FABIO COSTA PEREIRA
Tribuna Diária 04 Agosto 2020
No Brasil, nos últimos tempos, temas, comportamentos e assuntos bombásticos têm sido jogados, pelas diferentes mídias e formadores de opinião, no colo da sociedade como verdadeiros mísseis teleguiados prontos para impactar o alvo e abalar as suas estruturas. No caso, o alvo ou os alvos somos todos nós e os valores que nos informam como amálgama social.
Temas e assuntos que, até há pouco, a sua menção sequer era imaginável, de tão abjetos que o são, tornaram-se os “dispositivos explosivos” arremessados no colo da inadvertida população para, ao depois de sua inicial rejeição, ingressar-se em uma fase de seu debate, passando à tolerância ao tema e da conduta dantes abjeta, atingindo-se o seu ponto de normalização e aceitação.
Assim, por exemplo, o odiar e querer todos os malefícios a alguém ou a um grupo de pessoas que pensam diferente, inaceitável em uma sociedade democrática, hoje, sob a roupagem do “ódio do bem”, tornou-se tolerável.
Não raras vezes, nas redes sociais, vemos a reverberação do “ódio do bem” aos fascistas, assim entendidos todos que pensam diferente dos sedizentes anti-fascistas, e da proposta de sua exterminação concreta sem que isso cause maior indignação.
A Pedofilia , desprezível por sua própria natureza, tem sido trazida ao debate pelos libertários de plantão ao palco do debate.
Após as contrárias reações iniciais, atualmente já se a nomina de amor intergeracional, buscando-se a aceitação do que anormal o é , para, depois, normalizar-se a conduta.
Outro tema tabu, em especial no Brasil após o final dos governos militares, a censura da livre expressão, está a ser discutida e, o pior de tudo, em processo de franca implementação.
Vestida com a roupagem do combate às “fakenews”, toda e qualquer expressão do pensamento com a qual não concorde o censor, a censura está a ser retomada, contando, no momento, com muitas vítimas.
É o que, em forma de neologismo, podemos chamar de “Overtização” do Brasil.
Joseph Paul Overton, falecido precocemente no ano de 2003, aos 43 anos de idade, criou a Teoria chamada de Janela de Overton.
Segundo o seu criador, a Janela de Overton é uma hábil maneira de se manipular a opinião pública.
Em síntese, todo e qualquer tema se enquadra em um espectro que vai do absolutamente intolerável até o absolutamente aceitável.
Dentro deste espectro se situa a opinião pública, em uma janela própria, a qual não só é mutável como é, principalmente, manipulável.
Sempre que trazemos a conhecimento geral um assunto que a opinião pública rejeita , ainda que as reações iniciais a ele sejam negativas, o simples fato deste ser falado, já importa na vitória de quem o trouxe a conhecer.
Ao longo do tempo os debates efervescentes vão diminuindo a intensidade e os ponderados de ocasião passam a obtemperar pela necessidade de se ouvir argumentos em contrário.
Aos poucos, o que a princípio era intolerável, tolerável e aceitável passa a ser.
Dessa simples forma, sem muito esforço, a opinião pública é manipulada e os fins objetivados pelos manipuladores atingidos.
Enfim, a Janela de Overton, cujos vidros são opacos à percepção geral, no Brasil tem sido estilhaçada dia após dia sem que nos demos conta.
Pelo andar da carruagem, a Janela de Overton, em breve, tornar-se-á em uma imensa porteira por onde outras pautas pseudo-progressistas passarão.