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Gen Ex Etchegoyen – O longo Século 20

 

General-Exército R1 Sérgio W. Etchegoyen

Jornal NH

24 Setembro 2022

 

O título deste artigo não pretende contestar a obra na qual Eric Hobsbawm define os limites daquele período como os 75 anos passados do início da 1ª Guerra Mundial à dissolução da União Soviética (URSS), razão pela qual a nomeou de O Breve Século 20. Muito além de polemizar, o que pretendo é convidar o leitor para uma visão do século passado sob a perspectiva não dos fatos, mas da permanência de suas consequências e do surpreendente rebrote de questões mais do que centenárias que voltam a agitar a cena internacional.

 

A invasão dos nossos tempos pelas águas caudalosas do denso século 20 poluem intensamente o estuário deste novo milênio, estendendo a mancha dos dejetos de seus conflitos mal resolvidos e das contradições das lógicas que embasaram as disputas de poder de então.

As causas da invasão russa na Ucrânia, por exemplo, se espalham por eventos remotos, recentes e imediatos que podem ser encontrados desde o longínquo século 17, passando pela Revolução Bolchevique de 1917, a queda da URSS há pouco mais de 30 anos e chegando à expansão da Organização do Tratado do Atlântico Norte.

 

A guerra que assistimos no coração da Europa tomou nesta semana contornos de extrema dramaticidade, ao trazer de volta o perigo do conflito nuclear que de 1950 a 1991 tentava manter a paz mundial sob a ideia macabra do chamado Equilíbrio do Terror.

 

A ameaça feita pessoalmente por Vladimir Putin de recorrer ao arsenal atômico, associada à condução de uma guerra de desmembramento e de conquista de território de estado soberano significam, como já dito em artigo anterior, a falência definitiva do sistema de segurança internacional baseado, essencialmente, no Conselho de Segurança da ONU e no Tratado de Não Proliferação Nuclear.

 

Por outro lado, o decreto de mobilização de 300 mil reservistas (mais de uma vez e meia o Exército Brasileiro!) para fazer frente à surpreendentemente exitosa contraofensiva ucraniana, aponta para o prolongamento do conflito, enfraquece o apoio de uma sociedade traumatizada pela perda de 27 milhões de vidas na 2ª Guerra Mundial e atrai perigosamente para a pessoa do líder russo o centro de gravidade da solução do confronto, em um país com forte histórico de líderes acometidos por suspeitíssimas, galopantes e letais enfermidades, misteriosos desaparecimentos e suicídios inexplicáveis.

 

A Covid e as mudanças climáticas escancararam a crua realidade da prevalência dos interesses nas relações internacionais. A União Europeia reclamou de dificuldades para obter vacinas nos países produtores e ameaçou processar o Reino Unido para que cumprisse as entregas contratadas.

A tão decantada consciência ambiental do Velho Continente não resistiu a uma semana de banhos frios e determinou o acionamento das poluidoras usinas termelétricas a carvão. Tudo isso num mundo perigosamente inseguro.

 

Neste momento extremamente complexo, em que qualquer certeza será imprudente precipitação, pode-se ter algumas suspeitas e a mais importante delas é que caminhamos rapidamente para profundas mudanças na distribuição do poder mundial. As escolhas que temos pela frente nos manterão ancorados num passado que nos assombra ou poderão abrir as portas de um futuro mais próspero.

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