Daniel Michaels
WSJ
O audacioso projeto de fundir a controladora da Airbus, European Aeronautic Defence & Space Co. e a gigante britânica dos equipamentos de defesa BAE Systems PLC está se configurando como muitos outros projetos pan-euro-peus arrojados: um teste da disposição de cada país de subordinar seus próprios interesses em prol do continente como um todo.
Desta vez, a disputa é entre criar uma grande potência industrial mundial ou preservar os empregos de cada país, em meio à pior crise econômica da Europa em décadas.
Os defensores da proposta dizem que a fusão das duas empresas, formando o maior grupo aeroespacial e de defesa do mundo, em receita, criaria um campeão na Europa, mais reforçado para competir contra as americanas Boeing e Lockheed Martin Corp. Eles também argumentam que integrar as divisões de defesa e de aviação civil das duas empresas ajudaria a compensar as oscilações do mercado, elevar a qualidade tecnológica do grupo e preservar postos de trabalho em toda a Europa.
Uma gigante europeia da defesa também poderia incentivar as forças armadas da região a cooperar mais e aumentar a eficiência em seus contratos militares. A Agência Europeia de Defesa, responsável pela política militar da UE, tem tido sucesso apenas limitado nas tentativas de unificar aquisições dentro do bloco.
"O benefício de um mercado menos fragmentado é óbvio", disse recentemente o diretor-presidente da AED, Claude-France Arnould, sem comentar sobre os méritos da proposta EADS-BAE.
Mas para alcançar esses objetivos é preciso, em primeiro lugar, que os políticos da Grã-Bretanha, França e Alemanha deem uma demonstração de confiança. Eles precisam ceder sua autoridade atual a uma entidade pan-europeia que pode não compartilhar suas prioridades nacionais.
O diretor-presidente da BAE, Ian King, e seu colega na EADS, Tom Enders, argumentaram que o acordo proposto é benéfico para a Europa. "Ambas as empresas estão convictas de que é a coisa certa a fazer para […] os países envolvidos", disse Enders na segunda-feira.
Mas os políticos ainda não estão convencidos, em especial em Berlim. Autoridades alemãs dizem que os benefícios da fusão para a base industrial alemã não são atraentes o suficiente para que o país ceda sua atual posição de predomínio.
A principal preocupação dos políticos não é a lógica financeira do negócio, embora alguns também questionem esse aspecto. O grande problema é a necessidade de haver paridade com a França no grupo combinado.
Hoje, a França detém 15% da EADS, através de um consórcio que controla a empresa e inclui o grupo francês de mídia Lagardère SCA e a montadora alemã Daimler AG. Autoridades francesas já disseram que não vão vender suas ações da Eads, que seriam equivalentes a 9% da nova empresa. A Alemanha não tem ações da EADS, mas exerce uma influência significativa sobre as decisões da Daimler quanto à sua participação.
Autoridades alemãs dizem que estão preocupadas porque os políticos franceses costumam envolver-se em questões administrativas internas de empresas francesas a fim de promover seus interesses nacionais. Já em Berlim o medo é que, se a Alemanha não conseguir contrabalançar a influência francesa, o trabalho da Airbus que agora se realiza na Alemanha pode acabar se transferindo para outros lugares.
A EADS agora emprega cerca de 48.000 pessoas em cada país, dos quais mais da metade trabalha na Airbus. Fornecedores locais em ambos os países empregam outras dezenas de milhares de trabalhadores.
Uma autoridade alemã familiarizada com as negociações disse que a questão principal para a chanceler Angela Merkel e seu círculo interno é "de que modo essa fusão afetaria a indústria alemã e, em particular, como afetaria as empresas alemãs de médio porte", que fornecem muitas peças importantes para o setor aeroespacial.
A EADS e a BAE tentaram aplacar as preocupações nacionais propondo dar aos governos britânico, francês e alemão ações especiais da nova empresa, com direito de veto sobre eventuais ofertas de aquisição e atividades polêmicas, tais como programas de armas nucleares. Mas os políticos alemães acham que a proposta não tem garantias suficientes.
O presidente francês François Hollande e o primeiro-ministro britânico David Cameron não comentaram sobre a proposta, mas pessoas familiarizadas com as negociações disseram que seus respectivos governos são mais favoráveis do que o círculo de assessores de Merkel.
Enders disse que ele e King precisam que os governos indiquem se o negócio parece possível até quarta-feira, prazo fixado pelos reguladores britânicos do mercado de valores mobiliários para apresentação de uma proposta formal.
Declaração Conjunta EADS – BAE Systems
By Ian King, Chief Executive BAE Systems and Tom Enders, Chief Executive EADS
It is more than two weeks since news emerged that BAE Systems and EADS are considering a combination which would create a world class defence, aerospace and security group. Since then, much has been said on the subject. It has been analysed and interrogated from every conceivable angle by politicians, pundits and competitors alike, not least in the columns of this newspaper.
Inevitably, as our discussions with several governments continue, we are not yet in a position to tell the full story and explain the significant benefits of the combination to our shareholders, employees, and other stakeholders who rightfully have an interest in the outcome of our discussions.
But it is important to correct some myths and misconceptions.
The first thing to say is that this is a combination borne out of opportunity, not necessity. BAE Systems and EADS are both strong businesses with clearly defined strategies that have enabled them to make progress in the last five years, and which would take them forward as independent companies.
But there comes a time when it is right to seize the moment and to create something that is even stronger and better. We believe that time is now. With the necessary political will and support, management determination, and proper governance, BAE Systems and EADS can produce a whole that is greater than the sum of its parts. Together, we would become a business with a global footprint, and a wider customer base. We would be able better to ride the cycles of civil aviation demand and defence spending. And we would be a business with the scale and stability to invest more in R&D, and a force for greater competition and growth. All of this would deliver tangible benefits to our customers in each of the defence, aerospace and security worlds.
The rationale that drives this transaction is growth, not contraction. BAE Systems and EADS operate in complementary markets. Clearly, there will be scope for efficiency savings when two companies of our size come together, but great benefit will derive from our ability to exploit new business opportunities. That has to be good for jobs and economic prosperity in the long term. It would also mean that we can ensure our key markets stay at the cutting edge of technological development.
We are working hard with our respective governments on this combination. As we said in our initial announcement, we are very focused on agreeing arrangements which protect the strategic and national security interests of the governments with which we work, particularly in France, Germany, the United Kingdom and the United States, given the importance of those markets to the combined group. We propose to replace the shareholder arrangements which currently give Daimler, Lagardère and the French state joint control over EADS.
That would mean creating a business with governance structures which would enable it to operate in a normal commercial manner and which confers the same rights on all shareholders, large and small.
We believe that a combination on these terms would provide the best strategic opportunity for our organisations, with world class management, technology, investment capability and customer access, to the benefit of all our stakeholders.