IDEIAS DE NICOLAU MAQUIAVEL E A ATUALIDADE POLÍTICA BRASILEIRA.
Princípios que um governante precavido deveria ter apercebido.
Gen Ex R1 Carlos Alberto Pinto Silva
Existe um pequeno número de princípios fundamentais da política de um governo, dos quais não se pode desviar sem perigo e cuja aplicação ao contrário, tem sido em quase todos os tempos coroada de sucesso.
As máximas de aplicação, que derivam desses princípios são também em pequeno número, e se elas se acham às vezes modificadas segundo as circunstâncias, podem, não obstante, servir como uma bússola a um governante para orientá-lo na tarefa sempre difícil e complicada de um governo de um país no meio da desordem e do tumulto político, econômico, social e de segurança pública.
“O Príncipe” – Nicolau Maquiavel – é uma obra muito rica, tem o poder de inspirar no campo político interpretações, recriações e ampliações de ideias. Vejamos alguns de seus preceitos:
“São estas as regras que um príncipe avisado convém observar:
– Começarei por dizer que o príncipe deve, em geral, abster-se de praticar o que quer que o torne detestado ou desprezível. Assim fazendo, cumprirá sua missão e eliminará o risco porventura resultante dos seus outros defeitos, O que acima de tudo acarreta ódio ao príncipe é, como disse, ser ele rapace (ladrão) e usurpar os bens e as mulheres dos súditos.
– Para um príncipe não é de pouca importância saber escolher os seus ministros, os quais são bons ou não conforme a sabedoria de que ele usou na escolha. A primeira opinião que formamos de um príncipe e da sua inteligência firma-se na qualidade dos homens que o circundam.
– Quem não lança os alicerces primeiro, com grande virtude, poderá estabelecê-los depois, embora isto represente um grande esforço para construir e um perigo para o edifício.
– Em vez de permanecer ocioso durante os anos de paz, deve esforçar-se por acumular cabedais que lhe sejam úteis no infortúnio, a fim de, em mudando a sorte, estar preparado para resistir aos golpes.
– Quem, portanto, se torna príncipe com o favor do povo deve conservá-lo seu amigo; e isto não lhe será difícil, já que o povo só deseja estar livre da opressão. Mas quem chega a essa altura com a proteção dos poderosos, e contra a vontade do povo, busque antes de mais nada, captar a simpatia destes, o que não será difícil quando o puser sob sua proteção.
– Tendo necessidade de proceder como animal, deve um príncipe adotar a índole ao mesmo tempo do leão e da raposa, porque o leão não sabe fugir das armadilhas e a raposa não sabe defender-se dos lobos. Assim cumpre ser raposa para conhecer as armadilhas e leão para amedrontar os lobos.
– Saber decidir conforme suas qualidades e as variações das circunstâncias, esta é chave do sucesso. Mas não basta saber a receita, é preciso também ter sensibilidade para preparar o bolo. E, ainda, segundo Maquiavel acima de tudo audácia. Entre o ímpeto e a cautela, ele recomenda ímpeto nos momentos decisivos.
– O príncipe não pode, com efeito, estribar-se no que vê em tempos tranquilos, quando os cidadãos precisam do estado: aí todos se mostram pressurosos. A maioria, porém, desaparece ao chegar a tempestade, justamente quando o estado precisa dos cidadãos.
– Aos heróis do passado clássico, pelo menos, um ponto comum entre eles faz a diferença: ousadia pela busca de soluções inovadoras e criativas para a política do seu tempo.
– Qualquer mudança deixa sempre pedras de espera para a realização de outra.
– Quem impede os males com bastante antecedência pode, sem grande esforço, dar-lhes remédio; quem espera, porém, que eles se aproximem, inutilmente tentará enfraquece-los; a doença tornou-se incurável. E ocorre com esta o que os médicos dizem a respeito da tuberculose; isto é, ser ela no princípio fácil de curar e difícil de perceber, mas, se não foi percebida e tratada no início, torna-se, com o andar do tempo, fácil de perceber e difícil de curar. O mesmo se dá com os negócios do Estado, quando se consegue distinguir os males quando apenas começam a surgir, fácil é destruí-los; quando, porém, tendo passado despercebidos, se desenvolverem até o ponto de serem visíveis de todos, já não há como combatê-los.”
Outras ideias correlatas:
– Cargos políticos tem pouco peso até que seus ocupantes provem sua competência e legitimidade. Toda autoridade precisa ser conquistada antes de ser exercida.
– Devemos considerar que a carreira política não é apenas uma escada de cargos, mas uma crescente reputação por fazer as coisas acontecerem, e onde a influência sobre a sociedade tem grande valor para legitimar e apoiar a autoridade no cargo.
– De repente a multidão se tornou visível, vê, ouve, pode entender tudo e reagir, apoiada pela nova propaganda boca a boca (Internet) da era da informação.
– A atual conjuntura apresenta um inconformismo com a situação política, econômica e social, é grande o repúdio aos políticos de uma maneira geral, tudo isto transforma dificuldades em desafios, na busca de atingir resultados na luta política.
– Os governantes da atualidade não podem mais se isolar. Os políticos do passado quase sempre levantaram muros. Agora os muros precisam ser destruídos e substituídos por pontes com a sociedade.