COMO AS ELEIÇÕES AMERICANAS INFLUENCIARÃO O FUTURO DO BRASIL
Gen Ex R1 Maynard Marques de Santa Rosa
1. Primeiramente, precisamos considerar como pensam e agem os americanos
O diplomata George Kennan, que foi inspirador da doutrina da contenção na Guerra Fria, escreveu em suas memórias que os traços mais marcantes da política americana de relações exteriores são: egocentrismo, introversão neurótica e a tendência para tomar decisões considerando os efeitos sobre a opinião pública interna e o apoio do Congresso, sem levar em conta a cena internacional. Ele destacou ainda a aversão inata dos americanos a tomar decisões específicas sobre problemas diplomáticos. Preferem respaldá-las em doutrinas universais ou em fórmulas gerais que justifiquem ações particulares. Sobre isso, comentou: “Até hoje, não estou bem certo quanto à origem dessa necessidade. Suspeito que seja um reflexo do quanto somos um povo dado a governar mais por leis do que segundo o discernimento do Executivo. Trata-se de uma tendência desastrosa, que impede e distorce o processo decisório”.
Há também um viés messiânico, que leva o Estado a agir como polícia do mundo e a tentar impor os seus princípios sobre os outros povos, como no caso da ideologia dos direitos humanos. Porém, os EUA sempre observaram o princípio inspirado por um de seus patriarcas históricos: “Um país não tem amigos, mas interesses”.
As ideias que dividem a opinião pública americana tendem a se polarizar de forma maniqueísta, como o bem e o mal, o certo e o errado. No final, acham sempre uma solução pragmática. Lembrando que a filosofia do pragmatismo foi uma criação americana, talvez para cumprir a tendência natural à harmonia. O filósofo Leibnitz chegou à conclusão de que a harmonia é uma lei natural.
2. Atualmente, os americanos estão polarizados.
O Partido Democrata é globalista,enquanto os republicanos são nacionalistas. Os democratas são progressistas, isto é, construcionistas sociais; os republicanos são conservadores. Na economia, os democratas representam o sistema financeiro, e os republicanos defendem a economia física.
Joe Biden é um político profissional. Está com 77 anos de idade. Em 1988, teve um AVC e passou por cirurgia do crânio. Eventualmente, apresenta episódios de gagueira. Não é carismático, e a sua imagem pública lembra uma espécie de Alckmin americano. No entanto, conta com o apoio maciço dos magnatas que controlam o sistema financeiro e a mídia tradicional, como as redes CNN e NBC e os periódicos New York Times e Washington Post. A candidata Kamala Harris é uma militante feminista.
O presidente Donald Trump é excêntrico, porém carismático. Defende a economia real e a lei e a ordem, contrapondo-se ao progressismo extremista dos movimentos Black Lives Matter, Antifas e Black Blocks, que ele procura colar na imagem dos democratas. Usa muito bem as redes sociais para confrontar a mídia tradicional.
As pesquisas de opinião apresentadas na mídia são tendenciosas e não confiáveis. Na eleição passada, houve um único jornal da Costa Oeste que publicou a vantagem de Trump, o Los Angeles Times. No Brasil, a imprensa distorce a notícia, colocando os democratas sempre à frente. Na semana passada, vi uma só nota divergente, no Blog do Ricardo Noblat, de que Trump estava revertendo a campanha. Depois, uma postagem comentando as últimas entrevistas dos dois candidatos, na semana passada. O público que assistiu Donald Trump era dez vezes maior do que o que assistiu à de Joe Biden.
Ao aproximar-se o final da campanha, entrou a fase dos escândalos. A munição são os prontuários secretos. Os democratas já publicaram as declarações de renda de Donald Trump. O vice-presidente Mike Pence antecipou rumores sobre as ligações telefônicas de Hillary Clinton. E há o dossiê oculto dos negócios de Hunter Biden, filho de Joe Biden, na Europa Oriental.
É previsível uma radicalização das partes neste final de campanha. O risco de explosão da bolha da dívida global, por efeito da crise do coronavírus, deve exacerbar as pressões democratas contra Donald Trump, que usará todos os meios possíveis para se reeleger.
3. As relações Brasil x EUA têm sido tradicionalmente cordiais, com alguns episódios
de tensão. Em 1966, no governo democrata de Lyndon Johnson, o Brasil atendeu aos americanos, para intervir na crise da República Dominicana em nome da OEA. A pressão sobre o Brasil em relação aos direitos humanos ocorreu no governo democrata de Jimmy Carter. A pressão ambiental como contrapartida à renegociação da dívida externa foi no governo republicano de Ronald Reagan.
Donald Trump tem adotado uma postura ambígua, porém amigável em relação ao Brasil. Joe Biden fez ameaça de pressão ambiental sobra a Amazônia, empunhando a bandeira de um filão de eleitores globalistas.
Após a eleição, o humor das relações vai depender da opinião “mainstream” que prevalecer.
A diplomacia brasileira precisa largar o complexo de colônia. O Brasil já é uma potência agrícola e pecuária global em um contexto mundial de carência alimentar. O governo precisa patrocinar propaganda brasileira dentro do mercado americano. A autoconfiança nacional seria uma conquista inestimável, que iria contribuir para equilibrar as relações bilaterais com o Big Brother americano.
Finalmente, o meu palpite é que Donald Trump se reelege.