sul, do Comando de Operações Terrestres, Membro da Academia de Defesa e do CEBRES.
[2] Diplomáticos e Jurídicos – Persuasão – poder brando, e Militares, Políticos, Econômicos, e Psicossociais – coerção e/ou intimidação – poder bruto.
[3] O fenômeno da sensibilidade em relação a pequenas perturbações nas condições iniciais foi descrito através de uma alegoria, apelidada de Efeito Borboleta, segundo a qual o bater de asas de uma borboleta no Brasil pode desencadear uma sequência de fenômenos meteorológicos que provocarão um tornado no Texas.

[5] Disponível em  http://www.defesanet.com.br/gi/noticia/23752/GUERRA-HIBRIDA–Nova-via-Violenta-para-a-Tomada-do-Poder/

[6]  Frederico Aranha Advogado e Historiador
[9] Diz Félix Arteaga, pesquisador de Segurança e Defesa do Real Instituto Elcano.
[10] O "malware", termo do inglês "malicious software" (software nocivo ou software malicioso), é um software destinado a infiltrar-se em um sistema de computador alheio de forma ilícita, com o intuito de causar alguns danos, alterações ou roubo de informações (confidenciais ou não).
[11] HUNTER, E., PERNIK, P: The Challenges of Hybrid Warfare. ICDS Analysis. 2014.
[12] COSTA, Nilder. As ONGs e a 'netwar'[on line]. Rio de Janeiro, 26 de março de 1999. [data da consulta: 30 de setembro de 2009]. Disponível em: http://www.alerta.inf.br/Geral/938.html.
[14] Diplomáticos e Jurídicos – Persuasão – poder brando, e Militares, Políticos, Econômicos, e Psicossociais – coerção e/ou intimidação – poder bruto.

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